Selon(Rodada 1)

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Selon(Rodada 1)

- Sim. O carcereiro gordo morreu sim hahaha – dizia Selon consigo mesmo enquanto avançava pela floresta. Fazia menos de um dia que tinha fugido da prisão, sujo e com suas roupas esfarrapadas. Ele era burro não era? Acreditou que eu tinha uma fortuna guardada. Coitado HAHAHAHAHA. – Enquanto fugia, encontrara um arpão de madeira com ponta de ferro e uma corrente. Uniu-os, e agora o som do rastejar da corrente misturada a sua conversa paralela consigo mesmo dera-lhe um ar assustador.

- Para Selon! Você era um bobo bonzinho não era? Me tiraram tudo, me trancaram por uma coisa que eu não fiz. Não... Nunca mais vou voltar, vou matar todos eles HAHAHAHAHA. Vou caçar. Morte HAHA... Sim, vamos festejar com morte. – Se estapeou. – Não pode bater em mim Selon. Eu sou o Selon. Selon te mata e te faz rir. Droga, estou com medo Selon, estou perdido, estou comigo em algum lugar. Mas para onde vou? Ah sim... Para Albarro sim. A última cidade das Terras dos Homens não é? Vamos matar seus habitantes e violar seus corpos não vamos? Ó Selon, te amo Selon. Que o mundo acabe em cerveja. Que meu novo mundo seja só alegria e morte. Vou buscar a coroa do Rei Antigo sim, não? Vou criar o mundo de Selon. Vou comer o mundo de Selon. Vou me governar HAHAHAHA...

Devido às longas viagens que fez como Bobo, Selon conheceu muito bem o território das Terras dos Homens. Sabia que Albarro era a última civilização antes de cruzar a fronteira com as Terras Sagradas; e assim decidira chegar até ela. Consigo carregava também uma esmeralda esverdeada como pingente de cordão. Recebera-a como pagamento dos alunos do Templo, muitos anos atrás.

No caminho, Selon parava nas estalagens e casas de fazendeiros. Com sua grande lábia, conseguia um lugar quente para dormir, refeições e favores. Em um momento era um lorde rico que havia sido assaltado e perdido todo o dinheiro na estrada, mas recompensaria quem o ajudasse assim que retornasse ao lar; em outro, era um caçador que buscaria a melhor carne de veado para aquele que o desse um bom quarto para dormir. Noutra, era o próprio intendente de Durm, viajando em assuntos confidenciais de Sarren. Não importava quem era, o papel era interpretado com tanta perfeição que nem mesmo um único homem suspeitara.

No quinto dia, o Bobo aproximava-se da calma cidade de pequeno-porte, Albarro. A maior parte da população vivia em fazendas afastadas distantes do centro. De mais avançado, havia um conjunto de construções que limitavam-se a uma taberna, casas de comércio e casas comuns.

Selon viajava em uma carruagem negra. Lá dentro, almofadas e cortinas em vinho com bordas douradas enfeitavam o lugar. Um lorde gordo, calvo e bigodudo viaja junto à Selon enquanto a carruagem era escoltada por cerca de 10 cavaleiros; todos montados e bem armados.

- hahahahaha... conte-me mais uma de suas piadas meu querido Selon – pediu o Lorde.

- Um dia, tive um amigo chamado Robert. Este, criou seus três filhos até o fim. Robert havia se apaixonado por uma linda camponesa de Merilinídia, e, apesar de o convívio entre eles não ter dado certo, e Robert ter ido morar longe, ele sempre trabalhava além do que sua saúde permitira para enviar à mulher dinheiro e o que mais fosse necessário; assim seus filhos seriam bem-criados – fez uma pausa dramática. – No décimo oitavo dia do nascimento de seu último filho, Robert já o via como um homem-feito. Feliz e orgulhado pelos longos e duros anos ajudando na criação deles, decidira que enviaria o último filho pessoalmente para entregar a mãe o último saco de moedas. "Meu filho, leve isso para a sua mãe – e lhe entregou as moedas. – Diga-a que nunca mais quero vê-la, que minha divida com ela terminou, e que agora seguirei feliz meu caminho; diga que não quero vê-la mais. Depois retorne para me contar pessoalmente o que ela lhe disse."

- O menino fez o que lhe foi mandado – continuou Selon. – Após entregar o saco de moedas, viajou durante dias até reencontrar o pai. "Diga-me meu filho, o que aquela mulher disse a você?" – perguntou o homem, ansioso; pensando que talvez agora a mulher pediria para que ele retornasse. "Ela disse que o senhor não é o pai" – respondeu o filho.

- HAHAHAHAHAHA... – o Lorde engasgou-se de tanto rir. – Você é o melhor príncipe que conheço Selon. Se algum dia for a Sarren, procure-me, e terei prazer em casá-lo com minha filha mais bela. – Tentou recuperar o fôlego.

- Obrigado senhor, mas tenho assuntos a tratar. Devo descer aqui, e seguir andando.

- A cidade está há poucos quilômetros de distância, fique até lá pelo menos – insistiu o Lorde.

- Não posso – disse Selon. – Mas agradeço novamente.

Seguindo seu caminho a pé, Selon encontrava-se com um saco cheio de moedas de ouro e roupas refinadas; mas que ainda o faziam parecer um bobo da corte.

Quando finalmente chegou à Albarro, notou que não havia nenhum tipo de muro na pequena cidade. Aproveitou a livre passagem para esconder-se em um beco. Há sua frente estendia-se uma larga rua de terra batida. Era meio-dia, e as pessoas ocupavam-se com seus afazeres. Haviam apenas 12 guardas em toda a cidade, e estes limitavam-se ao centro do lugar.

Espreitando na saída do beco, Selon avistou dois soldados parados à sua direita. Conversavam distraídos sob a varanda de um prédio.

- Selon vai brincar com eles. Eu sou engraçado, eu vou brincar de matá-los, ou, talvez, de torturá-los – dizia para si mesmo.

A construção com a varanda era uma casa de comércio. Fingir-se de um lorde rico a procura de mercadorias foi relativamente fácil com aquelas roupas. Disse ao comerciante que adorava caçar, e que por isso carregava o arpão. Em um momento, quando o homem se afastou para outro cômodo para buscar sua mercadoria, Selon subiu as escadas correndo até o último andar e chegou à varanda.

De lá, preparou a corrente do arpão e desceu-a na esperança de que algum dos guardas fosse ingênuo o suficiente para agarrá-la, e leve o suficiente para ser puxado para cima. Pensando bem, era isso o que parecia ser; mas como ter certeza das ações de um louco?

Um dos soldados, meio gordo e manco, aproximou-se e sequer tocou a corrente. Olhou para cima e avistou Selon, parado com um sorriso assustador e olhos que refletiam a loucura.

- O que está fazendo? – perguntou o Gordo.

Ao ouvir as palavras, Selon saltou da varando com o arpão, pretendia eliminar o homem ali mesmo; com a rua movimentada em plena luz do dia, e aos olhos de qualquer um.

O homem, em reflexo, posicionou seu escudo e sofreu um profundo corte no ombro, mas nada letal ao que parecia. Rapidamente o segundo soldado se impôs com um golpe usando o punhal de uma espada de uma mão. O impacto fez Selon tontear, mas não derrubou-o. De repente uma gritaria da população ao redor se iniciou e, em poucos segundos, todos os guardas da cidade rodeavam o Bobo.

- Foi divertido – disse Selon. Deu uma risada tão sinistra, tão profunda, e tão louca, que nenhum dos 12 homens ousou avançar. Segurou firme a esmeralda em seu colar e logo uma luz verde começou a rodeá-lo. Em menos de 5 segundos, Selon havia sumido.

Apareceu na fronteira com as Terras Sagradas, rindo com gargalhadas altas enquanto se deitava no chão. HAHAHAHAHAHAHA...

Louco como era, ficou ali por um tempo. Depois ergueu-se, virou-se para as Terras Sagradas ao horizonte, e continuou seu caminho pelo campo aberto.

- Eu sou Selon, eu vou matar você, eu vou divertir você, eu sou o melhor bobo – continuou dizendo para si mesmo.

Livro-jogo: A busca pela coroaWhere stories live. Discover now