Velho amigo.

Vejo uma pessoa, ela sempre está lá, nunca lhe perguntei o nome, ou ao menos dirigi a palavra, mas mesmo assim, todo dia nos encaramos por um tempo, e trocamos olhares, às vezes de compreensão, outra vezes de pena, como se olhassemos algo que não gostamos, mas esses olhares são o suficiente para nós entendermos.

Não importa quantas vezes eu o veja, sua presença sempre me assusta, não importa como eu olhe para ela, ela sempre me olhará de volta, e em seus olhos está uma imensidão de tristeza, solidão e amargura, toda vez que eu vejo essa pessoa um sentimento que eu não entendo toma lugar em meu ser, um lugar que se fosse para ser exato, seria no meu coração, quando eu penso estar entendendo o que esse sentimento significa, eu olho para o seu rosto mais uma vez, e vejo o seu sorriso, como se entendesse o que eu estou passando, como se soubesse que algo não esta correto, mas ao mesmo tempo tudo isso é divertido, essa pessoa me assusta, mas não importa o que eu faça eu nunca consigo evita-la, eu queria poder.

Às vezes essa pessoa muda, às vezes ela esta feliz, outra preocupada, mas na maioria do tempo está triste, nesses momento eu pensava se o estado natural dela não seria a tristeza, um ser que nasceu na tristeza e somente esta na vida para os pequenos momentos de felicidade ou outros sentimentos que ela pode a proporcionar, mas quando eu pensei nisso eu logo descartei essa hipótese, pois ela é idiota, não é somente essa pessoa que esta na vida por isso, todos estamos, e isso me faz sentir um tolo, pois eu estou vivendo uma vida sem sentido.

Essa pessoa também chora, ela não é um robô, nem um espirito do além, ela é um ser humano, e isso apenas a torna mais frágil, toda vez que a vejo chorando, eu choro também, pois percebo o quanto somos insignificantes e sem proposito, e isso dói, pois essa é uma das verdades que mais queremos esconder de nós mesmos, pois ela deixa todo o resto sem cor.

Nessa noite cinza, eu sinto que verei esse meu amigo pela última vez, eu acho que posso chama-lo de amigo, mesmo sem trocarmos nossos nomes, eu sinto que o conheço melhor que qualquer um, e ele me conhece da mesma maneira, isso me dói ao pensar, pensar que tal pessoa que via todos os dias não poderá mais ser vista, sentirei falta daqueles momentos, mas tudo acaba um dia, seja pelas forças da natureza ou pela força do homem.

E eu decidi deixar o trabalho da natureza mais simples, farei o trabalho por ela, tchau meu velho amigo, me desculpe por desistir.