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Quatro meses antes da expulsão.

Um único pingo de água cai no meu lábio inferior. Passo a língua sobre os lábios trazendo aquela minúscula água para a boca. Iria chover. Era certo. O céu estava livre de estrelas, o vento quando batia na minha pele fazia-me arrepiar. O ar tinha ficado gradativamente mais frio até ficar como está agora. Estava tão frio que os meus dentes batiam.

Havia somente uma parte quente no meu corpo, minha mão direita. Olho para minha mão e vejo os dedos delicados de Leah envoltos aos meus e sorri.

Estava voltando para casa, Leah insistiu em me acompanhar. Eu tinha cedido depois de muito ela insistir, mas ela não chegaria tão perto da minha casa assim. Não poderia arriscar.

Eu tinha pulado a janela do meu quarto duas horas depois que tinha dito que iria dormir. Eu esperei e esperei a casa ficar em total silêncio. Depois esperei um pouco mais, dando tempo para todos adormecerem.

Outro pingo caiu na minha testa, seguido de outro. E assim, do nada, a chuva despenca.

Puxo Leah comigo, a fim de fugir da chuva torrencial mas ela não sai do local e olha pro céu sorrindo.

– Sabe, eu nunca beijei na chuva. – Quando terminou de falar direcionou seu olhar para mim com seu sorriso torto.

Já estávamos completamente encharcadas. Meus pelos estavam arrepiados como nunca, pelo frio e por ela. Seus olhos escuros estavam fixos nos meus, convidativos e esperançosos. A única luz que tinha na rua era do poste acima de nós.

A lua estava escondida em algum lugar entre as nuvens. Gostaria que ela estivesse bem acima de nós para testemunhar o que vinha a seguir.

Leah dá um passo para frente ao mesmo tempo em que também dou. Nossas mãos continuam entrelaçadas, nossa única fonte de calor. Água escorria pelo seu rosto deixando-a mais linda do que já é, mas o único lugar que eu conseguia focar era seus lábios.

Levei minha mão livre ao seu pescoço e lentamente inseri meus dedos em seu cabelo, trazendo sua boa até a minha.

O beijo começou calmo a princípio. Seus lábios molhados dá uma sensação enorme de prazer. Quando Leah me puxa pela cintura, aproximando mais nossos corpos, eu perco meu controle. Beijo-a ferozmente, como se minha vida dependesse disso. Como se fosse o fim do mundo e essa é a última oportunidade para nos despedirmos.

Mas, ainda assim, não é o suficiente.

É preciso mais.

De mais dias, mais beijos, mais contato. Eu preciso andar qualquer hora do dia de mãos dadas com ela, porque simplesmente posso. Eu preciso poder trazê-la em casa, principalmente para conhecer meu quarto. Penso em mil e uma coisas que poderia fazer com ela no meu quarto.

Mas eu continuava a covarde que sempre fui.

– Eu tenho um presente para você. ­– Leah falou, interrompendo o beijo.

Ela puxou do seu bolso traseiro algo dourado.

– Fecha os olhos. – Pede. Eu obedeço.

Leah pega meu braço a partir do antebraço e vai descendo, com seus dedos delicados, até o meu pulso.

– Pode abrir.

Levanto meu pulso na medida do meu olhar e sinto meu coração encher de um sentimento tão forte que era quase doloroso.

No meu pulso tinha um bracelete, nele tinha uma lua e um sol.

Meus olhos lacrimejavam e era impossível segurar o choro. Eu não a merecia.

­– Lu, amor, não chora. É somente um bracelete bobo. Me custou um real.

Com isso meus lábios se abriram em um largo sorriso e uma gargalhada escapou de mim. Dificilmente este presente tinha custado um real, dava para ver a qualidade.

Seguimos nosso caminho depois de mais um beijo. Ainda chovia, mas bem menos agora. O frio, entretanto continuava o mesmo, ou pior, já que agora estávamos totalmente molhadas. Andávamos lado a lado, Leah com os braços na minha cintura e eu no seu ombro, a fim de não morrer de frio.

Depois de um tempo Leah voltou a falar.

– Há uma história. Sobre a Lua e o Sol. Já ouviu falar? – Concordei e esperei que ela continuasse. – A história é simples, O sol e a lua estavam apaixonados, mas esse amor era proibido pelas estrelas. Todos os dias eles passavam um do lado do outro, mas evitavam falar. Mas o Sol, ousado como é, sempre tocava a lua com seus raios. E isto era o suficiente para a Lua. Assim, ela tinha certeza que era correspondida e que seu sofrimento não era em vão, pois o amor era mútuo. As fases da lua nesse conto seria o sol se aproximando cada vez mais da lua até eles se completarem. Após esse tempo eles precisam novamente ficar longe um do outro, e então tudo recomeça novamente.

Leah terminou de contar e voltamos a andar em silêncio. Eu queria ser o Sol, que mesmo com todas as proibições fazia de tudo para ficar com a Lua. Eu queria ter sua ousadia. Queria ser destemida.

Olho para meu pulso e vejo o bracelete. Meu coração acelera.

Chegando à esquina, paro de andar. Leah olha para mim e dá um sorriso fraco entendendo que aquele era seu limite.

– Você é o meu sol. – digo. – De todas as formas. Você me aquece, me mantém firme, e luta por mim. Eu... me desculpa.

Respiro fundo, tentando controlar o medo. Tentando não olhar para os lados para ver se ninguém observa. As coisas não podem mais ser assim.

– Eu vou lutar. Eu vou deixar de ter medo. Você merece alguém que tenha orgulho de te mostrar ao mundo, e não que ande escondida. Você merece ter alguém que lute por você. Você abriu uma exceção para mim, e eu não reconheci isso da maneira que deveria. Você é tão importante, e tão maravilhosa. Espero que tenha noção disso.

Beijo-a lentamente e demorado, voltando a entrelaçar nossas mãos.

– Me acompanha até em casa? – Perguntei.

Leah permaneceu olhando para mim e demoradamente seu sorriso foi crescendo.

E eu podia jurar, que quando seu sorriso atingiu seus olhos o frio sumiu do nosso redor, restando somente calor.

Eu gostaria de acreditar que Leah me tocava com seus brilhantes raios.

Fases da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora