Mil pensamentos, mil defeitos e mil amores.

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Não tenho a aparência ideal, não gozo da delicada fisionomia das moças bonitas, não atraio olhares, somente aqueles que porventura possuem curiosidade em observar quem está chegando, mas logo desviam-se ao deparar-se com uma menina normal, senão pouco interessante. Meus traços não são finos como das moças do sul do país ou do hemisfério norte do globo. Meu nariz não é arrebitado como da princesa que conquistou a graça de um povo em plena era moderna demonstrando além de plena beleza a figura de mulher/mãe/esposa ideal: a inglesa Kate.

Meus cabelos não são mais compridos como os das fábulas, outrora chamada Rapunzel hoje sou simplesmente a moça que não consegue fazer um coque com seu curtíssimo cabelo. Prendo-o num rabo de cavalo que mais parece de porco, transpasso a mão entre as madeixas e não prossigo nelas nem por 5 segundos que sejam. Cortei-as num ato de coragem e perdi minha força, de Rapunzel a Sansão recém enganado por sua Dalila, me perguntam: onde está o teu encanto agora?

Talvez estejam nas minhas pequenas coxas, delicadas e discretas às vezes escuto-as zombar da minha brasilidade e debochar da minha natureza latina. Elas em nada adornam os vestidos que eu uso e apenas preenchem vazios em minha calça (mas me servem para andar então as amo). Meu físico é longe de ser o ideal que me confunde, o ideal que hora é o magro absoluto outrora o musculoso e encorpado. Alimento-me bem e pratico exercício acreditando que eu possa vir a mudá-lo com esforço e dedicação (por que não uso essa dedicação para amá-lo?).

Sei que também não sou interessante em meus trejeitos. Hora rio demais, hora calo demais. Tenho mil pensamentos, guardo novecentos e noventa e nove bons e exponho o pior. As palavras não parecem gostar de mim e parecem fugir da minha boca em tropeços, e quando mais necessito delas, se escondem por debaixo da minha língua e negam meu senhorio, teimosas! Brincam de pula-pula em minha mente e esconde-esconde na minha boca, quando vejo, lá está uma rindo entre meus dentes.

Posso estar exagerando a meu respeito, mas não minto em nada que digo. Sem me desfazer da humildade, posso me permitir um elogio, uma qualidade da qual me agrado: tenho em meu peito mil amores! Meu coração não se contenta em conviver com as pessoas sem se cativar completamente por elas, tenho prazer na presença de quem me faz bem e prazer em cuidar de quem me aproximo. Meus mil defeitos as vezes me afastam de quem gosto, mas minha qualidade em expressar carinho por vezes compensa.

Infelizmente atraio dezenas de amores relâmpago que logo se dão conta dos meus mil defeitos. Mas meu coração cativo não esquece amigos com frequência, apenas os deixa adormecidos ali, entre os dentes junto com as palavras. Então me dou conta de que minha única qualidade é também o pior dos meus defeitos.

Silêncio que se lêOnde histórias criam vida. Descubra agora