MELISSA: Decide morrer...

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Eu tive que pegar um vôo de Paulo Santo direto para Porto Alegre e outro para Curitiba. Não havia tempo para despistamentos. Não havia tempo para planos sofisticados de fuga. Eu tinha que colocar uma boa distância entre eu e ele. Adriano viria atrás de mim como um furacão demolindo tudo pelo caminho e eu não podia me deixar enredar por suas palavras sedutoras. Além do mais, acho que ele nem tentaria me convencer. Simplesmente iria me capturar e levar de volta. O amor obsessivo que o dominava não permitia que ele visse a situação com clareza, ou objetividade. Eu o amava... Mas, sabia que não iria durar muito. O que seria dele depois que eu me fosse? Talvez o plano de Stephen fosse sua única salvação. Eu tinha que acreditar que daria certo. Que meu sacrifício não seria em vão.

A certeza de que era para o seu bem que eu iria fazer o que tinha que ser feito, não me trouxe conforto. Claro que não. Nem atenuou a saudade que eu sentia dele.

Em Curitiba, minha urgência em ouvir sua voz uma última vez acabou me dominando. Decidi telefonar, sem saber ao certo o que dizer... Pretendia lhe assegurar que estava bem, embora soubesse que não estaria por muito tempo. Mas eu não poderia fazer a ligação do meu celular, que eu descartei antes de partir.

Desci do táxi no centro da cidade, numa praça que fazia divisa com o calçadão de pedestres. Atravessei a Rua das Flores a meio caminho da Rodoviária. Parei numa padaria e esperei até aparecer algum bom samaritano que me emprestasse o celular. Eu me ofereceria para pagar a ligação, é claro. Se não conseguisse, tentaria telefonar de um orelhão. Se encontrasse algum em funcionamento.

A oportunidade se apresentou mais rápido do que eu imaginava.

-Oi – disse eu, animada, para o rapaz de óculos que se sentou ao meu lado.

Ele até se assustou com a minha abordagem, mas eu não tinha tempo para sentir vergonha da minha cara de pau.

-Oi – respondeu ele, hesitante.

A balconista colocou o café que eu pedi diante de mim. Ela ficou por ali, muito interessada em nossa conversa.

Limpando a garganta, eu parti para o ataque.

-Escuta, eu perdi o meu celular, mas preciso fazer uma ligação urgente. Você poderia me emprestar o seu?

Seria uma chance em mil de ele me emprestar, mas não custava tentar.

-Claro!

Eu disfarcei minha perplexidade.

-Ah, é interurbano, mas eu vou te pagar.

-Se for rápido, não precisa – disse o rapaz e eu sorri, encantada com a sua gentileza inusitada.

A balconista trouxe o pedaço de torta que eu havia pedido, enquanto eu discava com dedos trêmulos o número de Adriano.

Ele atendeu ao primeiro toque.

-Melissa – disse, num sussurro grave.

Caramba, ele sacou no ato que a ligação de um número desconhecido era minha?

Ouvi o zumbido do vento ao fundo... O vento diminuiu e ele grunhiu junto ao telefone. Ele estava... correndo? Dizem que a corrida de uma distância tão longa era arriscada, pois consumia as energias dos imortais. Acontece que Adriano não é qualquer imortal, garota! De todo modo, ele iria chegar antes que qualquer veículo aéreo ou terrestre. Os imortais podiam atingir velocidades absurdas. Eu tinha que sair de Curitiba o quanto antes, mas precisava fazer alguma coisa para confundir o meu cheiro e retardar que ele farejasse a direção que eu iria tomar.

Agora sim, estava na hora de um plano de fuga sofisticado.

- Fale comigo! – ele exigiu em tom de súplica.

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