Capítulo 3

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Já havia se passado uma semana desde a conversa que tive com meus irmãos. Depois daquele dia quase não nos vemos, pois eles andavam ocupados com funções que papai os delegava, por estarmos mais próximos ainda da data marcada para a festa. Estava com saudades de nossas brincadeiras, e conversas despreocupadas, mas pensava que tudo isto era motivado pelas mudanças que eles mesmos me alertaram em nossa última conversa.

Era ainda manhã e os pássaros cantavam em minha janela, quando Donghae entrou em meu quarto sem ao menos bater, o que me desagradava bastante, ele estava sério e inexpressivo assim como papai o ordenara a ser, e este como um dos empregado de confiança de papai, assim fazia.

- Senhorita, o Senhor Jung seu pai lhe espera em seu gabinete, por favor, queira me acompanhar.

Me levantei da cadeira em que estava com o coração apertado, papai nunca me chamará em seu gabinete. Ao chegar, Donghae me anunciou e prontamente papai ordenou que entrasse. Sentei-me na poltrona de couro negro que ficava frente a mesa que ele se encontrava. Acabará de me sentar e papai logo iniciou muito sério, o seu discurso, que me deixava preocupada e ainda mais nervosa:

- Filha, quero que me ouça com extrema atenção. Você já deve ter conhecimento a respeito da família que chegou a nossas redondezas, cerca de 5 anos atrás, não sabe? - Assenti com a cabeça, mesmo sem ainda entender onde ele queria chegar com este assunto, já que questões políticas nunca foram de interesse as mulheres da família.

– Eles possuem muitas propriedades e terras, muito mais que nossa família, além de sua grande produção e a influência que adquiriram nesse pouco tempo. Assim, estão monopolizando o comércio da nossa região, e conseguindo muitos aliados políticos. Então, como forma de nós preparar e podermos manter nosso prestígio na corte, como também garantir o crescimento de nossos bens. – Papai fez uma pequena pausa, como se buscasse o ar para continuar seu relato, o que me deixou ainda mais ansiosa.

-  Nossa família e a família Kim resolveu deixar de lado nossos desentendimentos, e juntar nossas forças, para um bem comum, não benefícia apenas a nós, mas também ao país, os japoneses estão cada vez mais conquistando espaço aqui e temos que nos preparar, e quanto mais fortes politicamente e economicamente, poderemos sobreviver. – Mesmo não entendendo muito sobre política, e tudo que a envolvia, não pude evitar de achar graça de sua declaração, mesmo que subconscientemente, pois se houvesse algo em meus quase 15 anos, de que tinha absoluta certeza, era que eles se odiavam e essa aproximação não seria positiva. Ao mesmo tempo que ficava feliz, e mais tranquila pois aquela rixa já durava tempo demais.

Papai me olhava atentamente como se estivesse a espera, de que eu lhe dissesse algo.

– Que bom papai, fico feliz. Toda essa disputa e rivalidade com os Kim já estava em tempo de acabar. - Falei com um singelo sorriso no rosto, que logo desapareceu assim que meu pai finalmente chegou ao ponto principal do assunto.

– Ótimo, que bom que pensa assim minha filha. Será mais fácil para você aceitar os próximos acontecimentos se tiver uma visão positiva da nossa aproximação, já que, para que alcancemos essa paz e nossos demais objetivos apenas um contrato formal e escrito não seria suficiente. - Papai olhou-me com o semblante ainda mais sério. – Você irá se casar com o primogênito do Senhor Kim.

Não pude conter o espanto, jamais em minha vida me imaginaria dentro de uma situação semelhante, meus batimentos estavam descompassados, não conseguia acreditar no que acabara de ouvir. Foi como se em um só golpe, todo meu mundo desmoronasse. Porém antes mesmo que pudesse me manifestar, papai continuou. – Vocês serão formalmente apresentados em breve, e com isso poderemos marcar a data do casamento.

Ao soar daquelas últimas palavras, não pude mais me conter e manter-me em silêncio, aquele em minha frente não parecia meu pai, o homem que conhecia por pai pensaria na filha primeiramente, mas aquele homem em minha frente era apenas um homem de negócios e eu era seu contrato mais lucrativo.

- Não acredito que fizeram isso comigo! Estão me usando como moeda de troca em um contrato! Eu não consigo acreditar! Meu próprio pai vendeu-me por poder! – Minhas vistas ficaram turvas pelas lágrimas que se formavam, não pude contê-las, a dor que sentia em meu peito era violenta. Mesmo sendo ainda muito jovem, sabia o que a palavra casamento significaria. Eu me tornaria completamente submissa a alguém que eu não conhecia, não poderia fazer escolhas ou atender as minhas próprias vontades, não poderia correr pelas campinas, sem livros ou estudos, apenas os afazeres de uma dama casada. Jamais aceitaria aquilo! Não aceitaria que tirassem minha liberdade, não permitiria que roubassem minha infância.

– Eu não vou me casar, não vou! Não pode me obrigar a isso papai! - Falei mais alto que pude, já que minha voz mal saia por causa das lágrimas que corriam pelo meu rosto, e me embargavam minha garganta, mas antes que continuasse com meus protestos papai afirmou:

- Pare com isso menina! Já basta! Você não é mais uma criança! E caso não saiba você não tem a escolha! A decisão é minha, e já está tomada! Em nenhum momento perguntei se aceitaria, a chamei apenas para lhe deixar a par da situação. Sou eu que decido sobre a sua vida! Agora aja conforme foi educada e cumpra seu papel.

Nunca ouvirá papai falar assim comigo, aquelas palavras, e toda essa situação só me deixavam mais descontente. Sem mais poder me opor, levantei-me deixando clara minha indignação a sua decisão e pedi-lhe para me retirar. Não queria mais ficar naquela sala, nem tampouco continuar encarando meu pai. Queria poder correr e respirar ar puro e imaginar que tudo aquilo era apenas um pesadelo.

Enfim, após receber sua permissão  fui em direção a porta para me retirar, mas antes que à fechasse, papai chamou novamente minha atenção.

- Vocês serão apresentados no final desta semana, assim que a família Kim chegar de viagem. Portanto, peço que se prepare e comporte-se! Lembre-se que já é uma moça, e que agora tem responsabilidades. Já sabe que minha decisão já foi tomada, e que nada fará com que volte atrás nesse assunto.

Não pude mais ouvi-lo, logo que ao final destas palavras bati a porta atrás de mim, e saí ainda sem conter o choro buscando refúgio à sombra da árvore de minha amada campina.

Lancei-me ao chão assim que alcancei aquela doce sombra, no entanto logo pude avistar Jimin e Jungkook chegando a cavalo. Pude enfim colocar um sorriso no rosto, pois em minha cabeça apenas eles poderiam me ajudar a livrar-me desta situação. Corri em direção a eles, que também vinham ao meu encontro. Me aproximei ofegante, e bastou olhá-los de perto para que me desfizesse em lágrimas outra vez.

– Por favor irmãos, vocês precisam me ajudar! Vocês têm que fazer papai mudar de ideia. Não imaginam o ele fez... – Enquanto ainda despejava sobre os dois, todo meu desespero fui interrompida por Jimin que me olhava inexpressivo.

- Infelizmente isso não pode ser mudado minha irmã, eu sinto muito. Já tentei conversar com papai a respeito inúmeras vezes, mas não há outra solução. Tanto nosso pai, quando o Senhor Kim, estão irremediáveis sobre sua decisão. - Olhei intrigada para meu irmão, não podia no que meus olhos viam! Eles sempre souberam, e o pior de tudo, sempre me esconderam toda verdade sobre meu próprio destino.

- Vocês sempre souberam? - Jimin e Jungkook se entreolharam e assentiram com a cabeça, e logo Jungkook completou:

- Soubemos a cerca de dois ano, assim que começamos a trabalhar junto ao nosso pai.  Sinto muito irmã, também não queríamos isso. - Ouvindo aquela confirmação vinda de meu irmão, enraiveci.

- Porque nunca me contaram? Nós podíamos poder ter feito algo! Podíamos ter pensado em uma solução! – estava visivelmente nervosa, meus irmãos me olhavam cada vez mais tristes diante da atual situação em que me encontrava. Com a cabeça baixa Jimin finalizou.

- Acredite minha irmã, nós realmente sentimos muito, juro que fizemos tudo que estava ao nosso alcance ao seu favor.

Aquelas palavras foram as últimas que me direcionaram, deixaram-me com um beijo na testa, acompanhado de seus olhares claramente abatidos, e só assim saíram em disparada em direção a nossa casa. Não havia mais o que fazer, não sabia mais como lutar, rendi-me a toda dor que sentia, e caí de joelhos no chão, mais uma vez mergulhada em lágrimas, cega pelo meu desespero, e totalmente perdida em meio às inúmeras questões que me viam a mente a respeito de meu futuro próximo. Apenas esperava que esse fim de semana nunca chegasse

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