POV Patrícia
Corro antes que comece a chorar em sua frente. Estava tudo tão perfeito, mas ele teve que estragar... Um erro... É isto que eu sou?
Enxugo minhas lágrimas e engulo o choro. Não vou mais sofrer por ele. Chega, estou cansada. Vou fingir que este momento não aconteceu e tocar minha vida. Darei uma chance para o Rodrigo, que gosta tanto de mim e esquecerei meu amor pelo Ed, ou melhor, Edmilson.
Levanto de manhã determinada a colocar em prática minhas resoluções. Tomo café da manhã com a Inês e vou para minha casa, me trocar para a escola. Ele está me esperando no portão quando saio e o cumprimento como se nada tivesse acontecido. Percebo que ele está constrangido, mas finjo não notar.
Na escola, sento-me ao lado do Rodrigo e lhe dou total atenção. Nem olho para ver onde Edmilson está e com quem. Conto para meu novo amigo o que aconteceu ontem e recebo total solidariedade.
- Sinto muito, Patrícia. Há algo que possa fazer por você? – ele segura minhas mãos e me olha carinhoso.
- Não, mas obrigada por me escutar.
- Ia te chamar para uma pizza, mas não é uma boa ideia no momento, não é?
- Preciso cuidar de minha mãe, ela precisará de repouso absoluto.
- Quando sai do hospital?
- Hoje à tarde, se tudo estiver bem.
- E seu pai?
- Não o vi desde a queda. Não sei como será hoje à noite.
- Você me permite ir até sua casa e ficar lá com vocês? Preocupo-me em te deixar sozinha...
- Obrigada, mas temo que seja pior se estiver comigo, ele me bateu no dia que fui à festa com você.
- Por isso seu rosto estava machucado? – vejo sua revolta, mas se controla e continua a segurar minhas mãos com carinho.
- Sim, me desculpe por mentir, mas estava com vergonha.
- Tudo bem, só quero que saiba que pode confiar em mim.
- Eu confio e agradeço sua preocupação.
- O que sua mãe fará?
- Ela precisa ter uma conversa séria com ele e não sei como ele reagirá.
- Promete que me liga se ele se alterar?
- Sim, e muito obrigada novamente. É um grande amigo.
- Sabe que sinto mais que amizade por você, não é?
- Sei, e estou disposta a ver onde podemos ir, mas primeiro tenho que cuidar da minha mãe.
- Eu espero. Não há mais ninguém em sua vida?
- Tenho que ser sincera com você. Gosto de um garoto, mas não há futuro para nós e cansei de sofrer por quem não me quer.
- Te farei esquecê-lo – sua autoconfiança não é prepotente, mas esperançosa e devolvo seu sorriso.
- Conto com isto.
Vou até o hospital após a aula. Minha mãe está ainda abatida, mas com a aparência melhor do que ontem.
- Como está, mamãe? Muitas dores?
- Oi, minha querida. Ficarei dolorida por uns dias, mas não é nada.
- E meu irmãozinho?
- Está bem, graças a Deus. Fiz um ultrassom e ele está ótimo. Ainda terei que ficar de repouso, mas o pior já passou.
- Que alívio, mamãe. Terá alta hoje?
- Sim, a Dra. Andréia passou aqui com o obstetra de plantão e já posso ir.
- Vou pedir um táxi então.
- Não é preciso, a doutora vai nos dar uma carona. Me ajude só a me trocar que logo ela estará aqui.
Ajudo minha mãe a se levantar e uma enfermeira entra para tirar seu soro. Ela está mancando, pois machucou o tornozelo na queda, mas o médico disse que logo estará bem.
Andréia nos leva para casa e me ajuda a acomodar minha mãe. A levamos para o quarto com cuidado e a deitamos. Vovó Severina logo chega com uma tigela nas mãos.
- Trouxe uma sopinha com muita sustância, para esse bebê crescê forte e saudável.
- Obrigada, mas não precisava se incomodar – minha mãe tenta se levantar, mas vovó não deixa.
- Não é incômodo nenhum. Agora se aquieta que nós cuidamos de tudo.
Minha mãe agradece e solta um longo suspiro, antes de me dizer:
- Patrícia, pegue a mala e coloque as coisas de seu pai dentro, hoje darei um basta em nossa situação – obedeço e, em poucos minutos, tudo está empacotado.
Ele chega logo que escurece e D. Severina ainda está em nossa casa. Está sóbrio e sinto um grande alívio.
- Então resolveu aparecê, num é disgramado?
- D. Severina, que surpresa a encontrar aqui.
- Estou fazendo o seu serviço, cuidando da sua esposa.
- Patrícia, como ela está?
- Descansando no quarto, precisa de repouso absoluto.
- Eu não queria machucar ela, acreditem em mim.
- Mas quase a matou – ele me olha surpreso com meu tom, mas não questiona ou repreende - Suba que ela tem que conversar com o senhor.
Ele pede licença e vai. Sei que está envergonhado e fará mil promessas de melhora, mas é só beber para voltar ao seu antigo comportamento. Será que minha mãe será firme com ele?
- Mas, querida, eu te amo, não pode me colocar para fora – ouço sua voz alterada. Minha mãe responde algo que não escuto - Um filho?
Resolvo subir para ver o que está acontecendo e o encontro chorando aos pés da cama.
- Me perdoa, amor, eu vou melhorar. Não queria machucar você e muito menos ao nosso bebê. Não me deixe.
- Já cansei de suas promessas, Jonas. Tenho que pensar nesta nova vida que cresce dentro de mim. Quase o perdi e não vou te dar outra chance de nos ferir.
- O que eu posso fazer para não me abandonar?
- Mude de vida, procure ajuda para seu vício.
- Eu vou, amor, eu prometo. Eu te amo tanto... – seus soluços impedem que eu entenda o que está dizendo. Afasto-me antes que ele me veja.
Pouco depois ele desce as escadas com a mala. Olha para mim e volta a chorar.
- Você também me odeia, filha?
- Não, papai. Eu te amo e por isso, te imploro, procure ajuda.
- Eu vou, minha filha, eu vou. – ele me abraça apertado e sai pela porta.
- Eu vou chegando também. Se precisar, é só chamá.
- Obrigada, vovó Severina.
Ela vai embora e subo para falar com minha mãe, que está chorando. Abraço-a e a consolo, até que durma.
Vou para meu quarto e olho meu celular. Há várias mensagens de Edmilson e Rodrigo. Ignoro o primeiro e respondo ao meu novo amigo. Não é apenas mamãe que tomou decisões difíceis hoje.
Será que o pai da Paty muda agora?
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Despertando para sonhar - Livro 4 da Série Sonhos
RomanceEdmilson perdeu sua namorada de infância para o câncer, e se fechou para todos, com exceção da melhor amiga de seu amor. Patrícia sempre foi apaixonada pelo namorado de Janaína, mas nunca sonhou que ele conhecia seu segredo. Antes de partir, confia...