De volta ao passado

C A P I T U L O C I N C O

Sempre escolho o mês de julho para tirar férias da empresa que trabalho, já que nesse mês também tenho férias na faculdade, então tiro férias logo em tudo, mesmo gostando de trabalhar bastante para ocupar minha mente e também porque amo o que faço, chega uma hora que o corpo pede ferias, sou um ser humano é preciso descansar e tirar um tempo para cuidar de mim e principalmente da minha saúde, é nas minhas férias que aproveito para fazer os exames de rotina também.

O dia estava bem frio no meu primeiro dia de férias, inverno começou com tudo, dezessete graus era muito frio para uma carioca que estava acostumada com calor e bastante sol, saio de casa mesmo assim, precisava ir almoçar uma deliciosa sopa de ervilha que vende em um restaurante aqui próximo, a melhor sopa de ervilha que já comi na minha vida, sempre que o tempo está assim eu almoço lá.

Aproveito para colocar um sobre tudo vermelho bem quente, com uma calça jeans escura justa, junto com minhas botas novas pretas de cano baixo e salto, pego minha bolsa, saio de casa e quando estou caminhando despreocupada e aquecida pela transversal próximo a minha rua, o vejo.

Eu achava que havia deixado meu passado para trás, então o vejo na transversal que dava para minha rua em um dia frio de inverno,
Eu estava enganada,
Ele estava lá,
Gabriel sempre esteve lá.

Pisco algumas vezes para ver se aquilo não era miragem, meu coração batia tão forte que parecia que eu ia infartar, meu corpo não conseguia reagir aos comandos do meu cérebro, paro no meio da calçada, fico imóvel, e é nesse momento que ele me olha, nossos olhares se cruzam e eu sinto a mesma corrente elétrica que sentia há sete anos atrás, ele também fica imóvel a uns vinte metros longe de mim, me olhando fixamente.

Ficamos nos encarando, ambos sem reação, sem falar nada, sem esboçar qualquer reação, só olhares, o tempo tinha sido gentil com ele, continuava lindo como dá última vez que eu o vi.

Com força total todos aqueles sentimentos e emoções que eu achava que já tinha superado voltam, como se não tivessem passado sete anos, como se nunca tivessemos nos separado, ali naquela rua, naquele dia frio, era somente eu e ele.

Ele caminha até a mim, fitando meu rosto a todo momento até que para a dois passos na minha frente, eu pude vê-lo melhor de perto, meu coração batia ainda mais forte, se é que isso ainda era possível, então finalmente ele quebra o silêncio.

-Manuella ?! - ele susurra, mais como uma afirmação do que como uma pergunta.

-Gabriel ?! - eu susurro também .

-Faz quanto tempo que..- ele diz .

-Seis anos - eu digo interrompendo-o.

-Você não mudou nada, na verdade está mais bonita- ele diz.

-Você também está otimo- eu digo .

-Seus cabelos estão maiores - ele diz.

Da última vez que eu e Gabriel nos vimos eu tinha o cabelo na altura dos seios, ele amava meu cabelo grande, já agora eu tenho o cabelo batendo na cintura, meu cabelo loiro e super liso batia quase na bunda.

Eu pesava apenas sessenta kilos, era super magra, agora estou pesando sessenta e sete bem distribuídos, comecei a malhar assim que me formei na faculdade e não parei mais, comecei também a me alimentar super bem, já que  a dieta da minha mãe do câncer era bem restritiva eu comecei me alimentando da mesma forma do que ela para incentiva-la dando um apoio moral e também para mais tarde eu não vir a ter nenhum problema de saúde.

Já malho e me alimento bem há anos, sou adepta a uma vida saudável, como tenho pré disposição ao câncer prefiro evitar coisas que podem me levar a tê-lo.

Antes da minha mãe adoecer, todo final de semana eu estava na praia, já agora eu evito ao máximo devido ao câncer de pele, confesso que fiquei um pouco neurótica com isso mas prefiro evitar qualquer coisa que possa fazer com que eu tenha câncer, por isso da minha pele ser tão branca.

Eu tinha vinte e quatro anos da última vez que o vi, agora tenho trinta, eu estava fazendo minha pós graduação, agora já tenho até mestrado, eu tinha os seios pequenos, agora já até coloquei silicone, era super magra, agora tenho mais perna e bunda, a dor me fez melhor, me fez correr atrás dos meus objetivos e cuidar mais de mim, hoje posso dizer que estou feliz com a minha aparência e mais focada do que nunca.

-Muita coisa mudou Gabriel - eu digo.

-Eu sei, estou vendo- ele diz

Me olha de cima para baixo, seus olhos percorrem todo meu corpo, até que voltam até meu rosto e olha nos meus olhos denovo, a corrente elétrica percorre todo meu corpo, meu coração acelera com um simples olhar, um olhar intenso, de desejo, fome, tesão e eu que achava que nunca mais fosse sentir esse turbilhão de emoções estou entregue, novamente .

-O que você acha de tomarmos um café?-  ele oferece.

-No horário de almoço? Estava indo almoçar agora- eu digo rindo.

-Entao vamos, estou cheio de fome também, você ainda come no restaurante do Bill? - ele pergunta.

-Ainda é meu restaurante favorito - digo.

-Que tal uma sopa de ervilha?

-É isso mesmo que eu ia pedir- digo.

-Então vamos - ele diz e segura na minha mão .

Minha mão que estava fria, imediatamente fica quente com o contato, não só a minha mão como todo meu corpo.

Seis anos se passaram desde a última vez que o vi e naquele momento, caminhando na rua de mãos dadas até nosso restaurante favorito, pelo menos ainda é o meu, era como se não tivéssemos tanto tempo sem nos ver, parecia que ainda estávamos juntos e apaixonados, como há seis anos atrás.