Parte II

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- Como assim? – pergunto.

Intercalo o olhar entre ela e Sofia, á espera que alguma delas me diga o que se está a passar e que me está a escapar.

- Eu vou adotar o Enzo por ti! – responde, confiante.

- A sério? – questiono.

Sinto uma lágrima cair pelo rosto. Há muito que queria chorar, mas nunca me permiti tal. Sempre precisei de todas as minhas forças para aguentar tudo o que me aconteceu, precisei e preciso ser forte por Enzo, que não sabe do mal que existe do lado de fora do orfanato. Ele é tão inocente e indefeso, que tudo farei para o proteger.

Não esperava este gesto da minha irmã.

- Porque o queres adotar? – preciso saber.

- Por duas razões. A primeira é por ser apaixonada pelo meu sobrinho e a segunda é para que possas viver com ele, sem te esconderes do pai e da mãe. – explica.

- E o que vais dizer aos pais quando eles virem que adotaste um menino com Síndrome de Down?

- Não te preocupes com isso, Kai. Eles nada poderão fazer contra mim, uma advogada de renome. Eles poderão dizer meramente que decidi adotar uma criança deficiente ara ganhar mais fama, mas jamais mo poderão tirar ou sabem que os meto na cadeia. Mesmo que sejam os meus pais! – explica, confiante de tudo o que me diz.

- Quem mais sabe disto?

- Toda a gente. Só não sabem que é teu filho.

- Isso significa que era a única que não sabia que estás a tratar de tudo para adotar o Enzo?- indago.

Não sei se fico contente ou irritada com a notícia. Por um lado, estou radiante por poder ter o meu filho bem perto de mim, mas por outro... Por outro lado, sinto-me traída, por não terem confiado em mim algo tão importante. Afinal, estamos a falar da adoção do meu filho.

- Não foi por mal, Kailini. A tua irmã tentou proteger-te, enquanto não tinha a certeza de que conseguia adotar o Enzo. Se te fosse dada esperança antes de tempo e tudo falhasse, estarias a sofrer neste momento. – conta Sofia.

- Quando é que o podes levar para casa?

- Daqui a duas ou três semanas. Mas já tenho autorização para o levar a passear fora do orfanato. Amanhã vamos dar o nosso primeiro passeio e, como é óbvio, quero que venhas connosco. Aceitas?

- Claro que aceito! Faço qualquer coisa para estar com ele fora daqui! – respondo.

- Nós sabíamos que não ias recusar.

- Como podia recusar estar com o meu filho? Acham que me sujeitaria a tudo isto, se não o quisesse nos meus braços? – uma vez mais, sou invadida por lágrimas teimosas e mais fortes que eu.

***

Acho que nunca me senti tão nervosa como me sinto hoje.

É certo que estou todos os dias com Enzo, mas esta é a primeira vez que posso estar com ele fora do perímetro do orfanato.

Sofia nunca permitiu, com medo que fugisse com ele, num momento de desespero. Confesso já ter pensado nisso, mas nunca o fiz por respeito a Sofia, que muito me apoiou este tempo todo. Não só é uma patroa exemplar, como é uma grande amiga.

Jamais poderia trair a confiança de uma amiga. Muito menos da única amiga que tenho.

Não consegui dormir, de tão ansiosa e entusiasmada que estou.

- Estás pronta, Kai? – pergunta.

- Já nasci pronta, mana! – respondo.

- Tive saudades desse olhar brilhante. Prometo fazer tudo para voltares a ser feliz.

A AdoçãoWhere stories live. Discover now