Prólogo

11 1 0
                                    

Ali estava eu, sentada, ou melhor, largada no chão do meu quarto, recostada na cama onde uma mala totalmente esquecida por hora esperava ser preenchida. O celular pendia na minha mão enquanto eu tentava racionalizar o que era aquela sensação que me consumia por dentro. O diálogo de agora a pouco ainda martelava em meu cérebro...

— Bom dia, flor do dia! Tá bem, sei que já e de tarde. Mas e aí? O que fazes?

— Idiota! - xinguei-o sorrindo. - Terminado de arrumar as coisas. Felizmente só faltam as malas, todo o resto já foi providenciado e organizado meticulosamente.

Um silêncio que para mim durou uma eternidade se fez.

— Então é amanhã... - Falou reticente, quebrando o silêncio sufocante.

— Pois é! Nem acredito que depois de tantas conversas, negociações e burocracia amanhã a essa hora estarei sobrevoando o Atlântico. - Respondi.

E novamente o silêncio...

— Colhendo os frutos do seu trabalho. É muito bom te ver feliz assim. Imagino que depois de terminar de arrumar as malas você vá passar na casa da sua mãe, acertei? - Ele perguntou.

— Fui praticamente intimada! Eles estão agindo como se eu fosse para Marte. - Fingi uma indignação que não sentia de forma alguma. - Mamãe e o Marco querem se despedir. Um jantar simples, algo do tipo. Minha irmã e o marido devem passar por lá também. - Completei.

— Eles te amam e estão sofrendo de saudade antecipada, ué. - Respondeu com simplicidade - Sei bem como é... - O murmúrio foi quase inaudível.

— Como é? Não entendi. - Precisava ter certeza do que achei ter ouvido.

— Nada não. Bem, te pego às 20:00h na casa dela. Pode não ser para Marte, mas ainda assim serão quatro meses longe de nós, quero te ver. - Direto como ainda me lembrava.

Fiquei muda. Foi um suspiro leve do outro lado da linha que me trouxe de volta. Mesmo sem ter formulado uma pergunta, ele esperava que eu dissesse algo.

— T-tudo bem. Te espero então. - Finalmente respondi.

— 'Té mais tarde, minha querida! - Exclamou, deixando transparecer uma mistura de alívio e felicidade.

— 'Té...

Essa conversa, essa curta conversa, deixou-me alheia ao mundo ao meu redor. Nada demais foi dito. Não passava de uma simples conversa, qualquer um poderia concordar que éramos dois amigos combinando de nos encontrarmos, já que um de nós passaria um tempo longe.
A questão ali não era o que foi dito ou como foi dito, mas o que havia por trás daquele diálogo. Na verdade, o ponto principal daquilo tudo não foi dito. Então aquela sensação que continuava em mim passou a tomar forma, distanciando-me totalmente do que ainda tinha que fazer, lançando-me direto às lembranças que já há algum tempo me rondavam e que nesse momento atingiram-me como um soco no estômago, completamente vívidas.

Era pra ser...Where stories live. Discover now