O cavaleiro da mamãe

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Quando eu era mais novo costumava ouvir um conto de fadas da minha mãe, ele sempre era o mesmo. A ideia era fazer com que eu não entendesse, que fantasiasse, mas eu tinha medo dessa história, eu sempre tive medo do antagonista dela e acredito que continuarei tendo.

Toda história dessas tem uma moral, mas até hoje não consigo tirar a dessa, talvez se alguém de fora pudesse fazê-lo por mim ficasse mais fácil, exatamente por isso resolvi divulgá-la.

"Era uma vez um dragão muito mal. Ele era alto, raivoso, cheio de garras e possuía asas aladas. Ele se apossou de um castelo, lá ele aprisionou a princesa e nunca mais a deixou sair.

O dragão sempre saía pela manhã, às vezes ficava, mas ele tinha surtos de raiva, nesses ele cuspia fogo que pareciam jatadas de faca na princesa, batia nela com a cauda grande e comprida, a jogava pelos cantos e mandava que ela fizesse as coisas. Toda vez que ele saía, voltava irritado, muito irritado.

Ele mentia dizendo que amava a princesa, poucas vezes pedia desculpa, assim se aproveitava dela. Se aproveitava da maneira que ela acreditava nele. 

Quando ela cansou, vivia cuspindo a ele também, dizia que um dia seria salva por um príncipe, dizia que fugiria quando ele menos esperasse, dizia que ia para longe, mas o dragão enfurecido a atacava sempre.

Um dia ela recebeu a luz de uma cegonha, havia ganhado um pequeno garoto muito bonito, tão bonito que causou inveja no dragão e o enfureceu ainda mais. Para proteger seu pequeno, a princesa passou a obedecer o malvado dragão.

Quando o garoto havia crescido, ele vestiu a armadura de um cavaleiro que havia tentado a sorte e perdido. Com essa armadura e a vontade de ajudar a sua mãe a escapar daquele injustiça, como alcançar a liberdade de ambos, ele colocou um fim ao dragão mal.

A princesa e seu filho viveram felizes para sempre."

Um dia eu havia me dado conta do que aquilo significava para ela. Afinal, meu pai era o dragão, minha mãe a princesa e eu quem havia matado o velho. Havia matado ele quando brigamos no soco, sem nenhuma armadura gloriosa de ninguém, ninguém tentou nos ajudar, nem mesmo os vizinhos quando ouviam os gritos.

Eu matei o meu pai, por pura defesa. Porém, não consigo deixar minha ilusão infantil morrer e acreditar que aquela era a moral da história. Até porque nem o final foi igual, as coisas só pioraram, deveria dizer. 

Não houve um resultado tão bom, apenas metade da pedra havia saído do caminho. 

Quando você têm idade suficiente para entender aquilo, você também entende que os demônios perseguem você quando a poeira abaixa e a luz se apaga.


Para todos os jovens que tiveram de ser hérois pelas circustâncias.

O dragão malWhere stories live. Discover now