"it never really began but in my heart it was so real"

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— Como assim era a Manoela? — Perguntou Ana, me olhando do outro lado da mesa cheia de cadernos e papéis de desenho de vestidos.

— Era a Manoela, vestindo uma camiseta branca de manga comprida, jeans e coturno como se de repente nunca deixasse de ter 17 anos. — Respondi, procurando o rascunho que tinha que mostrar para ela. Isa e Luis, nossos dois modelos da linha que estávamos planejando, provavam roupas de brechó para fazer teste de tecido e costura.

— Então ela voltou para a sua vida? — Perguntou Isa, virando e olhando as costas no espelho. — Gostei desse babado, Aninha.

— Eu achei que fosse gostar mesmo. — Ana sorriu, olhando os desenhos. — Estou planejando um vestido com esse babado da faixa dos seios que pega as costas. — Ela olhou as folhas, procurando meu rascunho dessa ideia.

— Não é como se ela tivesse voltado para minha vida, ela voltou para o Brasil.

— Espera, estão falando de quem?

— Do amor da vida da Giovanna. — Hikari falou, rindo e mostrando o rascunho do vestido para Isabella.

— A badgirl da Harley Davidson que ama Aerosmith? — Ele falou, analisando o short esportivo que usava. — Adorei isso aqui.

— Ela mesmo. — Isa riu.

— Ela não é o amor da minha vida. — Bufei, colocando o desenho que precisava na mesa. — Achei, Ana.

— Vamos ver isso... — Ela apanhou na folha. Sorriu, como quem já esperava isso. — Quer investir num estilo old school? Ai, ai, Gi..... — Ela mexeu a mão, como se procurasse a palavra no ar. — Isso não me surpreende nada.

— Eu sempre gostei de coisas antigas, qual é.

— É, começou isso com os seis anos. Coincidência, né? — Hikari riu, novamente, como se a situação toda a divertisse. — Falando do trabalho agora, eu gostei desse desenho aqui. A blusa tem um corte bem específico e bem unisex, a manga mais curta que as blusas normais e já costurada com a dobra não faz ela cair no padrão do "unisex masculino" e ela é soltinha, o que literalmente não define gênero nenhum. Esse jeans rasgado com degradê e barra colado acima do calcanhar vai ficar incrível com all star e coturninhos. É quase peça coringa. — Ana realmente tinha gostado, depois de trabalhar com ela por tanto tempo que a uma ideia conquistá-la, ela sempre virá a cadeira e se levanta para o lado dos armários e manequins, e quando a ideia não agrada, vai em direção a porta e as estantes. Agora, ela se apoiava na parede do outro lado da sala com o desenho na mão e olhando o manequim. — Eu tinha pensado numa jaqueta esse fim de semana, sabe, desenhar não é meu forte, mas fiz o rascunho para trazer... Eu só não lembro onde deixei, será que tá no carro? — A última parte foi mais para ela do que para mim.

— Você esqueceu lá em casa. — Isabella falou, prendendo melhor o rabo de cavalo e provando uma blusa grande masculina e dobrando as mangas. — Era assim que pensou, Gi?

— Sim, porém um pouquinho mais justa aqui... — me levantei e ajustei as mangas e os ombros. — Entendeu?

— Entendi... — Nesse instante, minha cabeça se tocou numa coisa.

— Espera, porque o desenho da Ana está na sua casa? — Perguntei, sorrindo de canto e vendo Isabella revirar os olhos e ir até o guarda roupa. Ana fingiu não ouvir.

— Essas duas são assim mesmo, falou delas se fazem de surda e muda. — Luis reclamou, ajeitando os cachinhos do cabelo no espelho. — Eu vou ficar uma graça nos looks anos 90s.

— Vai sim, Luizinho. — Sorri, vendo ele provando uma jaqueta jeans qualquer que pretendiamos reutilizar. Ana me olhou atentamente, como se eu tivesse derramado algo na minha camisa.

KairósWhere stories live. Discover now