Butterfly

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Com um sorriso no lindo rosto, começou o dia que prometia ser agitado. Ainda no banheiro, ajeitou a camisa fina no corpo magro e prendeu o cabelo fino e loiro num rabo de cavalo frouxo, confortável, que ainda deixava sua franja moldando o rosto e, revirando os olhos para o reflexo no espelho, suspirou.

Já no fim da manhã, olhou o relógio na parede branca e, tendo que se concentrar para ouvir seus próprios pensamentos naquela cafeteria tão movimentada, lembrou-se de um pensamento em particular, o de que estava certa, o dia realmente seria cheio. Levou mais uma bandeja cheia para uma mesa mais afastada, com apenas uma moça ruiva que lhe agradeceu com um sorriso e, finalmente parou, observando o local. O estabelecimento cheio e, graças a sua agilidade, todos estavam servidos, dando a ela um sentimento de realização, trabalho feito. Mas, como sempre, seu chefe era exigente e, assim que a via parada, a mandou pegar mais café.

Enquanto vigiava a porta embaixo da escada pelo enorme espelho da entrada, sentou-se nos degraus do alto, descansando o pequeno corpo, já dolorido do trabalho árduo que fazia sozinha. Suspirou, novamente tentando pensar positivo, lembrando-se que a hora de descanso já estava chegando, para almoçar. Fechou os olhos rapidamente, tomando coragem para voltar ao trabalho. Desceu as escadas em tempo de ver seu chefe pelo reflexo do espelho, vindo em direção a porta dos aposentos do estoque. Assim que a mesma atravessou a porta, ele olhou para a jovem, de cima a baixo com uma carranca e pegou a embalagem fechada de café que estava entre os dedos finos, entregando logo em seguida um pano branco e mandando a mesma limpar as mesas que estavam fora da lanchonete. Engolindo em seco, foi sem protestar, mentalizando que logo o dia acabaria.

Enquanto tirava algumas manchas das mesas, sentiu uma brisa mexer sua camisa fina, deixando que lhe roubasse um suspiro de satisfação. Encostou o corpo na madeira, agora limpa, e assustou-se com o sentimento que se apossou de si. Aquele sentimento que traduzia "já chega". Suspirou forte, cansada, quando viu uma delicada borboleta branca em frente ao seu rosto. Sentiu a leve brisa novamente tocar seu rosto e estendeu o braço, deixando que o pequeno inseto pousa-se no seu dedo. Sorriu, como se tivesse a aprovação para seu sentimento. O universo gritava sim!

Já visualizando o que faria em seguida, deixou sua mente divagar, lembrando quase que instantaneamente do seu lugar preferido quando era criança. Lembrou-se do vento no cabelo, do cheiro das flores e do barulho das ondas do mar agitado.

Desperta dos devaneios pelo bater leve das asas da borboleta em seus dedos, franziu o cenho com sobrancelhas feitas em raiva para o incomodo em seu quadril. O avental que usava na rotina, nunca pareceu tão apertado quando naquele momento. Levantou-se e, decidida, passou pela grande porta com força, abrindo as duas portas de vidro do local, sentindo a fervura da certeza se apossando novamente de si. Tirou o avental preto da cintura, já ouvindo a voz grossa do chefe. Deixando a revolta agir sobre seus atos, jogou o avental no balcão, já sentindo olhares dos clientes sobre si. Ignorando tudo a sua volta, entrou nos aposentou do local e pegou sua jaqueta preta, voltando rapidamente para a entrada, olhando nos olhos verdes do chefe, já sentindo o prazer em se demitir.

- Tô farta disso. - Pegou as chaves do carro, ouvindo agora os apelos do homem a sua frente e, com um sorriso sincero, balançou suas chaves no ar, se despedindo do homem raivoso com um adeus. Não um até logo, não um tchau. Adeus.

Andou pela calçada e, já sabendo onde estacionou o carro não tão longe do estabelecimento, colocou a jaqueta e soltou os cabelos, sorrindo para se mesma, se sentindo mais leve. Logo achou o conversível e entrou de uma forma mais despojada, como estava se sentindo. Não ousou abrir a porta, pulou por ela para dentro, no banco confortável, já reclinado como gostava. Assim que saiu dirigindo pela cidade, ligou o som do carro num volume agradável, sentindo a liberdade bagunçar os fios loiros do cabelo que voava, a deixando mais atraente para qualquer um que a olhava. Para qualquer um que era atraído pela imagem da garota feliz. Já na estrada deserta, a caminho de Auckland, observou a paisagem verde tendo o sol a banhando, cada vez mais suave, a cada curva mais bonito. Permitiu-se lembrar novamente da infância e de cada sorriso que dava para a liberdade. Permitiu-se também odiar por alguns minutos a vida adulta e, logo em seguida, sorriu novamente para o destino que a trouxe naquele momento, ouvindo sua música preferida tocar no carro e, aumentando o volume, começou a cantar a plenos pulmões.

Desligou o som assim que avistou o arvoredo que invadia sua memória. Dirigiu por mais alguns minutos e parou o carro em um morro coberto de verde, apreciando a vista por alguns segundos, sentindo a liberdade gritar dentro de si. Sorriu mais uma vez para a brisa que bagunçava seus cabelos antes de notar uma mulher abaixo de si, perto do mar. Sua roupa quase se fundia com a cor da areia e, provavelmente dançando, a mesma girava com os braços abertos, sorrindo, fazendo as tranças loiras voarem. Logo que a mulher parou, olhou diretamente para a outra, deixando os braços caírem perto da cintura e, deixando um olhar um tanto infantil, sorriu abertamente antes de começar a correr.

Seu único ímpeto, ainda sem entender a cena, foi correr atrás da mulher, avistando a jovem que parou no alto da outra montanha. Seu cansaço da corrida desapareceu assim que a alcançou, olhando as feições de perto, tão conhecidas, idênticas as suas. Ali, sentindo e vendo a brisa bagunçar os fios loiros, se deixou apaixonar novamente... por si mesma. 

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