Capítulo VI

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Agora consigo entender as pessoas que se assustaram com a minha aparência, eu mesma estou passando por isso. Pedi um minuto para as meninas que estão espalhadas pelo pequeno cômodo da ala G para ir ao banheiro. O espelho está quebrado e muito sujo, mas ainda consigo ver o meu rosto pálido e destruído. Como mudei de morena para pálida desse jeito? Estou impressionada como uns dias sem comer muda completamente a aparência — na verdade, semanas. A menina tinha razão quando disse que minhas olheiras estão muito fundas, pareço uma morta viva.

Lavo meu rosto e saio.

— Vamos, falem o que vocês querem. — falo me sentando na cama.

— Antes de tudo, saiba que estamos confiando em você pelo simples motivo de você ainda estar viva. Ficamos muito curiosas quando vimos você depois de ter matado aquela mulher.

— Sol! — as outras garotas falam em uníssono. Eu já estava me esquecendo disso. A dor que eu tinha esquecido volta com um pouco mais de intensidade. Estreito um pouco os olhos e firmo meu corpo no colchão ainda sentada.

— Não é justo falarmos com você sem antes nos apresentarmos. — diz a garota de olhos castanhos e cabelo afro. Seu jeito de falar está mudado, parece mais segura ou isso só acontece quando está entre suas amigas? — Sou Katherine, 0706. — ela passa uma de suas mãos nos fios crespos, me fazendo olhar para as suas mãos enluvadas. Deve haver um significado por trás dessas luvas. Talvez eu descubra agora que estou ficando amiguinha dessas pessoas.

— Já deve saber, mas vou repetir assim mesmo. Sol. Meu número não importa. — diz Sol, fazendo-me voltar para a realidade. Estava concentrada pensando nos segredos que cada uma delas deve possuir.

— Sou Isabella, mas pode me chamar de Isa, como todas fazem. Meu número é 0598. Sinto muito por invadir o seu quarto. — essa última frase ela fala baixinho, mesmo assim as outras escutam. Vejo do canto do olho Sol revirar os olhos.

— Você já me conhece, então vou explicar o porquê de estarmos aqui. E desculpe pela invasão. — ela sorri exibindo seus dentes brancos e aguçados. Hoje o seu cabelo loiro está com uma enorme trança posicionada em seu ombro. Ela troca olhares com suas amigas e começa:

— Queremos que você se junte a nós por que você é importante. Vai parecer estranho, mas suspeitamos que o dono desse lugar seja seu parente ou algo assim. Porque você está viva! Mesmo depois de ter... você sabe. Todas nós queremos sair daqui e você também, não é?

Até um tempo atrás eu desejava morrer aqui dentro, agora eu quero fugir com todas as minhas forças para reencontrar a minha família e contar sobre o meu pai. A parte ruim da história pode ficar para depois, posso viver com isso. Então, sim, eu quero sair daqui.

— Entendemos caso você nos rejeite, então eu te peço que pense com cuidado em relação a isso porque você pode ser a chave para nossa saída desse lugar.

— Eu... — não sei o que dizer. Fui pega de surpresa. — Preciso realmente pensar sobre isso, desculpe caso eu decepcione vocês. — é a única coisa que consigo dizer.

Elas entendem o recado e saem aos poucos. Sol me lança um olhar antes de fechar a porta atrás de si como se estivesse tentando transmitir algo através dos seus olhos negros. Se eu entrar para o grupinho não sei se aguentarei os olhares dessa mulher, não sou obrigada a aceitar os critérios delas. Se for para fugir, todas desse lugar merecem sair. Porque no final de tudo, somos todos iguais.

Volto para a única coisa que eu consigo gostar desse lugar: a cama.

Desperto com a voz vinda da caixa de som que está pendurada na parede entre dois beliches. Desde quando isso está aí? Demoro alguns segundos para prestar atenção no que é dito através da caixa.

Aprisionada [PROCESSO DE REVISÃO]Where stories live. Discover now