Apesar do que as pessoas poderiam pensar, o mundo inferior era um lugar pacato. Claro, sempre existiam as almas rebeldes que não aceitavam o fato de terem morrido e insistiam que tinham que voltar por esse ou aquele motivo... Mas o sistema de segurança já era bem treinado para lidar com aquele tipo de agitação. E uma vez que as almas passavam pelo julgamento, não havia muito mais o que fazer. As fúrias se encarregavam de qualquer coisa mais séria e a única cadeia de comando que realmente existia era a soberania de Hades sobre tudo e todos.
A terra devastada e cheia de detritos, o ar sulfúrico e sufucante, os rios poluídos feitos de líquidos mortais, dentre tantas outras características, mantinham até mesmo os deuses longe do local. Fora as visitas ocasionais de semideuses impertinentes, o reino dos mortos seguia sua rotina. Recebimento das almas, travessia com Caronte, julgamento, direcionar para local de descanso eterno... E fim. Dia após dia, a rotina era seguida. Sem surpresas, sem mudanças.
E foi por isso que ninguém, nenhuma alma, guarda, soldado, juiz, fúria ou qualquer outro ser presente no reino, entendeu o que estava acontecendo quando o exército de Tártaro marchou.
Ninguém, exceto um semideus.
A planície marcada pelo correr do rio Aqueronte, que circuncidava todo o reino de Hades, e do rio Estige, que circulava feroz ao redor do palácio de Hades e sumia no interior das múltiplas passagens escuras que existiam no horizonte até encontrar seu caminho para o Tártaro em si, agora completamente saturada de monstros, era observada pelo sorriso do filho de Poseidon.
Percy Jackson estava na sacada do palácio de Hades e admirava o exército mais assustador que o universo poderia conjurar. Seres que ele jamais havia visto na vida e duvidava até que algum dia haviam sido registrado pelas histórias e mitos antigos, seres que até mesmo os deuses haviam se esquecido, se erguiam, fileira após fileira, expelidos pelo abismo onde ele um dia esteve.
Justamente como ele havia planejado.
Os passos de uma pessoa em plena corrida soaram atrás dele, mas o garoto não se virou para ver quem era.
- O exército está se preparando. - Nico avisou mesmo assim, incapaz de manter a preocupação fora da voz. Percy não reagiu e Nico avançou até onde ele estava, colocando uma mão sobre os ombros do amigo. - Percy, você me ouviu?? - Ele perguntou exasperado, puxando o amigo até que o mesmo fosse forçado a encará-lo.
Nico congelou no momento que o olhar de Percy travou no dele.
Puro e completo ódio. O olhar de Percy brilhava como as águas do Flegetonte e queimava como as águas do Estige. Mas, sendo um filho de Hades, Nico já estava acostumado ao ódio. O que realmente o petrificou foi o sorriso do garoto. O sorriso letal de um predador que saboreia a presa segundos antes de dar o bote.
- Dê a ordem. - Foi a única resposta de Percy. Sucinto. Letal. - Diga ao exército que ataque.
- Eles serão dizimados! - Nico argumentou.
- Me fala uma coisa Nico... Quando um morto morre, o que acontece com ele? - Percy perguntou suavemente. - O que acontece com os mortos que já estão no Hades?
- Eles... - Nico gaguejou. - Eu não sei ao certo... Elas se refazem... No próprio Mundo Inferior...
- Elas já foram julgadas, certo? - Percy continuou.
- Sim, mas..
- E se elas já receberam a sentença então não tem o perigo de elas se perderem ou, digamos, irem para um outro local...
- Eu acho que não, mas ainda assim..
- Então eu não vejo qual seria o problema de passar algum tempo tirando férias desse buraco, se refazendo em algum outro canto desse lugar infernal. - Percy concluiu, a raiva agora presente em sua voz.

DU LIEST GERADE
Percy Jackson e Annabeth Chase - A Vingança de Tártaro
FanfictionUm ano após o fim da guerra contra os gigantes, Percy Jackson e Annabeth Chase vivem a melhor fase de suas vidas. O filho de Poseidon acabou de se formar e foi aceito na faculdade de Nova Roma, junto com Annabeth, e mal pode esperar para começar sua...