Capítulo 1

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***Laura Lira***

Acordar cedo é algo que sempre fez parte da minha rotina

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Acordar cedo é algo que sempre fez parte da minha rotina. Agora, criar coragem de "jogar tudo para o alto e que se dane o mundo", bem, isso eu aprendi só agora.

Sabe quando você sai da cama e ao se olhar no espelho, dá de cara com uma versão sua nem um pouco atraente? Pois bem, essa é a imagem que encontro refletida no espelho ao me levantar. Mais uma noite mal dormida para acrescentar a minha coleção. Uma noite que me rendeu olhos inchados pelas lágrimas que foram derramadas por essa dor dilacerante em meu peito, causada pelo homem que deveria cuidar do meu coração. Como pude me deixar enganar a esse ponto? No final das contas o amor que eu nutri durante todos esses anos me cegou, me fez acreditar que ele poderia mudar, esse amor me fez criar esperanças quando, na verdade, os pilares desse casamento não passaram de ilusão. Mas agora chega! É hora de dar um basta nessa piada na qual Fernando nos transformou – tudo graças a minha permissividade –. Sem dúvida alguma, meu casamento acabou. Isso, se algum dia ele realmente existiu.

Depois de divagar pela atual desgraça que bate à minha porta, tomo um banho para despertar de vez e me arrumo para o trabalho. O look de hoje é simples, posso ser dona de uma empresa de moda muito bem-sucedida, mas acima disso sou uma mulher em conflito e destruída emocionalmente. Nem eu consigo ser um completo ícone da moda num momento como este. Então escolho um vestido tubinho azul royal com um decote discreto, saltos médios e confortáveis, um coque frouxo e brincos de pérolas sem adornos.

Desde que casei com Fernando, moro em uma cobertura no Leblon – que ele adquiriu antes do casamento–, pois ele achou melhor morar em um apartamento grande e confortável que nos proporcionasse fácil acesso aos lugares que costumávamos frequentar. Como eu já mencionei, sou dona de uma grife de roupas, mais precisamente a grife mais disputada desse país. O ateliê e o escritório da D'Ávila ficam no mesmo bairro que nosso apartamento, esse foi o maior motivo pelo qual eu aceitei deixar meu apartamento e me mudar para o apartamento dele.

A D'Ávila é umas das poucas coisas que me dão orgulho. Eu precisei de muitos anos de trabalho duro, suor, dedicação e esforço para erguer essa empresa do zero e transformá-la na minha tão sonhada independência. Eu ergui meu império com meu sangue, precisei de muita garra para não desistir e abrir mão de tudo. Hoje, eu olho para o que eu construí e vejo a sabedoria que toda essa jornada me trouxe e que, ainda assim, eu me submeti a um casamento no qual eu sou a única que ainda se dedica a fazer com que dê certo. Muitas vezes me perguntei se alguém consegue ser feliz com um cônjuge que só existe na certidão de casamento. Acho que finalmente aceitei a resposta.

Sigo em direção a sala e encontro a Sra. Lis movendo alguns objetos – Lis é nossa governanta e trabalha para o Fernando desde antes do nosso casamento –, ela me olha com aquela mesma expressão de sempre, a pena estampada em seu olhar por saber que mais uma manhã eu acordava sem meu marido ao meu lado.

– Bom dia, dona Laura. Você vai querer que sirva o café da manhã agora? – Ela fala e esboça um sorriso preocupado, pois sabe que tenho comido mal nos últimos dias.

– Bom dia Lis, vou comer lá na D'Ávila, obrigada. Alguma ligação? – Pergunto, mesmo sabendo a resposta. Na verdade, nem sei por que ainda pergunto, tenho certeza que ele não vai ligar. Talvez seja apenas a força do hábito.

– Não... sinto muito menina. – Ela fala com olhar de piedade ainda mais nítido.

– Tudo bem... saindo então. Até mais tarde.

– Até, dona Laura.

Como se estivesse me despedindo, eu paro e olho para apartamento, era interessante como um lugar tão bonito e com uma arquitetura tão moderna pudesse ser tão sem vida. Só de pensar que, por algum tempo esse apartamento era cheio de amor e a felicidade de um casal recém-casado, meu peito começa a arder e meu coração se aperta como quem diz "pare de reviver o passado". Quando pus os pés aqui como senhora dessa casa pela primeira vez, há dez anos atrás, eu era apenas uma garota de 20 anos perdidamente apaixonada, eu tinha a D'Ávila – que na época era apenas um ateliê em ascensão–, tinha um homem que me amava e um futuro planejado. Tudo estava perfeito, pelo menos era o que eu acreditava.

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