[01] • Plutão •

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Eles não estavam em casa, haviam saído, estavam bem longe dali, mas eu decidi ficar, eu precisava ficar.

Eles não faziam ideia de tudo o que eu planejava fazer comigo mesma há tanto tempo e, por enquanto - naquela época -, eu preferia assim. Eles já teriam descoberto se tantas coisas não houvessem dado errado em minhas outras tentativas.

Mas, hoje seria completamente diferente, hoje aconteceria, independentemente de tudo, nada me impediria, pois eu não permitiria que nada acontecesse para me atrapalhar, nada poderia acontecer; essa história tinha logo de chegar ao fim, um ponto final precisava ser criado e logo.

Optei por não deixar nenhum bilhete, na verdade, eu nunca fora nenhuma mestre em escrevê-los, aliás, o que eu poderia escrever? Uma folha com vários pedidos de desculpas? Uma folha com meus motivos enumerados? Bom, para falar a verdade, eles precisavam mesmo disso, mas eu não podia, não podia dizer meus motivos; não podia dar tantas certezas para os mesmos, eles sofreriam, sim, mas eles sofreriam ainda mais se eu explicasse ou me desculpasse por algo.

Eu não poderia fazê-los se sentir tão culpados por algo que eles nunca tiveram culpa por acontecer; não poderia dizer a eles o tamanho da tempestade que existia dentro de mim e nem molhá-los com a mesma; não poderia dizer que todos os gritos do mundo inteiro não seriam suficientes para me esvaziar, pois eu já estava vazia, querendo ou não, eu estava vazia, e doía admitir isso.

Não percebi que, fazendo o que fiz, os envolveria em uma tempestade muito maior que a que existia em mim.

A... eu estava tão errada... se eu pudesse voltar atrás e consertar tudo, com certeza, eu consertaria; se eu pudesse voltar haveria evitado toda a dor que eles sentiram, por culpa minha, mas, agora, é tarde demais...

Eu aprendi que o suicídio não é a melhor saída da pior forma possível, ou seja, tentando fazê-lo.

Eu não queria que encontrassem meu corpo; não queria que me vissem na situação que me viram; não queria que assistissem tudo o que acabaram assistindo, mas não tinha outra saída, eu não poderia fugir dali.

Entre todas as alternativas que me foram dadas, morrer era o caminho mais fácil a ser percorrido, então, mediante a tudo isso, tranquei-me em meu quarto e pus-me a pesquisar formas de ter uma morte indolor enquanto eles assistiam uma de suas séries favoritas na televisão, mas, o que eu não sabia; o que não passava por minha mente, pois a mesma estava, assim como meus olhos: cega, era que, na verdade, não existe e nunca existirá uma morte completamente indolor, pois mesmo eu não a sentindo, as pessoas que realmente se importam com minha presença a sentirão. Eles a sentiram.

Mas, eu não enxerguei isso. E sabe o pior de tudo? Eu não optei por uma morte indolor, pois, aos meus olhos, eu merecia sentir toda a dor do mundo.

Eu merecia sentir dor, pois para mim eu era tudo o que eles falavam; merecia sentir dor pois eu era uma peça sem encaixe que nunca encontraria um lugar em meio a todas aquelas pessoas já encaixadas; nunca existiria um arco-íris após minha tempestade.

Eu me sentia mal por ser tão deslocada; por em meio à todos esses planetas eu ser considerada plutão, que fora desconsiderado por não se encaixar aos padrões tão exatos que os outros se diziam ter.

Eu merecia sentir dor pois estava desistindo de tudo, estava abandonando tudo; eu merecia sentir dor pois minha família sentiria dor por minha causa, eu querendo isso ou não; eu merecia sentir dor, pois aos meus olhos, eu era a culpada de tudo, eu não enxergava algo que estava totalmente evidente: eu não era a culpada, nunca havia chegado a ser.

Então, eu optara por morrer com algum tipo de tortura; optara por morrer sentindo dores; optara por morrer vendo - e sentindo - tudo se desfazer. Eu merecia isso.

Fui uma completa cega, me deixei levar por sentimentos destrutivos, e assim, me autodestruí ainda mais.

Eu optara por misturar vários métodos, pois, eu merecia sofrer o máximo possível, para mim; aos meus olhos; minha morte seria um favor a todos, e esse, foi um dos meus maiores erros, pois eu nunca estive tão equivocada.

Capítulo dedicado à Alana_Cristina2603

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