dois

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WILL SOLACE ERA considerado um anjinho pelos seus amigos, apesar de não serem muitos. Toda vez em que eles precisavam, lá estava o garoto, dando o seu melhor para colocá-los para cima o máximo que conseguia. Will tinha aquele sorriso que parecia dizer que tudo iria ficar bem, bastava crer no que ele te dizia. E parecia difícil de acreditar que um garoto tão animado como ele passasse por problemas.

Há dois anos, Will se assumiu gay para todos ao seu redor e aquilo foi um marco, como se ele tivesse finalmente nascido. Sua família o aceitou maravilhosamente bem, melhor do que ele pensou que seria. Seu pai e sua mãe, apesar de não estarem mais juntos há muito tempo e viverem numa birra infinita, fizeram questão de se entenderem apenas pelo bem estar de Will. Parecia ser o paraíso, se não fosse pelo seu antigo colégio.

Will nunca saberia explicar o que aconteceu de verdade. Ele apenas resolveu ser ele, assumir quem era, quando as piadinhas, as ofensas e coisas piores começaram a surgir. Como fanstasmas, passaram a assombrá-lo e ninguém fazia nada para impedí-los. Tudo aquilo atingiu seu limite quando ele foi agredido fisicamente por um grupo de garotos homofóbicos.

E ele atingiu seu máximo.

Solace se mudou com a mãe e o seu fiel companheiro, seu cachorrinho. Trocou de estado, cidade e colégio. Finalmente livre e decidido a ser ele mesmo, Will começou a se reconstituir.

Tudo estava ótimo.

Ele encontrou Nico, o garoto que fazia aula de Literatura com ele e raramente falava algo, mas, quando o fazia, dizia coisas impressionantes. Will se apaixonou e nem sabia dizer quando diabos isso aconteceu. Só houve um dia em que sua amiga, Kayla, comentou como era o fofo o modo como Will encarava o garoto e, então, ele reparou que o que sentia em relação a Nico di Angelo não era apenas um simples interesse por ele ser alguém tão quieto e reservado; Will estava mesmo apaixonado.

Ele suspirou, parado em frente ao seu armário, vendo Nico caminhar até o próprio armário, com os fones nos ouvidos e parecendo tão distraído. Repentinamente, ele se lembrou do pequeno bilhete que deixou para o garoto num ímpeto de coragem e arregalou os olhos. E se ele fosse descoberto muito facilmente? Ah, não.

— Will, você precisa se tornar um cara discreto, é essencial se quiser ficar só na fase de encarar o crush todo o santo dia. — Kayla cutucou seus ombros, mas ele já esperava aquilo. A amiga, que era dona do armário ao lado do seu, sempre chegava ali no mesmo horário e comportava-se da mesma forma: cutucando-o e fazendo algum comentário aleatório. — Como você está?

O garoto saiu de seu transe, olhando para a garota ao seu lado e dando um sorriso.

— Bem, eu acho. E você?

— Ótima! — respondeu, abrindo o armário extremamente decorado que tinha. Fotos de gente famosa, colagens e anotações, tudo isso pendurado nos espaços possíveis. — Fui escalada para a próxima peça do teatro. Papel principal, Will, eu mal consigo acreditar.

Ela continuou tagarelando sobre a peça de teatro tranquilamente, à medida que Solace retomava sua atenção a Nico. Sentiu o coração falhar uma batida quando o viu segurar o seu post-it amarelo e ler tudo o que estava escrito ali, o que não era muita coisa. Will mordeu os lábios, nervoso, pensando no que iria acontecer a seguir.

Se Nico jogasse o papelzinho fora, Solace com certeza ficaria muito mal, embora não fosse admitir.

Então, di Angelo pareceu falar alguma coisa sozinho, guardando o post-it de volta em seu armário e saiu correndo para a próxima aula logo em seguida. Imediatamente, Will agarrou o braço de Kayla e o balançou, fazendo a amiga gritar, assustada, e parar de falar sobre o teatro.

— Ele não jogou fora, Kayla! — disse, animado. — Ele guardou!

A ruiva entendeu logo de cara.

— Ele... Você 'tá brincando comigo. — colocou as mãos nos quadris. — Eu não acredito na sua sorte, Will, eu acho que te odeio. Perdi uma aposta, então.

Will riu, um pouco de nervoso e um pouco de alegria. Nico não ter jogado fora significava que, pelo menos, ele estava pensando sobre o pouco que Will o escreveu. Talvez tentando saber de quem se tratava. Então, ele teve outra ideia.

— Kayla, me dê um de seus sulfites amarelos, por favor.

— Por que logo o amarelo? Está acabando. — ela reclamou.

— Porque, em primeiro lugar, é a minha cor favorita. Em segundo, o post-it era amarelo e eu vou manter esse pequeno padrão.

A garota o olhou, divertida.

— Quanta dedicação. — tirou o papel colorido do amontoado de coisas que era o seu armário. Will tinha pavor da desorganização da amiga. — Escreva suas belíssimas palavras, Romeu.

Eles riram momentaneamente. Kayla fechou o armário, dizendo que tinha que ir para a aula porque já estava atrasada demais e poderia se dar mal por isso. Will apenas assentiu. Ele teria que ser rápido ao escrever o novo bilhete para Nico. Pegou sua caneta esferográfica de tinta printa e se colocou a pensar, soltando um suspiro. Chegar atrasado na aula valeria a pena se fosse por um bem maior.

✓ | LOVELY, solangeloWhere stories live. Discover now