XVIV. Mude ou a vida muda por você

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WILL

Mudanças são necessárias.

Certamente todo mundo já se sentiu como se estivesse pulando de um avião sem paraquedas, prestes a fazer algo que poderia mudar sua vida para sempre. Uma entrevista de emprego, uma prova de faculdade, um encontro amoroso. Todo mundo já sentiu aquele rush de adrenalina e aquele frio no estômago alguma vez na vida, seja por algo incrível ou algo terrível por acontecer. Um passo em direção ao que pode ser o amor de sua vida ou um passo em direção ao que pode ser o pior dia de sua vida. Independentemente de qual seja, mudanças são necessárias.

Eu achava terrivelmente difícil dormir sem meu coelho de pelúcia, o Sr. Bilu, mas eu tive que abdicar dele quando meu irmão nasceu, passando minha herança adiante. Foi triste, mas criou um laço maior entre meu eu de oito anos e o garotinho intruso com o qual eu teria que dividir o amor da minha mãe. E meu pai só trouxe desgosto para todos, memórias ruins e problemas afetivos, mas ele só motivou nosso processo de transformar algo ruim em algo bom, e talvez se não fosse por isto, Caleb, nossa mãe e eu jamais teríamos nos tornado tão unidos. Se Turner não tivesse largado o vício da primeira vez, nunca teríamos nos conhecido e ele nunca sequer teria começado a faculdade e virado professor, e se não largasse naquela segunda vez, eu não o teria de volta, e ele teria se perdido pra sempre.

Largar um vício, deixar a casa dos pais, sair do armário, fazer uma tatuagem, começar um namoro, rasgar aquelas fotos antigas, doar suas roupas preferidas, começar/terminar uma faculdade ou largar outra pra se jogar em algo que gosta; tudo isto é difícil e assustador. Mudanças são assustadoras.

Mas nós precisamos delas.

*

Acordei em um instante.

Não foi apenas um resmungo que despertou-me daquele sonho insano, foram vários, e a forma como meu belo travesseiro insistia em remexer-se no próprio lugar. Aquele belo, confortável, cheiroso travesseiro, com um pouco mais de um e oitenta de altura, ombros largos, olhos acizentados e barba por fazer.

Abri os olhos.

Demorei alguns instantes para situar-me, no apartamento de Turner, suficientes para que eu ouvisse mais um resmungo de sua parte. Não era um resmungo de quem faz sons aleatórios enquanto dorme, nem gemidos de quem está em um sonho erótico, e nem mesmo choramingos de quem está tendo um sonho triste.

Era um pesadelo.

Não demorou para que eu soubesse disto, porque a luz da manhã que entrava pela janela presenteou-me com a visão de um Turner em transe. Havia suor por todo o seu rosto, seu peito, os braços que já não me envolviam em um abraço. As sobrancelhas estavam unidas, e o sono estava tão pesado que mesmo com os olhos entreabertos, a boca seca e a respiração descompassada, ele não despertou.

— Turner?

Apoiei o peso no antebraço para levar uma das mãos para seu rosto adormecido. Pude sentir na palma da mão seu maxilar enrijecer sob a pele quente.

— Turner, acorda! — chamei, um pouco mais alto que um sussurro. — Turner?

Dei uma sacudida um tanto mais forte em seu ombro, antes de levar a mesma mão para seu rosto novamente. Engoli o grito quando sua mão fechou com força contra meu pulso, e desviei os olhos arregalados para os seus, que me encaravam de volta.

A expressão continuava dura, o maxilar cerrado, as sobrancelhas juntas, a mão forte contra meu pulso, e os olhos fixos nos meus com certa agressividade contida neles. Sem saber o que dizer, já que Turner houvera despertado, continuei com os olhos nos seus, esperando que me soltasse.

Made of FireWhere stories live. Discover now