Introdução

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No ano de 1189, e o Papa Clemente III organizava a Terceira Cruzada, para tentar reaver a cidade de Jerusalém, perdida anos antes para Saladino I, o sultão da Síria e do Egito, e libertar o Rei Gui de Lusignan, que fora tido em cativeiro no episódio que ficou conhecido como a Batalha de Hatin. Reconquistar Jerusalém era uma questão de honra para os cristãos e para financiar a missão foi criado o dízimo saladino. Os Templários, os Hospitalários, os oficiais reais e os clérigos, foram encarregados da arrecadação dos bens e valores que eram administrados pela Igreja. Religiosos e trovadores foram incumbidos de viajar por toda a Europa Cristã recrutando adeptos e conseguindo apoio. Sob o domínio da Igreja, os reis, príncipes, nobres e cavaleiros eram induzidos a "tomar a Cruz" em juramento, e esse voto garantia a eles um lugar no céu e a absolvição dos pecados.

Ricardo, o Duque da Aquitânia foi o primeiro a tomar a Cruz. Seu pai Henrique II, rei da Inglaterra, e Felipe Augusto, o rei da França, estabeleceram trégua apenas para atender ao chamado do Papa.

Henrique, que já não tinha uma boa relação com a Igreja, enfrentava a aliança de seus filhos com o rei francês e se encontrava encurralado pelas tropas inimigas em Le Mans, sua cidade natal Cercado por todos os lados, percebeu sua debilidade diante de um exército maior e fugiu pelas colinas de onde assistiu a cidade ser tomada pelo fogo. Devastado pela derrota, passou a noite acampado nas montanhas sofrendo com dores estomacais e febre.

--- Meus filhos acreditam que podem me vencer, mas não permitirei.

--- Eles não o vencerão, majestade, - o conselheiro se aproximou – eles já perderam muitas vezes para vossa majestade.

--- E isso custou a vida de meu herdeiro Henrique. – encarou o homem – e lhe digo que não fiquei feliz com isso. Doí no coração de um pai ver os filhos pegarem em armas contra si.

--- Majestade, eu compreendo. – o homem lhe entregou uma infusão.

--- Também compreendes porque Ricardo se uniu ao rei da França para usurpar as terras que ele mesmo herdaria quando subisse ao trono? – ele tomou um gole da bebida.

--- Vossa majestade fez todos acreditarem que João herdaria a coroa.

--- Certamente, depois da traição de meus três filhos mais velhos. Mas era um ardil com o qual eu pretendia recuperar a lealdade deles... – olhou para o teto da barraca – E o que isso me custou, meu Deus!

--- Sinto muito majestade

--- Fui punido com a perda de meus filhos. Primeiro Henrique...

--- Pobre Henrique, tão jovem e a falecer de infecções no campo de batalha.

---Eu amava aquele rapaz, tinha certeza de que seria um grande Rei. – Henrique II suspirou profundamente - Ele acabou custando-me muito, mas queria que ele tivesse vivido para me custar mais·. - sorveu a bebida e suspirou - E depois Godofredo...

--- Lamentável, meu bom Rei, mas não foi vossa culpa.

Henrique encarou o conselheiro e se preparou para dormir.

--- Espero conseguir ter uma noite de sono e rezarei para não perder Ricardo.

--- Vossa Majestade sempre terá João, que lhe é fiel.

--– Fiel, mas ganancioso. Lamento que minha esposa os tenha criado dessa forma e os tenha colocado contra mim. Lamento mais ainda que meus filhos tenham dado ouvidos ao Rei da França e tenham se juntado a ele contra o próprio pai e Rei.

--- Lamento, Majestade.

--- Eu também - Henrique encarou o homem – Tentarei descansar.

Na manhã seguinte, foram para o Anjou, onde aguardaram por Ricardo e pelo Rei da França. Henrique, que não queria enfrentar outra batalha, preferiu tentar um acordo e apesar de se irritar com as condições, cedeu ao ser pressionado pelos nobres conterrâneos e pelo Bispo de Reims. Um dos tópicos do tratado era fazer as pazes com Ricardo e lhe garantir a coroa. Contrariado e sentindo-se humilhado, retirou-se para seu Castelo em Chinon, onde sua doença piorou drasticamente. Ao saber das condições do pai Ricardo foi vê-lo.

In Nomine CrucisWhere stories live. Discover now