Um quase humano

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Ao sairmos para a luz do sol, percebi que Pennywise não se incomodava mais com a clarida que batia em seu rosto:

-" Olha que evolução, não reclama mais da luz do sol"- comentei. O palhaço se distraiu facilmente com uma pequena borboleta azul que voava em sua volta:

-"Hum? Ah é, quando você estava fora, eu tentava sair as vezes, até que me acostumei"

-"Isso é bom..."- me lembrei do pequeno presente que havia comprado para ele no Texas-" Ah! Eu tenho algo para te dar"

-"O que é?"- pergunto curioso.

-"Isso"- puxei uma pequena correntinha cor de ouro do bolso do shorts, com as iniciais "P" e "M".-"Eu comprei quando estava viajando, tem nossas iniciais"- os olhos de Pennywise brilharam quando estendi a corrente a sua visão.

-"Para mim?"- acenti com a cabeça-" Jura?"

-"É a prova de que eu lembrei de você enquanto estava fora"- sorri colocando-o em seu pescoço. O tamanho era perfeito, a reluzente corrente se destacava muito quando colocada sobre suas roupas de cores encardidas.-"Então, o que achou?"

-" Ficou ótimo, eu fico muito agradecido! fico feliz que tenha realmente se lembrado de mim."- disse rodando a inicial "M" nas pontas dos dedos. Ele respirou fundo pensativo-" Sabe, você sempre me deu coisas muito legais, desde o dia que nós nos encontramos e... eu nunca consegui retribuir de uma forma certa."

-"Que isso, não precisa, tudo que eu fiz por você até agora, foi de coração."

-"Eu sei, só que, eu quero te dar algo também.-" fitou o chão por alguns segundos e, em seguida, ergueu o braço e tirou algo do pulso. Era uma simples pulseira de guizos listrados que me encantou pelo simples fato de ser um presente do meu melhor amigo-" Não é lá essas coisas mas..."

-"Eu adorei! É muito fofinho!"- interrompi, tirando um sorriso sutil de Pennywise. Logo o coloquei no meu pulso e não parei de balançar para o ouvir badalar, que fez o outro gargalhar. Após andarmos um pouco, chegamos a beira de um rio e nos sentamos. Estava apaixonada na minha nova pulseira-"Estou louca para mostrar para as minhas amigas! Bem que eu queria que vocês se conhecessem, ia gostar delas"- Pennywise não respondeu nada, ele chegou a mão perto das águas agitadas e não a tocou por estar usando luvas:

-" Com licença..."- o palhaço puxou bem devagar a luva que cobria sua mão, expondo pele primeira vez um pedaço de sua pela que não seja o rosto-" Acho que não tenho mais o que esconder de você, não é?"- sua carne era rigida, tinha uma cor muito escura, como se fosse incinerada, e alguns descascados eram bem evidentes. Que curioso-" Depois que eu comecei a sair mais, eu pude experimentar pela primeira vez, durante anos, o real toque de algumas coisas. Desde então, eu gosto de vir aqui e sentir a água passar suavemente pelos meus dedos"- disse mergulhando totalmente sua mão no pequeno rio. Fechou os olhos para sentir melhor a sensação de frescor da água cristalina:

-"Que legal..."- sorri orgulhosa do progresso de Pennywise. Me atrevi a tocar sua mão, cheguei bem devagar à sua e encostei as pontas dos meus dedos na parte de trás dela, que o assustou e fez recuar a mesma:

-"Er, me desculpe..."- disse um pouco envergonhada com a minha atitude. Repousei minhas mãos ao meu lado, com o olhar desviado para o chão e acompanhados de um silêncio mórbido. Não demorou muito para que eu sentisse outra mão sobre a minha, era de Pennywise. Ele entrelaçou seus dedos no meus e eu pude sentir sua confiança aquecendo meu peito:

-" Sua mão é bem macia, parece um trevesseirinho"- disse sorrindo-" Ah, você dizia sobre suas amigas humanas, não é? Elas sabem sobre mim?"

-"Bem, não muita coisa, digo que você é um amigo na qual ajudo com o dever de Física, heh. Olha, tenho uma foto de nos todas juntas"- peguei meu celular e abri na foto onde estavamos abraçadas. Pennywise observou a foto com muita atenção e pareceu que havia reparado em algo:

-" Vocês são tão diferentes umas das outras, como comseguiram virar amigas?"

-"Oh... sabe que eu não sei..."- encarei a foto por alguns segundos tentar achar uma resposta. -" Talvez seja por isso, porque somos diferentes! Sempre temos algo novo para compartilhar umas com as outras, e isso rende muito assunto, que por sinal, são os melhores. Imagine você ter como amigos pessoas exatamente iguais a você, sempre com os mesmo papos e blá blá blá"- Pennywise pareceu compreender.

-" E eu? Sou diferente?"- isso me fez sorri até as orelhas.

-" Não poderia existe algo mais diferente que você nesse mundo"- ele pareceu se alegrar. De repente, um peixinho pulou para fora da água, fazendo algumas gotas espirrarem em seu rosto:

-" Ei!"- exclamou bravo.

-" Está tudo bem, deixa eu limpar para você"- estiquei a manga da minha blusa até que cobrisse toda a minha mão e passei no rosto do palhaço até que secasse.-" Pronto..."- quando olhei para o tecido, a surpresa que tive.-" Pennywise, olha!"- a manga estava manchada com um pouco da tinta branca de seu rosto. O local de sua face que secara antes, agora estava exposto com uma cor mais rosada, uma cor de pele:

-" O que?!"- Pennywise se assustou e olhou seu reflexo na água.-" O que é isso? O que está acontecendo comigo?"

-" Se acalme, se acalme...- tentei tranquilizá-lo.-" Olhe, não sai mais"- passei minha outra manga em seu rosto para poder provar e o mostrei:

-" Isso nunca aconteceu antes..."

-" Acredito que não, mas olhe, isso pode ser uma coisa positiva, pode ser que esteja voltando a sua forma humana. Significa que você está progredindo"- Pennywise cruzou os braços, emburrado.

-" Não sei se gostei disso..."

-" Se anime, será muito feliz vivendo como um humano e não vai mais ter que se esconder aqui."- o palhaço me olhou parecendo se render, mas continuava emburrado-" e vou te apresentar todos os meus amigos e te levar a vários lugares, como a biblioteca - Pennywise deu um sorriso, mas continuou com sua pose de difícil-" Ah hah! Você ficou feliz, eu vi, eu vi!"- assim que o abracei, ele não se aguentou e se entregou rindo, retribuindo o abraço.

-" Está bem, está bem, você ganhou, pode ser algo bom! A superfície é interessante. Puxa, tem tanta coisa que eu quero conhecer e experimentar, você não faz idéia"

-" E eu vou realizar seus desejos. Estamos indo bem, eu acho"

-" Também acho, você mesmo disse que estou evoluindo, certo?"

-"Isso, quem sabe não estamos perto de te tornar humano. Devemos ser
pacientes quanto a isso."- de repente, senti meu celular vibrar. Era uma mensagem do tio Lansky!:

-"E aí Mel! Aqui é o Lansky, ainda estou em Ruston, dá para acreditar? Pensei em ficar um tempo por aqui, o pessoal é bem receptivo. Talvez eu até compre uma casa por aqui. Enfim, posso ir te ver na escola, bateu uma saudade imensa de você..."- comecei a digitar a resposta:

-"Claro! Minhas aulas começam na segunda, eu vou te esperar no portão"

-"Certo, até segunda!"- guardei o celular e me encostei no ombro de Pennywise, que passou o braço por trás do meu pescoço brincando com o meu cabelo.

Clown sweet clownOnde as histórias ganham vida. Descobre agora