Espinho Numa Rosa

Louvor à morte (Presságio)

ser feliz foi um presságio
do que estava por vir
eu queria contar minha história
mas ninguém quis me ouvir
resolvi, comigo, desabafar
antes de ir a procurar
minha auto estima que só existiu
para um dia se acabar

tentei fugir da melancolia
que tanto adorava me torturar
mas ela mesma me achou
e não quis, comigo, conversar

o que eu me tornei?
se um dia tanto amei
quem também me amava
até quem me odiou
dentro dessa minha cabeça oca
parece estar passando um filme de terror

Raul Seixas bem que podia ressuscitar
me dizer a hora exata que o trem vai passar
eu ousaria voltar no tempo
e ir embora antes mesmo de ficar

Renato Russo me contou
Que ainda é cedo para sofrer
ninguém nunca me tratou como uma rainha
mas não é por isso que irei morrer

nunca tratei ninguém de tal forma
quem dirá eu, ser tratada assim
não sei mais quem quer me ver no inferno
nem os que rezam por mim

no fim, escolhi louvar à morte
todavia, não era a minha hora de partir
sempre foi questão de ter sorte
e ela escolheu me manter por aqui

e quem sabe tudo isso
também é um presságio
que daqui a alguns anos
a felicidade não custe tão caro