A estrada para Merilinídia

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    A estrada para Merilinídia

No dia 81 do mês do Aviso do ano de 1160P.G., após 1 ano sob a vigia de Laverna e a Ordem dos Ladrões, e com 14 anos, o moço já estava mais calejado. Próximo ao meio dia, Sef e Kaiko fizeram a última despedida e partiram após agradável desjejum. O sol estava fraco e ínfima brisa gélida soprava.

Antes de sair, Kaiko recebera lenço de Laverna. Um presente de aniversário atrasado – disse ela. O lenço servia para cobrir o rosto e tinha a estampa dum sorriso de caveira; representava o topo da hierarquia dos ladrões, ficando apenas abaixo da própria animórfa.

Ao final da tarde já tinham se distanciado de Albarro e permaneciam na arborizada estrada Albarro/Merilinídia que seguia para o norte. A paisagem agora era de mares de morro e estavam passando exatamente por um trecho onde colinas haviam sido cortadas dos dois lados; deixando a passagem protegida por paredões de pedra. A cavalgada levaria algumas semanas e seria cansativa, mas o tempo de convivência acabou por criar discretamente uma relação de amizade entre os dois, amaciando o ardor da cavalgada.

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- Laverna é muito misteriosa – comentou Sef. A lua já brilhava forte no céu e ambos procuravam bom lugar para descansarem.

- A sensação que ela passa é exatamente como você me disse há muito tempo atrás: "não é boa e nem má, apenas alguém comprável".

- E então? Como foi o ano?

- Invasão de propriedades, fuga de guardas e cães de caça, treinamento com facas e armas pequenas, e tantas moedas quanto meus bolsos foram capazes de carregar. De mais pesado, fui obrigado a matar um homem. Não orgulho-me do que fiz, porém agora não me castigo mais com a culpa.

- Nunca tinha feito isso antes não é? A primeira vez é sempre difícil para a maioria – disse Sef. – Mas conte-me como foi.

- Certa vez, Laverna me convocou para missão. O acordo de paz temporário entre Albarro e a Ordem dos Ladrões ainda vigorava e por isso o alvo foi uma comitiva do banco de Aralthar. Barras de ouro avaliadas em 40 dotes seriam transportadas pela comitiva até a cidade de Nascente, no norte. O plano era perigoso e ambicioso. Deveríamos assaltá-los enquanto passavam na estrada Helithem/Albarro. 40 guardas protegiam a carruagem. Com certeza não fora a maior das transições bancárias, mas 40.000 lascas é lucro que merece a nossa atenção. Se atacássemos em massa o roubo poderia unir algumas cidades contra nós, principalmente com o poder que os bancos possuem. Um esquadrão com 5 dos melhores ladrões e eu fomos escolhidos.

- Imagino como foi – comentou Sef.

- Não fui escolhido devido a habilidade, e sim porque minha idade se encaixava perfeitamente na tarefa que fui incumbido. Ninguém suspeita de alguém tão jovem. Eu já havia participado de outras missões antes, mas nunca com os Sorrisos de Caveira, como eram conhecidos aqueles do topo da hierarquia. Foi incrível. A comitiva passava por área arborizada quando tudo começou. Eles pareciam sombras. Quando um guarda se afastava para urinar ou defecar, ou respirar ar puro, ou simplesmente dormia cerca de 10 metros de distância dos demais; ele sumia. Os Sorrisos os matavam tão rapidamente que sequer conseguiam gritar, roubavam as roupas e armaduras e as vestiam, e retornavam para a comitiva como um deles. 2 dias foram o suficiente para que todos se infiltrassem. Como ainda era menor, minha tarefa ficou restrita a fugir com o baú assim que conseguissem pegá-lo. Graças aos deuses Kythar me fez ter músculos fortes, pois baús de ouro pesam mais do que parecem. Tudo ocorrera como planejado. Ao anoitecer mataram o guarda dorminhoco que deveria estar de vigia e me entregaram o carregamento. Eu corri o mais rápido que pude e coloquei-o numa carruagem nossa que estava escondida sob as árvores. Somente 48 horas depois, na taverna, Laverna me contara o restante do plano. Os guardas conferiam o ouro três vezes ao dia e os cinco primeiro turnos foram dos Sorrisos de Caveira, dando-me tempo suficiente para fugir sem nenhum perigo. No sexto turno o baú simplesmente não estava mais lá. Os Sorrisos haviam colocado um baú falso no lugar e fingiram levá-lo em direção a Helithem e depois Barbária, deixando rastros propositalmente para serem seguidos. Somente três semanas depois os guardas conseguiram encontrar o baú vazio. Já estavam na estrada Barbária/Quedas D'água, a quilômetros de distância. Seguindo a lógica, se os ladrões sumiram naquela região é porque pertenciam àquelas redondezas; a Ordem em Merilinídia ficou livre de qualquer suspeita.

As crônicas de Kaiko: A Ordem dos Grifos(Completo)Where stories live. Discover now