Não Resisto

Capítulo 6

- Ih, Joana, olha a Lina de moletom... – anunciou Martinha ao me ver entrando no escritório.

- Foi tão ruim assim o encontro com Fábio? – perguntou Diana sob os olhares atentos de Martinha e Joana.

Cerrei os lábios e arqueei as sobrancelhas confirmando que não havia nada de bom a ser dito, enquanto jogava minha bolsa em cima da minha mesa: - Putz, achei que aquela história de inferno astral era uma coisa que acontecia um pouco antes do aniversário... – respondi em tom de brincadeira, minimizando a raiva que estava sentindo.

- Ele foi muito babaca? O que te disse? – indagou Joana.

Desta vez não esperei que elas insistissem para que eu falasse e fui logo resumindo tudo: - Ele veio com aquele blá, blá, blá de que havia pagado a maior parte do apartamento... – revirei os olhos – Porra, ele pagou uma ou duas prestações sozinho, porque eu estava pagando os móveis daquela casa, mas não fiz o tipo "deixa para lá" que ele conhece tão bem, me impus e não aceitei a proposta dele. – afirmei assertiva.

- Isso aí, Lina, nada de dar mole! – afirmou Diana com cumplicidade – Ele põe uma vaca qualquer morando na casa de vocês e ainda quer sair em vantagem financeira!

- Eu não teria aguentado, daria um soco bem no meio daquela carinha branquela e quebrava aquele nariz fino em mil pedaços... – desabafou Joana.

- Mas não é só isso, meninas – continuei falando enquanto forçava um sorriso -, depois do encontro desastroso com Fábio, paro numa padaria e dou de cara com o Miguel e a Sheila juntos!

- Como é que é? – perguntou Diana arregalando os olhos em sinal de espanto.

Depois de ouvir os lamentos sinceros de minhas companheiras pela minha falta de sorte e, também, pela falta de decência dos dois últimos homens que fizeram parte da minha vida, contei de forma detalhada sobre o meu primeiro encontro e de forma resumida sobre o segundo, para que elas compartilhassem comigo a decepção que estava sentindo por Fábio, mas não percebessem que também estava decepcionada por ter visto Miguel acompanhado e concluí:

- Estou bem. – afirmei sem muita verdade em minhas palavras - Eu sabia muito bem onde estava me metendo quando aceitei sair com ele... só não queria tê-lo visto com outra pessoa... Mas, querem saber, foi bom, assim eu não caio mais em tentação!

- Não sei não... – resmungou Joana pensativa – Pelo que você contou, acredito que Miguel estava sendo bem honesto com você...

Balancei a cabeça em negativa: - Eu também acreditei, mas não é este o ponto: a Sheila e o Miguel trabalham juntos, dormem ou dormiam juntos... Enquanto eu for novidade para ele, pode ser que consiga se concentrar só em mim... Mas e quando eu não for mais a conquista do mês? Ela ataca, ele cede e eu me ferro!

- Concordo com você, Lina. – respondeu Martinha.

- Eu também. – afirmou Diana – A história deles é meio louca... parecem que se querem e não se querem ao mesmo tempo... Acho bom você não se iludir.

***

Eu que tinha começado a semana animada, com bom humor e autoestima elevada, não tive o prazer de manter estas sensações por mais de dois dias, na quarta-feira já estava novamente entregue à degradante autopiedade. Depois de uma quinta monótona e o dia de sexta angustiante por pensar que seria mais um fim de semana longo e triste, passei num mercado assim que saí do trabalho, comprei muitos enlatados e algumas garrafas de vinho, me preparando para beber muito, me entupir de porcarias e ficar quietinha naquela casa mal-assombrada.