brilha.

1K 153 37
                                    

o
sol

fora
nasce,
mas
não
brilha
sem você aqui

“ele está em um lugar melhor
agora, thor”, steve rogers me diz
e como posso acreditar em tal
blasfêmia, quando seu melhor lugar
sempre fora a meu lado,
em meus braços?

a batalha chega ao fim
e perdemos pessoas
perdemos muitas pessoas
mas de alguma forma
a única perda que me
assombra
até hoje
que consome
minha alma
até hoje
que enche
meus olhos de lágrimas
até hoje
é a sua, loki
é sempre você
sempre foi, na verdade
então não é lá uma grande surpresa
que mesmo após a morte
e, espero eu, a “morte”,
ainda seja o centro das minhas
atenções
deus das travessuras,
deus do meu coração

há dias
talvez meses
mesmo anos
que você se foi
e continuo aqui
ansiando tocar-lhe o corpo
uma vez mais. antes que seja
tarde demais,
e eu sucumba à
desistência,
à carência
e perca a fé na
resistência

tem dias que olho para a janela
pisco em meio a lágrimas
cego pelo sol
que brilha fisicamente
mas nunca como mencionaste
em teus últimos suspiros de vida
por que será isso, meu loki?
por quê?

pego-me lembrando das noites em que
rimos de travessuras nossas
enquanto crianças
você nos meus braços,
sorriso tão límpido e sincero
como era corriqueiro na infância
quando brincávamos juntos
inconscientes do mundo
e toda sua importância
pego-me lembrando das vezes em que
dormimos juntos
quando tu ias à minha cama
parecer trêmulo
mãos suando frio
por medo da tempestade
e me abraçavas forte
escondendo o rosto em meu peito
em silêncio clamando “obrigado,
obrigado por estar aqui,
obrigado por me deixar estar aqui.”

pego-me lembrando dos momentos em que
baixavas a guarda
e me deixavas desfrutar dos carinhos teus
sem acidez ou palavras espertas e incisivas
sem a ironia costumeira que escorria
do semblante teu enquanto vivia
e, espero eu, “vivia”
no pretérito imperfeito
incerto
esperança
resistência
inconsequência — ineficácia

lembro dos conselhos teus
na adolescência
das tuas palavras sábias
e da tua postura sensata
tua falácia centrada
acalmando meus nervos de
criança, inconsequente e mimada
completamente domada
pela adoração acéfala de quem me rodeava
único que tinha a coragem e a
bondade. sim, bondade
em proferir o que me era necessário
ouvir
para que entendesse
e compreendesse
que a coroa tem mais a oferecer
do que glórias na batalha
abundância e fartura,
prosperidade dentro e fora
da realeza. e qual agora não é minha
tristeza
assistindo às minhas atitudes de pequeno homem
sendo refutadas e reveladas atos desqualificados
de um rei
chorando às noites em que não tenho a ti.
não mais
para com tuas palavras sábias
e tua postura sensata
tua falácia...
centrada
acalmar meus nervos de
criança, não mais tão inconsequente
ou mimada
mas ainda assim
completamente domada
pela adoração acéfala que me rodeava
e agora, pois, torna a rodear
enquanto no céu somem os invasores de midgard
e de um lado a vitória da humanidade
de outro, a perda de toda uma raça
e de outro, do meu, a de uma eternidade

nem mesmo os consolos de stephen são capazes
de acalentar meu coração, quando ele diz
“talvez eu possa trazer de volta seu irmão”,
pois a esse ponto, a esperança já é uma mera
faísca
existindo à risca
e à toa,
talvez, mas à toa
quando ainda choro todas as noites
esperando pela sua volta
sem sucesso,
mas com decepções de sobra

“ele está em um lugar melhor agora”,
continuam repetindo a meu lado
e sequer dou ouvidos
pois você está vindo em minha direção
olho para baixo e vejo suas mãos
estendidas, abertas, chamando por mim
e seus lábios movem-se em um singelo
“venha, thor”
e eu vou.
mas tão logo o toco,
seu corpo desfaz-se entre minhas palmas
e percebo que é apenas uma ilusão
uma mera miragem criada por minha mente
em busca de conforto em meio à sofreguidão

pisco
olho para os lados
a cidade está destruída
os prédios em pedaços,
como meu coração
eu sussurro, “volte, irmão”
e sinto stephen tocar-me o ombro
murmura algo que não ouço
pois, mais uma vez,
vejo-me hipnotizado por seu rosto
sorrio para a visão
e deixo que minha esperança se vá
o fim do dia leva consigo os últimos raios
de sol,
e ele desce
não brilha. — e talvez,
para mim,
nunca
mais
venha
a
brilhar.

THE SUN | 𝐭𝐡𝐨𝐫𝐤𝐢Where stories live. Discover now