Harry Potter e o Mentor das Trevas

Capítulo 27 - Bônus

Betado por @smjkbien.
Muito obrigada.

Dizer que Tom estava insatisfeito com a forma como a noite acabou seria o eufemismo do Século. Ele entendia que tanto ele quanto o menino tinham responsabilidades, mas tinha sido simplesmente perfeito ignorar isso por algumas horas, Harry estava irradiando animação e seus olhos nunca tinham sido tão brilhantes, a forma que o rapaz olhava para ele o fazia acreditar que talvez um dia no futuro ele realmente pudesse tê-lo. Mas é claro que as coisas não poderiam ser boas por tanto tempo, não quanto tinha haver com Tom.
Ele não queria voltar para a mansão vazia, ele tinha se acostumado ao conforto da presença de Harry, seu pulso magico preenchendo os cômodos da casa, fazendo aquela sensação de vazio que ele tinha notado que sempre esteve lá desaparecer. Voltar para as paredes frias depois de ter se sentido tão aquecido e confortável com Harry, não era uma opção.
Decidiu então que usaria o tempo para lidar com outras coisas. O Lorde não tinha deixado a mansão desde a chegada de Harry, talvez fosse um bom momento para visitar a mansão Black. No fundo ele sabia que estava evitando esse momento, afinal visitar a mansão Black significava lidar com Frank e Alice Longbottom, o que não tinha sido um problema enquanto ele era Tom, Alice até mesmo parecia gostar dele e rir de seu humor ácido e distorcido, mas ele sabia que tudo ia mudar quando ele aparecesse como Voldemort, ele sabia que precisaria revelar isso eventualmente, mas por hora, talvez fosse melhor continuar a ser Tom para os ex-aurores.
Ele aparatou em frente ao lago e tirou alguns momentos para apreciar o frescor da noite, o cheiro da agua e da floresta. Ele limpou sua mente antes de caminhar para dentro, o Lorde sabia que Lupin estava no terceiro andar com as crianças, ele podia sentir o pulso errático se misturar com o lobisomem. Frank e Alice eram mais difíceis de encontrar, sua magia era quase fraca demais para ser perceptível, mas Tom se concentrou até encontra-los juntos na biblioteca.
Quando ele chegou lá os encontrou sentados no sofá, Tom não os tinha visto separados em qualquer momento desde que acordaram, estavam sempre se tocando de alguma maneira, suas mãos, seus ombros, seus braços, era como se não pudessem suportar a ideia de se afastarem. O Lorde podia entende-los perfeitamente. Alice estava deitada no peito do marido, seus olhos fechados e corria os dedos pelo braço da mulher, parecendo calmo e satisfeito. Foi ela quem notou sua aproximação primeiramente e assim que o viu abriu um sorriso acolhedor de boas-vindas, Tom não retribuiu, ele nunca retribuía, mas ela não parecia se importar.
- Tom. - Cumprimentou ela, fechando o livro e depositando-o sobre a mesa a sua frente - É bom vê-lo.
- Como andam as coisas? Estão fazendo progresso? - Perguntou ele secamente, sentando-se na poltrona do outro lado da mesa.
- Não acho que qualquer um de nós está pronto para empunhar uma varinha ainda, mas eu consigo finalmente sentir a magia estabilizando dentro de mim. - Respondeu a mulher com animação.
- Fico satisfeito em ouvir isso.
- Você teve qualquer notícia de Neville? - Perguntou Frank.
Diferente de Alice, Frank estava sempre arredio ao seu redor. Ele ainda tinha se mostrado profundamente agradecido pelo que Tom fez, isso não mudava o fato de que ele estava sempre tenso ao encontra-lo, Tom suspeitava que era algo natural para aurores, pois Sirius ainda olhava para ele da mesma forma as vezes, mesmo depois de todo aquele tempo. Alice era obviamente uma exceção, talvez porque fosse uma mulher, muito provavelmente porque era mãe.
- Não estive com ele diretamente, mas sei que está bem. - Respondeu Tom.

- Quando poderemos vê-lo outra vez? - Perguntou ela.
- Estou trabalhando em uma chave de portal para traze-lo aqui com mais frequência.
- Temos tanto ao que ser gratos a você, Tom.
- Eu já disse que não precisam. Nada do que fiz foi por altruísmo.
- Você continua dizendo isso, mas ainda não pediu nada de nós. - Salientou ela.
- Por isso estou aqui hoje. Quero saber o que vocês se lembram do último dia da guerra.
- É bastante confuso. - Disse Frank, com aquele tom irritado e desconfiado - Talvez você devesse ser mais especifico.
- Qual sua última lembrança? - Insistiu o Lorde.
- Você quer que eu reviva um dos piores momentos da minha vida?! - Frank estava visivelmente furioso, Tom sabia que do casal, era ele quem tinha mais dificuldade em controlar as emoções, Alice por outro lado parecia profundamente calma quando tocou a mão do marido sobre seu braço e entrelaçou seus dedos.
- Se nós vamos compartilhar essas lembranças Frank, quem melhor do que o homem que nos livrou desse inferno para ouvir. Deve ser realmente muito importante para ele saber, ou não teria tido todo esse trabalho.
Frank respirou fundo, como se a ingestão de ar de alguma forma ajudasse a reunir coragem.
- Foi uma noite muito confusa aquela. Alastor tinha acabado de nos contar sobre a morte dos Potter, estávamos prestes a correr para o Ministério e descobrir o que tinha dado errado quando invadiram nossa casa. Foi um choque, nenhum comensal deveria ser capaz de atravessar as barreiras, apenas aqueles que possuíam o passe poderiam entrar, mas de alguma forma eles estavam lá... Como se nem mesmo existissem quaisquer barreiras...Eram três ou quatro eu não tenho certeza...estavam agitados demais, descoordenados demais, a única mulher lá gritava com os outros, mandando que nos prendessem...Eles queriam saber onde Voldemort estava... - O homem respirou longamente, olhando para o vazio como se estivesse revendo o passado diante de seus olhos.
- Eu não conseguia entender o que estava acontecendo. - Continuou Alice, quando percebeu que o marido estava perdido em algum lugar sombrio e distante de sua mente - O Lorde estava nos Potter, eu repeti isso várias vezes enquanto a mulher torturou Frank até a inconsciência...ela me chamava de mentirosa. Gritava que o Lorde tinha abandonado seus planos porque Sirius tinha aparecido...nada daquilo fazia qualquer sentido e então ela perdeu a paciência e começou a me torturar também...eu não sei quanto tempo eu fiquei sobre o Cruciatus, mas quando ela parou eu ainda estava meio acordada...um dos comensais tinha tirado a máscara...ele era só um garoto e estava berrando com a mulher e apontando para nós. Era estranho...ele parecia assustado e tentava puxar os outros para fora dali, a mulher se irritou com ele, e lhe lançou uma maldição diretamente no peito... Havia tanto sangue, escorrendo da ferida que surgiu e de sua boca... os outros comensais saíram, arrastando a mulher para fora... o garoto ia morrer e ele parecia saber disso, ele ficava só olhando para nós, como se quisesse pedir desculpas por aquilo... Eu me arrastei até ele, tentei ajudar, mas tinha tanto sangue e ele parecia tão fraco, eu não podia... não consegui... alguém mais chegou na casa, eu não podia ver quem era do lugar onde eu estava...seja lá quem for lançou um feitiço em mim que me fez desmaiar. Eu acordei no escuro...era tão escuro que eu achei que estava morta. Alguém mais estava no quarto escuro, essa pessoa ficava perguntando do que eu me lembrava...Dizendo que eu poderia ver Frank se eu contasse tudo que eu me lembrava...mesmo quando eu contei a pessoa não parecia satisfeita...A dor que eu senti foi pior do que o Cruciatus, eu não sabia que existia uma dor assim... - Alice deu um sorriso amargo e encarou os olhos de Tom - Eu não sei o que aconteceu depois disso...eu lembro dos anos passando no Saint'Mungus...mas não sei se tudo era real e nem a ordem em que as coisas aconteceram...Eu lembro de ver minha mãe várias vezes e ver meu filho... - Frank segurou a mão dela ao dizer isso - É só.
- Era como viver preso ao próprio corpo. - Completou Frank, depois de algum tempo em silencio - Metade do tempo eu não estava lucido, eram só memorias de dor e agonia completa... Eu queria caminhar até Alice, mas meu corpo não obedecia, eu só ficava lá sentado ou deitado... Os medi-magos não pareciam fazer nada além de nós manter vivos.
- É porque era exatamente isso que eles estavam fazendo... Nenhum deles queria cura-los, não estavam nem mesmo tentando.
- Por que diz isso?! - Perguntou ela confusa.
- Porque é verdade. - Começou Tom - Depois que a guerra cessou, depois da morte dos Potters, não havia qualquer razão para trazer vocês de volta. Era melhor mantê-los lá... com todos as informações privilegiadas que vocês tinham... Todos eles trancados dentro de suas mentes frágeis.
- Isso não faz qualquer sentido. - Disse Frank.
- Vai fazer... Assim que explicarmos o que realmente aconteceu naquela noite. - Disse Lupin aparecendo atrás de Tom.
Aquela seria uma longa noite, e definitivamente não da forma que ele estava esperando.