Prólogo

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2018

Não estava conseguindo dormir. As imagens daquele dia tenebroso continuavam me aterrorizando, fazendo-me contorcer na cama de um lado para um outro. A janela do meu quarto estava aberta, então sentia a ventania avisando que uma tempestade viria, mais um motivo pra que eu fique aqui, no campus da faculdade, passando o feriado de Ação de Graças sozinha, assistindo vários filmes na Netflix e comendo pizza.

O sol já estava começando a aparecer e iluminar a minha parte quarto, deixando à mostra a bagunça que estava aqui. Minha colega de quarto, Josie, com quem mal falava, tem uma mania por limpeza, portanto deixa a sua parte do quarto brilhando. Ela já tinha se adiantado e pegado estrada, me deixando aqui sozinha.

Começo a me espreguiçar lentamente, tirando a coberta do meu corpo, deixando-o a mostra.

Pego meu telefone para verificar as notificações e vejo que tem uma mensagem nova de minha irmã Lizzie:

VOCÊ AINDA VEM? MAMÃE VAI PREPARAR SUA COMIDA PREDILETA PRO ALMOÇO: LASANHA DE FRANGO. ESTAMOS A SUA ESPERA!! xoxo.

Tento não ficar empolgada. Mamãe sabe do meu ponto fraco. Ela sempre preparava lasanha de frango quando meu pai estava vivo, era o prato preferido, meu e dele.

Papai era a pessoa que eu mais admirava nesse mundo. Simpático, inteligente e muito engraçado (que sempre nos fazia rir nas situações mais tristes), infelizmente não conseguiu resistir a um infarto e nos deixou há dois anos. Desde então sinto que a mamãe ainda não superou, por mais que ela tente demonstrar que tenha.

Tinha me perdido nos pensamentos que nem reparei que a hora passou. Me levantei devagar, calçando as pantufas para não pisar no chão gelado, e fui para o banheiro.

Depois de ter me arrumado, separei algumas roupas, o suficiente para passar só alguns dias, e dei uma arrumada no quarto. Josie havia deixado um bilhete grudado na geladeira dizendo que tinha deixado café pronto pra poder eu pegar estrada, muito fofo da parte dela.

O dormitório B estava vazio, acho que eu era a única alma viva daquele lugar, peguei minha mala e comecei a andar até o estacionamento. O caminho estava tão silencioso que eu conseguia escutar nitidamente o som das rodinhas da mala arrastando pela madeira do corredor.

O clima estava bem agradável, o vento frio fazia-me lembrar de quando eu e minha família íamos a praia, que fica próximo da minha cidade natal, e ficávamos lá durante o dia nos divertindo. Tinha que ficar no terminal rodoviário do campus, esperando a hora do ônibus passar.

Sentei em um dos bancos da ponto de ônibus e fiquei refletindo se deveria voltar ou não, a um lugar que me fez tanto mal no passado e que me destruiu por dentro. Há 2 anos que eu não ouço nenhuma notícia sobre Cliversland, cidade famosa pela sua geleia de morango, cidade pela qual eu passei o pior dia da minha vida. Avisto então o letreiro brilhante do ônibus e faço sinal, o motorista para e então eu vou de ida ao meu inferno.

Gone GirlWhere stories live. Discover now