Você Me Tem Nas Mãos

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°Visão de Thiago

José comia com tanta necessidade no almoço que ficamos olhando por alguns minutos até começarmos a comer. Nayara também tinha uma necessidade enorme de comida e às vezes eu imaginava o que eles teriam passado naquele lugar durante aquele tempo todo.

José estava magro, podíamos ver seus ossos muito bem demarcados e Nayara também. Ela já tinha vestido uma roupa que não parecesse um trapo e José teve que vestir um dos ternos antigos de Dorian, porque os dele ficaram flutuando pela magreza de seu corpo. Naquele almoço eu percebi que ele não iria sobreviver por muito tempo se não tivéssemos tirado ele dali a tempo.

-E então, o que você viveu lá, Nayara? –Solhia pergunta e ela levanta a cabeça e encara todos que olhavam ela. Nayara limpa a garganta e então se prepara para falar.

-Quando cheguei eu trabalhava para verificar sistemas de tubulação de ar. Eu era muito nova pra ir para bordeis e muito velha pra ser adotada. –Nayara fala soltando os talheres e colocando as mãos nas coxas.

-Pensou em fugir alguma vez? –Solhia pergunta.

-Várias. –Ela fala e puxa a gola da camisa que vestia para baixo, mostrando algumas cicatrizes de queimadura próximas a clavícula. –Eu sempre era pega e eles me queimavam com cigarro por eu ainda ser criança.

-Você se lembrava de nós? –Solhia pergunta e Nayara fica envergonhada.

-Não lembrava tanto, mas quando meu pai me chamou de Nayara depois de tanto tempo sendo chamada de 1660 eu me lembrei. –Ela fala. Aparentemente as pessoas traficadas eram chamadas por números. –Ele disse que ficaríamos bem, mas eu não acreditava nisso. Depois de tanto tempo dormindo dentro de uma gaiola de ferro no frio eu já não pensava que iria sair dali para ir a um lugar melhor. –Ela fala e eu posso sentir seu desespero.

-O que mais se lembra de nós? –Solhia pergunta e Nayara sorri, como se lembrasse de uma coisa divertida.

-Do meu tio Hernandes, daquele vestido que eu ganhei da senhora de 5 anos e... –Quando ela vai terminar Solhia já estava emocionada e então pede que ela pare.

-Eu sinto muito. –Solhia diz com voz trêmula.

-Eu tava na imparcialidade. –José fala.

-Como assim, José? –Solhia pergunta e ele para de comer, olhando ela por alguns segundos até começar a falar.

-Eu estava torcendo para que o Dorian fosse atrás de mim, mas não queria. Não achava que merecia tanta atenção. –José fala e Dorian me encara.

-Eu tinha que te salvar. –Dorian diz. –O aniversário da Olivia é semana que vem e eu vou dar uma festa... Mas como eu daria uma festa infantil sem você pra falar "que saco Dorian"? –Dorian fala e todos caem na gargalhada.

O almoço continuou e a tarde José e Nayara foram na nutricionista com Solhia, para que ela avaliasse uma dieta boa para que eles se recuperassem. Dorian teve vários assuntos para resolver e embora eu estivesse ali eu não conseguia me concentrar em nada que vinha sendo falado. É aquela famosa ideia de estar em um lugar e a mente estar flutuando por outro.

Quando acabaram as reuniões eu já me preparei para sair, mas a cara de Dorian quase implorava que eu ficasse ali por mais alguns segundos.

-O que foi? –Pergunto encarando ele com aquele olhar de arrependido pedindo perdão.

-Vai ficar assim comigo até quando? –Ela pergunta.

-Até você crescer e parar de falar merda pra ganhar uma discussão. –Falo e ele me encara. Provavelmente não acreditando que eu tinha falado daquela forma com ele, mas Dorian não era mais criança e nem tão sensível quanto ele achava.

DIABLO (Romance Gay)Where stories live. Discover now