Capítulo 10

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POV Patrícia

Corro antes que comece a chorar em sua frente. Estava tudo tão perfeito, mas ele teve que estragar... Um erro... É isto que eu sou?

Enxugo minhas lágrimas e engulo o choro. Não vou mais sofrer por ele. Chega, estou cansada. Vou fingir que este momento não aconteceu e tocar minha vida. Darei uma chance para o Rodrigo, que gosta tanto de mim e esquecerei meu amor pelo Ed, ou melhor, Edmilson.

Levanto de manhã determinada a colocar em prática minhas resoluções. Tomo café da manhã com a Inês e vou para minha casa, me trocar para a escola. Ele está me esperando no portão quando saio e o cumprimento como se nada tivesse acontecido. Percebo que ele está constrangido, mas finjo não notar.

Na escola, sento-me ao lado do Rodrigo e lhe dou total atenção. Nem olho para ver onde Edmilson está e com quem. Conto para meu novo amigo o que aconteceu ontem e recebo total solidariedade.

- Sinto muito, Patrícia. Há algo que possa fazer por você? – ele segura minhas mãos e me olha carinhoso.

- Não, mas obrigada por me escutar.

- Ia te chamar para uma pizza, mas não é uma boa ideia no momento, não é?

- Preciso cuidar de minha mãe, ela precisará de repouso absoluto.

- Quando sai do hospital?

- Hoje à tarde, se tudo estiver bem.

- E seu pai?

- Não o vi desde a queda. Não sei como será hoje à noite.

- Você me permite ir até sua casa e ficar lá com vocês? Preocupo-me em te deixar sozinha...

- Obrigada, mas temo que seja pior se estiver comigo, ele me bateu no dia que fui à festa com você.

- Por isso seu rosto estava machucado? – vejo sua revolta, mas se controla e continua a segurar minhas mãos com carinho.

- Sim, me desculpe por mentir, mas estava com vergonha.

- Tudo bem, só quero que saiba que pode confiar em mim.

- Eu confio e agradeço sua preocupação.

- O que sua mãe fará?

- Ela precisa ter uma conversa séria com ele e não sei como ele reagirá.

- Promete que me liga se ele se alterar?

- Sim, e muito obrigada novamente. É um grande amigo.

- Sabe que sinto mais que amizade por você, não é?

- Sei, e estou disposta a ver onde podemos ir, mas primeiro tenho que cuidar da minha mãe.

- Eu espero. Não há mais ninguém em sua vida?

- Tenho que ser sincera com você. Gosto de um garoto, mas não há futuro para nós e cansei de sofrer por quem não me quer.

- Te farei esquecê-lo – sua autoconfiança não é prepotente, mas esperançosa e devolvo seu sorriso.

- Conto com isto.

Vou até o hospital após a aula. Minha mãe está ainda abatida, mas com a aparência melhor do que ontem.

- Como está, mamãe? Muitas dores?

- Oi, minha querida. Ficarei dolorida por uns dias, mas não é nada.

- E meu irmãozinho?

- Está bem, graças a Deus. Fiz um ultrassom e ele está ótimo. Ainda terei que ficar de repouso, mas o pior já passou.

- Que alívio, mamãe. Terá alta hoje?

- Sim, a Dra. Andréia passou aqui com o obstetra de plantão e já posso ir.

- Vou pedir um táxi então.

- Não é preciso, a doutora vai nos dar uma carona. Me ajude só a me trocar que logo ela estará aqui.

Ajudo minha mãe a se levantar e uma enfermeira entra para tirar seu soro. Ela está mancando, pois machucou o tornozelo na queda, mas o médico disse que logo estará bem.

Andréia nos leva para casa e me ajuda a acomodar minha mãe. A levamos para o quarto com cuidado e a deitamos. Vovó Severina logo chega com uma tigela nas mãos.

- Trouxe uma sopinha com muita sustância, para esse bebê crescê forte e saudável.

- Obrigada, mas não precisava se incomodar – minha mãe tenta se levantar, mas vovó não deixa.

- Não é incômodo nenhum. Agora se aquieta que nós cuidamos de tudo.

Minha mãe agradece e solta um longo suspiro, antes de me dizer:

- Patrícia, pegue a mala e coloque as coisas de seu pai dentro, hoje darei um basta em nossa situação – obedeço e, em poucos minutos, tudo está empacotado.

Ele chega logo que escurece e D. Severina ainda está em nossa casa. Está sóbrio e sinto um grande alívio.

- Então resolveu aparecê, num é disgramado?

- D. Severina, que surpresa a encontrar aqui.

- Estou fazendo o seu serviço, cuidando da sua esposa.

- Patrícia, como ela está?

- Descansando no quarto, precisa de repouso absoluto.

- Eu não queria machucar ela, acreditem em mim.

- Mas quase a matou – ele me olha surpreso com meu tom, mas não questiona ou repreende - Suba que ela tem que conversar com o senhor.

Ele pede licença e vai. Sei que está envergonhado e fará mil promessas de melhora, mas é só beber para voltar ao seu antigo comportamento. Será que minha mãe será firme com ele?

- Mas, querida, eu te amo, não pode me colocar para fora – ouço sua voz alterada. Minha mãe responde algo que não escuto - Um filho?

Resolvo subir para ver o que está acontecendo e o encontro chorando aos pés da cama.

- Me perdoa, amor, eu vou melhorar. Não queria machucar você e muito menos ao nosso bebê. Não me deixe.

- Já cansei de suas promessas, Jonas. Tenho que pensar nesta nova vida que cresce dentro de mim. Quase o perdi e não vou te dar outra chance de nos ferir.

- O que eu posso fazer para não me abandonar?

- Mude de vida, procure ajuda para seu vício.

- Eu vou, amor, eu prometo. Eu te amo tanto... – seus soluços impedem que eu entenda o que está dizendo. Afasto-me antes que ele me veja.

Pouco depois ele desce as escadas com a mala. Olha para mim e volta a chorar.

- Você também me odeia, filha?

- Não, papai. Eu te amo e por isso, te imploro, procure ajuda.

- Eu vou, minha filha, eu vou. – ele me abraça apertado e sai pela porta.

- Eu vou chegando também. Se precisar, é só chamá.

- Obrigada, vovó Severina.

Ela vai embora e subo para falar com minha mãe, que está chorando. Abraço-a e a consolo, até que durma.

Vou para meu quarto e olho meu celular. Há várias mensagens de Edmilson e Rodrigo. Ignoro o primeiro e respondo ao meu novo amigo. Não é apenas mamãe que tomou decisões difíceis hoje.


Será que o pai da Paty muda agora?

Despertando para sonhar - Livro 4 da Série SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora