Capítulo 4

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   Carolina

Levo uns minutos sentada no carro atrás do volante me recompondo. Minhas mãos tremem, é estranho e novo. Se por um lado me senti insultada, assustada e angustiada, por outro, me senti atraída, encantada e protegida.

Pietro De Marttino, o possível galã da cidade, é claro que minha primeira impressão foi a de uma provocação do tipo que conheço. Ele fez tanto esforço em desfazer tal impressão que eu sinto vontade de acreditar.

Encaro o espelho retrovisor com as mãos firmes sobre o volante, os nós dos dedos brancos de tanto apertar o volante como se isso me transportasse de volta a velha armadura do "não me importo" que me acompanha desde o começo da adolescência e que vem me salvando do fundo do poço.

— Ele não pode ter realmente se interessado, aquilo só pode ter sido uma brincadeira. O que acha? – Encaro os olhos refletidos no pequeno espelho retangular, ali está um olhar que vai além do honesto, ele é implacável e está me dizendo que não devo criar expectativas, Pietro só estava brincando. Não brincando com meus sentimentos por pura vilania, brincando comigo do jeito certo, querendo um sorriso, querendo me enturmar com o grupo ou só... sendo legal comigo e isso ainda é novo, mas aceitável. Mais do que isso é só o sonho da cinderela sem fada madrinha.

Depois de um longo respirar e coloco o carro em movimento para minha casa. Um toque de realidade e eu o esqueço por completo.

É quase noite, o céu está se colorindo de laranja e vermelho, as colinas criam uma luz singular e quando meus pais se cansarem e decidirem voltar para Milão, vou sentir falta da luz do fim de tarde.

A casa está silenciosa, agradeço quando atravesso os cômodos e subo as escadas. Queria tanto ter me envolvido na decoração, mas mamãe cuidou de jogar os móveis antigos num tipo de seleiro, entulhou móveis cheios de história para se dar ao trabalho de encher a casa de móveis modernos e sem qualquer significado pessoal. Não é sobre mim ou sobre eles, é sobre quem eles acham que a sociedade espera que sejam.

Minha mente volta para Pietro e talvez a vida dele não seja muito diferente. Bobagem, sorrio com o pensamento. Ele é exatamente o que se espera dele, bonito, agradável, charmoso, carismático.

— Seu oposto! – Falar sozinha tem também feito parte da minha solitária vida de quem foge dia e noite da pressão que me cerca.

Meu celular vibra, faço careta. Ignoro, mas ele apita e depois o som do toque comum me obriga a ergue-lo. A foto da minha mãe surge na tela. Linda e risonha, porque não sorriria? Sua vida é quase perfeita. Sou a única coisa que não se encaixa.

— Sim, mamãe.

— Se arruma e desce para jantar, a equipe está aqui para os últimos detalhes da sua festa.

Ah! Como eu queria que fosse os últimos detalhes, mas sabemos que não é. Tem muito tempo até o aniversário e ela vai me torturar com isso por semanas.

Nem respondo, só deixo o celular cair para o lado e encaro o teto. Eu podia apenas ficar aqui. Não atende-la e pronto, ou saltar da cama, ir até lá e tomar todas as decisões. Não fico, não brigo, não sei qual delas eu sou. A que se rebela se trancando e não atendendo as ordens de Mirella Barazza ou a garota que desce e a enfrenta tomando as próprias decisões.

Tudo que eu não queria ser é essa que fica de pé, anda de má vontade até o grupo e diz sim a todas as decisões, mas é isso que faço.

É o que faço pela semana toda, dia após dia. Quando tudo muda e ela decide que quer outro tipo de festa porque viu numa revista francesa uma nova tendência que combina perfeitamente com seus planos eu apenas dou de ombros.

Série Família De Marttino - Herança de Amor (Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora