Evolução: A Ascensão de Maquina. Cap. 1

I.I - PIETRO GARCIA - FLORESTA DE MARMANDAI

Pietro Garcia: Aqui estamos, no coração da floresta de Marmandai. Os caçadores mais velhos costumam dizer que essa porção da floresta nunca foi atingida pela inundação, e por isso é tão rica em vida.

Havíamos chegado ao meu ponto preferido da floresta, não somente devido à grande quantidade de caças, mas principalmente devido a beleza estonteante do local. A vegetação era abundante, de cor verde viva e com um brilho duradouro em suas folhas. Os troncos das arvores eram fortes e grossos, com musgo por toda a superfície e colônias de insetos se alimentando do que a natureza tinha a oferecer. Na copa das árvores o movimento dos pássaros era intenso, que cantavam suas músicas em conjunto gerando uma trilha sonora de melodia inigualável. Os animais herbívoros e os seus amigos carnívoros de pequeno porte viviam livremente por ali, comendo frutas e insetos sem serem perturbados por predadores. Para completar a beleza local era ali que estava a nascente do grande rio Marmandai que cortava toda a floresta ao meio e nomeava a nossa cidade. O som das cachoeiras se unia à melodia dos pássaros para nos passar uma sensação de completa paz, mas meu ofício era a caça e em algum momento eu teria que perturbar a paz a fim de ganhar o meu pão de cada dia.

Esse dia, porém, era atípico, já que Marcos estava me acompanhando e nem aquele cenário era capaz de me proporcionar alguns minutos de paz. Suas atitudes estavam distantes daquelas de alguém realmente interessado em aprender ou ajudar, tentando me tirar do sério constantemente com uma série de brincadeiras infantis, como gritar "Lá vai flecha" sempre antes de eu atirar ou atirar pedras nos animais para que eles fugissem antes que eu pudesse acertá-los. Eu havia prometido a mim mesmo que faria de tudo para que essa fosse uma experiência agradável para ele, mas em certo ponto eu perdi a paciência e o confrontei, na esperança de ter um pouco de sossego pelo resto do dia e conseguir cumprir a minha cota.Pietro Garcia: Marcos, eu te juro que se você me atrapalhar mais uma única vez eu vou te abandonar aqui e você terá que encontrar o caminho de volta sozinho. Te garanto que não será uma tarefa fácil.

Marcos Lamarra: Há! Mas o que? Pois me disseram que você não perde a concentração por nada, nem se um elefante te pisotear. Só queria saber se esse papo era verdadeiro, mas pelo jeito não é.

Pietro Garcia: Você está me testando? Espantar os animais não é o mesmo que tirar a minha concentração. Se você realmente quer a minha ajuda, fique quieto. Não pense que não farei nada só porque é meu cliente.

Marcos Lamarra era o filho de um grande cliente, dono de um restaurante perto do cais, e nós participávamos do mesmo curso de esfolar a caça. Para mim o curso tinha o objetivo de melhorar a minha técnica e, consequentemente, a qualidade de meu produto. Para ele servia apenas para aumentar os lucros do pai, comprando o animal ainda com pele e assim diminuindo o custo da mão de obra do caçador. Marcos passava o dia todo no restaurante, mas não para trabalhar e ajudar a família. Lá ele podia comer o que quisesse, o quanto quisesse e quando quisesse. Como Marcos não pagava pelo o que consumia, seu pai encontrou uma maneira de compensar pelo prejuízo que ele dava, o matriculando no curso contra a sua vontade. Ele não gostava nem um pouco disso.

Uma das tarefas finais do curso, promovido pela sociedade de caçadores, era a de abater um animal e levar a pele intacta de volta para os avaliadores. Para a maioria dos alunos isso era rotineiro, mas não para Marcos. Como ele era um grande cliente eu me ofereci para levá-lo, lhe prometendo um de meus animais para realizar a tarefa. Marcos, que media cerca de 1,60m e tinha cabelos ruivos e encaracolados, tinha o bom humor como uma de suas principais características, fazendo piadas sempre que tinha a oportunidade. Ele era adorado por todos, exceto por mim naquele momento. Após alguns minutos de raro silêncio ele voltou a me provocar, dessa vez rindo enquanto dizia.