Capítulo 16

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QUARTO DIA

A chuva batia com força do lado de fora da cabana em que as  fêmeas estavam sendo contidas. Leda olho suas amigas, suas irmãs e seu coração se contraiu. Mais uma vez tentou contatar Skylar pelos pensamentos, como esta havia lhe instruído, mas não conseguiu sentir nada. Nenhum retorno.

Provavelmente a amiga estava longe demais para conseguir sentir o seu apelo, ou já teria ido ajudá-las.

Mena se remexeu durante o sono, a expressão de dor por causa dos ferimentos em suas asas não se abrandou na inconsciência. Aninhadas umas nas outras Artemisia, Aradia, Callisto e Irina tentavam afastar o frio congelante do chão de pedra, sem sucesso.

As seis haviam sido capturadas e aprisionadas na madrugada do dia anterior. Arrancadas de suas camas e jogadas na lama no meio do acampamento. Os machos haviam se certificado de que Cassian levasse a mulher e os filhos para poder agir, ja que sem ele e sem Sky elas estavam indefesas. Ah, haviam lutado, sem dúvida, e alguns cadáveres tiveram que ser enterrados, mas o que seis fêmeas, por melhores guerreiras que fossem, poderiam fazer sem sifões ou armas contra um acampamento inteiro de guerra?

Fez um esforço para se manter imóvel, a dor no tornozelo dificultando sua determinação de parecer forte para as outras. Fosse por ser mais velha, ou meramente por sua constituição, mas as outras haviam se voltado em busca de Leda quando Skylar partiu do acampamento.

Os cabelos loiros tremularam de leve com uma corrente de ar passando por uma das frestas da janela, fazendo com que as outras estremecessem. Se suas asas estivessem soltas poderia esticá-las e as proteger. Mas todas elas estavam atadas: mãos, pés e asas. Não se deram ao trabalho de as amordaçar já que ali ninguém as ajudaria.

A exigência foi clara e direta: elas tinham que abdicar de suas posições como guerreiras e desistir de seu direito de lutar. Deveriam se curvar perante os machos e voltar para ‘seu devido lugar’. Nenhuma delas havia aceitado.

Mena, a mais esguia e rápida das seis, havia tentado escapar, apenas para ser derrubada do céu como um pássaro atingido pela pedra de um estilingue. A queda havia machucado seriamente suas asas, e se estas não fossem curadas da forma correta, poderiam nunca mais funcionar. Os machos apenas riram e a jogaram de qualquer jeito ali dentro.

Fechou os olhos, se concentrando e tentando chamar por Skylar mais uma vez.

— Desista. Ela não esta ouvindo. — Irina disse baixinho, com cuidado para não acordar as outras.

— Não. Não podemos desistir, você sabe disso.

— Eu sei? O que eu sei é que nós apenas a seguimos cegamente, e então ela virou as costas e nos deixou à própria sorte sem olhar para trás. — A voz de Irina estava amarga de desilusão.

Leda não soube o que responder. Havia pensado que Skylar gostasse delas, que fossem todas amigas. De fato se não fosse por sua força e por seu incentivo nenhuma delas teria criado coragem para ir até o fim do treinamento. Se não fosse pela proteção e ajuda de Sky durante o Rito de Sangue, sem dúvida nenhuma delas teria sobrevivido.

Respirou fundo, e tentou encontrá-la mais uma vez. Sem sucesso.

— Nós precisamos encontrar uma forma de sair daqui. — Disse por fim.

Tinha que pensar, e o fez. Quando a luz do sol começou a brilhar por aquela fresta, um plano havia se formado em sua mente.

Quando o macho que estava de guarda dessa vez entrou com a comida, encontrou Callisto caída no chão. Com olhos cheios de lágrimas Artemísia implorou a ele.

— Por favor, ajude-a! Nós não sabemos o que aconteceu com ela. Por favor!

Ele praguejou baixinho, mas se aproximou. Levou o pé para perto da mulher caída, prestes a cutucá-la, mas se surpreendeu quando esta rolou e bateu em suas pernas com força, fazendo-o se desequilibrar. As outras esticaram os braços, e apesar das mãos atadas conseguiram jogá-lo no chão. O guerreiro lutou um pouco mas um chute em seu rosto com os dois pés, muito bem aplicado por Aradia, o deixou inconsciente.

Corte de Estrelas e Luz SolarWhere stories live. Discover now