XVI - Enxergando a verdade

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Miranda estava deitada, recém chegada da fisioterapia, quando Felipe entrou no quarto.

— Felipe?— Perguntou.

— Como sabe?

— Fecha a porta e vem cá.

Ele fechou a porta e se aproximou.

— E então?

— Estou vendo vultos e já consigo enxergar, mesmo que mal, a cor da sua camisa. É vermelha. E consigo ver a sua silhueta e o seu cabelo.

— Já avisou pro Luiz?

— Não.

— Tá se fazendo de cega?

— Não exatamente. Achei que era coisa da minha cabeça, mas estou percebendo que não é.

— É por isso ou porque quer a atenção do doutorzinho?

— Claro que não! E você? Não está com cheiro de uva como nos outros dias. Ela te largou, e agora você não tem mais motivos pra fingir que trabalha?

— O pai dela tá doente.

— É isso ou ela engravidou de outro e não quer te contar?

— Como assim? Claro que não.

— Tem certeza? É capaz de acreditar tanto assim em uma empregada?

— Nenhuma pobretona como ela perderia a oportunidade de ter um filho pra herdar minha fortuna.

— Nisso você tem razão. Mas tome cuidado, não só com ela, como com as outras empregadas. Nós nunca sabemos em quem podemos confiar.

— Isso é verdade. Por falar nisso, tenho que te falar uma coisa.

— O que é?

— Você falou com a Maria para terminar com o Miguel?

— Falei, e como sempre, ela achou que era drama.

— Sinto em te informar que ela não cumpriu a promessa. Fui até a rodoviária ontem e vi os dois se beijando.

— São uns canalhas mesmo.

 — Por que não deixa a sua irmã em paz e vai caçar outro homem pra você?

— Você ficaria comigo nesse estado? — Ela perguntou e ele apenas balançou a cabeça em negação — Você é burro? Acabei de falar que já tô vendo vultos.

— Desculpa eu esqueci. Mas que seja, eles estão juntos, o Miguel também não vai te querer. Você não tem um pingo de amor próprio mesmo.

— Eu faço tudo isso por amor ao Miguel.

— Que não te ama mais.

— Mas essa é a questão: ele deixou de me amar pela Maria, mas ela não o ama.

— Como tem certeza disso?

— Ela é minha irmã e eu a conheço. Desde a morte de nosso pai a Maria se tornou uma pessoa fria e incapaz de ter bons sentimentos, como o amor.

— As pessoas mudam com o tempo.

— Sim, mas o ódio que ela tem pela sua família não diminuiu.

— O Miguel não sabe das acusações que ela fez contra o nosso pai, não é mesmo?

— Não, e eu estou segura de que ela não estaria disposta a ter o seu pai como sogro. Ela está tramando algo, eu tenho certeza disso, e vou precisar bolar um plano pra desmascará-la.

— Tá certo então. Agora posso ir, ou você quer que eu continue vigiando?

— Vamos continuar com tudo como está e eu vou continuar me sentindo ofendida com o relacionamento deles até bolar o novo plano. Vou infernizá-los e eles precisarão seguir firmes no amor que sentem.

— Mas, segundo você, a Maria não sente amor.

— Exatamente. E vai ser aí que a máscara daquela fingida finalmente vai cair.

— E onde eu entro nessa história?

— Felipe eu quero que investigue isso, quero que seja meus olhos. Vou fingir que ainda estou completamente cega e vou tentar pegá -los no flagra. 

— E então... 

— Você não tá prestando atenção no meu plano ou só é burro mesmo?

— Desculpa, eu tô distraído.

— Esquece logo essa pobretona e foca no que realmente importa. Se a Maria se aproximou do seu irmão por interesse e a gente conseguir separar esses dois, o próximo passo vai ser correr pros seus braços.

— Não sei se ainda quero a Maria.

— Larga de ser burro Felipe, todo mundo sabe que você jamais se casaria com pobre, porque isso é perda de dinheiro. Mas a Maria... A Maria tem tanto dinheiro quanto eu, ou talvez até mais, porque ela realmente trabalhava na capital. 

— Você tem razão.

— A minha irmã é a mulher que você precisa, o seu irmão é o homem que eu preciso e nós vamos dar um jeito, juntos de conseguir.

...

Naquele dia, mais no fim da tarde, Miguel foi até o quarto de Miranda ver como ela estava.

— Quem tá aí?— Ela perguntou.

— Miguel.— Ela sabia que era ele, conseguia enxergar em sua mente cada fio daquele cabelo só de olhar a silhueta.

— Oi! Que bom que veio me ver.

— Visita de médico, só quero saber como está.

— Estou melhorando. A perna já está boa, mas os olhos...

— Vão melhorar, eu tenha certeza disso.

— Tomara que sim, porque eu não aguento mais não enxergar as coisas e, principalmente não enxergar você. Miguel, fica aqui até eu dormir ou tem um compromisso muito importante?

— Fico sim.

— Obrigada, a sua presença me dá segurança.

Miranda fechou os olhos e começou a fingir que dormia. Entrei no quarto e vi Miguel, que fazia sinal para que eu não fizesse barulho.

— Eu olho pra ela e me sinto tão culpada.— Sussurrei.

— Não se sinta mal, está fazendo o que é melhor, sendo feliz, e sei que ela também vai ser. Se acalma, não precisa se culpar.

Ele me abraçou. Olhei para ele e ele para mim, nos aproximamos e nos beijamos. Miranda abriu os olhos e a visão já estava praticamente perfeita, perfeita o suficiente para que ela visse o que precisava, mais cedo do que imaginava.

— Então acham que podem me fazer de otária?— Gritou— Eu estou fazendo vocês de otários! Eu tô vendo! To vendo a falsidade de vocês! Tô vendo a mentira! Tô vendo a sua maldita cara de pau!

— Se acalma por favor.— Falei.

— Como vou me acalmar?— Ela deu um impulso na cama e, com muita dificuldade, se levantou. Se apoiou na cama enquanto as pernas tremiam. Não sabia se tremiam porque ainda não estavam perfeitas, ou por causa do ódio que queimava em seus olhos— Podem tentar me fazer de trouxa, mas eu JURO: não vão conseguir ser felizes! A vida de vocês vai se tornar um inferno e eu vou cuidar para que isso aconteça! Eu juro!

Apesar Da VingançaWhere stories live. Discover now