Capítulo 6

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Me aproximei devagar da porta para tentar ouvir o que eles falavam.

Escutei Isaac dizer:

“Ta bom, vai embora, não quero você aqui”

Então resolvi entrar no quarto.

A doce menina de cabelo curto e bunda grande me olhou assustada e o perguntou quem eu era e automaticamente a respondi

— Namorada dele, por favor, ele não pediu pra você se retirar, então tchau – fez um bico do tamanho de um tucano e foi embora

— Minha namorada? – sorriu mostrando as covinhas

— Era só pra ela sair daqui ou você quer que eu a chame de volta? – virei colocando os sacos em cima da cômoda

— Não – tossiu – trouxe o que eu pedi? – fiz que sim com a cabeça

Lhe entreguei os medicamentos, o chocolate (que ele comeu feito criança) e já estava indo embora quando ele me pediu pra ficar de um jeito tãaaaaaao (sintam a intensidade) fofo que eu não resisti, sentei na beira da cama.

O quarto dele era bem acolhedor, branco com uma parede preta, onde tinha uns quadros e desenhos rasbicados por ele.

Na cômoda tinha a tv e um porta retrato que eu demorei muito para perceber que era uma foto nossa.

O dia em que tiramos essa foto foi o dia em que mais sorrimos, Isaac estava tão radiante. Eu estava nas costas dele fingindo estar voando, sorrisos que davam a entender que durariamos para sempre.

— Desde quando isso ta aqui? – falo pegando o porta retrato

— Você guarda o urso e eu a foto, mas não é pra ver como as pessoas mudaram, é só pra eu lembrar de como fui burro em não dar valor, sabe? – ficou me encarando

Fiquei observando a foto e imaginando como teriam sido as coisas se ele não tivesse feito besteira, como teria sido se a gente tivesse se entregado um pro outro de verdade mas tenho que deixar o passado no passado.

Tia Olivia havia trago uns sanduíches e suco pra gente, fazia tempo que não a visitava e ela continuava a mesma, seus cabelos pretos tingidos e sua pela branca igual porcelana.

Ela cuidava tão bem de Isaac que qualquer um diria que era realmente a mãe dele, mas como dizem, mãe é quem cria.

Ficamos o restinho da tarde conversando. Até Isaac decidir assistir um filme, sentei na cadeira nada confortável e começamos a ver Velozes e Furiosos

— Deita aqui, o genia, vai ficar toda torta ai – disse me tacando uma almofada

— Eu não, pra você me agarrar?? To fora – ri e vi a expressão de seriedade nele, então deitei na outra ponta da cama

— Cara, eu não vou fazer nada contigo, por que esse medo todo?? – disse sentando na cama

— Porque não quero que aconteça nada que você vá se arrepender depois – não tirei os olhos da tv

— Ah claro, eu vou me arrepender de fazer carinho em sua cabeça, deita logo aqui – depois de muita insistência, deitei em seu peito e o mesmo fez carinho em minha cabeça

Acabei dormindo e acordando de noite com uma ligação preocupada da minha mãe.

Levantei correndo assustada e vi que Isaac não estava mais do meu lado, pronto, ele já foi correndo contar para os amigos.

Peguei minhas coisas e fui indo em direção as escadas, desci sem enxergar nada e morrendo de medo, tentei procurar o interruptor, porém vi que a luz da cozinha estava acesa, então caminhei em direção a ela tomando cuidado pra não quebrar nada.

Comecei a sentir um cheiro muito bom vindo de lá, cheguei na porta e vi Isaac sem camisa mexendo uma panela.

Juro pra vocês que tentei me conter e não olhar para o corpo dele mas não deu, ele tinha lá seus músculos mas não eram tantos, estava com seu fone de ouvido e aposto que se eu gritasse ele não iria ouvir.

Encontrei jogado em cima da bancada um recado de Tia Olivia avisando que não quis nos acordar porque estávamos lindos dormindo e que ela tinha ido se encontrar com Xavier, logo o imaginei usando cadeiras de rodas e careca, desculpa mas quem não imaginaria??

— Um ótimo motivo pra nos deixar dormindo né? – falou alto demais e depois riu disso ao tirar o fone

— Ela é uma pessoa boa, adoro ela – sorri segurando o papel – preciso ir, já está tarde

— Fica pra jantar, fiz meu prato especial – sorriu – vai, por favor, prometo que te levo em casa – fez cara de cachorrinho abandonado

— Pera, você não estava doente? – olhei fingindo desconfiar

— O enjôo diminuiu, só to com uma tosse chata  - disse pegando o refrigerante na geladeira – pega os pratos e talheres? – fiz que sim com a cabeça

Sentamos e comemos um maravilhoso bife com batata frita, a sobremesa foi sorvete, é não posso negar que não foi muito diferente de antes, ele adorava me agradar.

Já eram 22h, minha mãe não parava de me ligar e Pedro não parava de mandar mensagem.

Me pergunto como consegui ficar tanto tempo off.

Tirei a mesa enquanto Isaac subiu para se vestir, quando desceu veio com a seguinte pergunta:

"Vamos a pé ou de carro?"

Queria eu poder escolher isso em casa, lá em relação a mim é assim:

“Quer andar de carro? Compre o seu ou peça pro seu irmão te levar."

Meus pais não deixam nem eu tocar no volante do carro deles.

Por fim decidimos irmos andando, estava um frio danado então roubei um casaco de Isaac.

Era meu casaco favorito dele, era todo preto com uma nota musical gigante em decomposição, ficava um vestido em mim mas eu amava.

Andamos um bom pedaço até minha casa mas pelo incrível que pareça nós conversamos muito, aliás, estamos conversando muito, até chegamos a brigar coisa que ano passado não faziamos, nem nos olhavamos, só ignoravamos o que aconteceu e quem cada um foi na sua vida.

— Mas fala ai, me chamou pro show só pra não ficar de vela? – senti sua mão se aproximar da minha.

— Sinceridade? – ele fez que sim – Edu disse que só me daria os ingressos se eu levasse uma pessoa comigo e essa pessoa quem escolheu foi ele – sorri

— Então você não quer que eu vá? – abaixou a cabeça

— Não é isso – virei para ele e segurei a sua mão – eu quero que você vá, porque me sinto bem perto de você – me dei conta do que fiz e do que falei, logo larguei sua mão e sai na frente – desculpa

— Desculpa por que? – segurou meu braço – pode falar, para de se esconder

— Não to me escondendo, só estou confusa – olhei dentro de seus olhos – só não quero alimentar nada

— Viaja comigo? Vamos pra Boston semana que vem ver meus avós – olhei assustada para os carros buzinando que passaram pela rua escura - E sinto que com você lá vai ser melhor.

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Meu coração não aguenta esperaaaaaar hahaha
Não esqueçam das estrelinhas ❤

Mudando DireçõesWhere stories live. Discover now