》Regra número três《

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A terceira regra Changbin quebrava todo dia.

Assim que acordava e via as mensagens do Lee em seu celular, ou quando via seu sorriso entre os beijos que partilhavam, também teve aquela vez que ganharam um urso de pelúcia gigante num parque e o garoto ficou uma semana postando fotos com ele, e sempre que seus olhares se cruzavam quando conversavam com outras pessoas.

Todos os dias aquela regra tão importante era burlada, porque todos os dias Seo Changbin se apaixonava por Lee Félix.

Era mais forte que ele. Mais forte do que os impulsos de lhe marcar a pele, ou aqueles que lhe levavam a mentir para o garoto.
Definitivamente era insano tentar não se apaixonar pelo garoto de sardas no rosto e sorriso puro.

Aquelas regras que os dois faziam questão de seguir com tanta veemência, pareciam ridículas a essa altura. O que se passava pela cabeça de Changbin quando as criara? Com certeza estava muito drogado ou com muito sono.

Embora não lembrasse direito como as tinha inventado e porque Félix as havia acatado, lembrava muito bem de como tudo teve início.

Lembrava de como havia burlado a terceira regra antes mesmo de cria-la.

Foi naquele jogo estúpido de verdade ou desafio para o qual Minho havia o arrastado, meses depois do falecimento de sua irmã. Foi no chão imundo do quarto de Seungmin que viu Félix pela primeira vez.

Não acreditava em amor a primeira vista até que o garoto um ano mais novo que ele o olhou. Seus olhos estavam apertados por um sorriso simpático que dava para todos os desconhecidos que se apresentavam naquela rodinha. Naquela noite também conheceu Minho, Hyunjin e Jeongin, mas o único que lhe interessou de verdade foi Félix. Talvez por sua voz grave, ou então porque suas inúmeras sardas e a coloração de seus cabelos o lembrassem o outono, sua estação favorita, ou então apenas porque o destino quis assim. Nunca saberia.

E se não fosse o bastante que a cada vez que o olhar do ruivo caísse sobre o seu, Changbin corasse, o mesmo ainda aceitou desafio em uma das jogadas.

E então seu destino foi selado. Embora não soubesse na época de seus sentimentos, tudo se intensificou quando seus lábios se uniram naquela brincadeira boba, dentro do closet de Seungmin, por exatos três minutos.

Três minutos esses que serviram para foder com o psicológico de Changbin.

Os beijos não pararam por aí e a tensão sexual entre ambos só foi aumentando até que um dia, para um trabalho da escola, os dois se encontraram na casa do mais velho e, numa distração entre atividades, ambos se deixaram levar por carícias e mãos bobas até que Félix ficasse por cima do outro, mais especificamente, em seu membro, causando atrito enquanto rebolava ali ao som de uma música qualquer que soava por seu celular.

Foi naquela tarde que fizeram sexo, a primeira de inúmeras vezes. Não que os dois fossem virgens. Se fossem, Changbin temia que o laço que tinha com Félix fosse irreparável.

E tudo o que ele não precisava agora era de mais um motivo para não deixar o garoto para trás.

Tudo se tornaria mais fácil com o tempo, não é? Havia pedido transferência do seu colégio para outro bem distante e logo se formaria e se mudaria para Seoul para fazer a faculdade de música que tanto sonhara.

Daria tudo certo. Se afastaria de Félix de uma vez por todas e deixaria o garoto livre do fardo que ele era, e ainda por cima não precisaria lidar com os seus sentimentos! Era ótimo!

Ou ao menos parecia quando planejou isso pela primeira vez, em uma de suas noites de insônia. Mas como todos os seus planejamentos ou regras, aquele estava indo por água abaixo.

Água essa que escorria por seus olhos vergonhosamente enquanto recolhia as roupas e pertences de Félix por seu quarto. Juntou tudo em uma pilha organizada sobre a cama e fitou seu feito até que a respiração ficasse presa na garganta e as pontadas em seu peito fossem tão dolorosas que tudo o que podia fazer era chorar, alto e pateticamente, abraçando seu corpo.

E pela segunda vez: doía. Mais do que doía ser passivo ou então ver que os ingressos para um filme que queria muito assistir estavam esgotados. Doía mais do que ter notas baixas e doía mais do que quando viu o olhar de desgosto do seu pai, assim que o mesmo descobriu que ele era gay.

Porque perder Lee Félix doía mais do que qualquer coisa em sua vida, mesmo que seja impossível perder algo que nunca foi seu.

Changbin não esperou as lágrimas cessarem antes de entrar no banho quente. Também não abriu o aplicativo de mensagens - lotado de palavras preocupadas e furiosas de Félix - antes de se enfiar debaixo dos cobertores limpos e olhar para o teto do seu quarto por horas até que pegasse num sono sem sonhos.

No dia seguinte não foi para a escola e não atendeu a porta de casa e nem deixou que qualquer pessoa fizesse isso, e assim foi por uma semana.

Era incrível como conseguiu perder peso nesse meio tempo. Caso a anorexia ainda o consumisse, se olharia quase satisfeito no espelho. Mas tudo o que via agora não lhe causava nada mais que desgosto em sua forma mais concreta.

Saiu do banheiro naquela tarde - havia acordado há pouco, totalmente perdido em sua rotina de vagabundo - e olhou o monte de roupas e pertences de Félix que jaziam numa cadeira no quarto escuro. Sabia que teria que devolve-los de um jeito ou de outro, assim como sabia também que se o fizesse pessoalmente, teria uma "recaída" ao ver o ruivo, além de muitas perguntas que pesariam sobre si.

Decidiu que pediria para a mãe levar na casa do garoto. A mulher não via problema algum na orientação sexual do filho, apesar de ser ocupada o bastante para que não conseguisse enxergar a tristeza que adornava Changbin.

Ela levou as coisas até a pequena casa de Félix sem fazer nenhuma pergunta, e as entregou para a Noona, também ruiva, do menino, se dirigindo atrasada para o trabalho que tomava tanto do seu tempo e vida.

Saerom apenas sobe as escadas com aquela pilha cedo coisas sobre os braços. Sabia bem o que significava. A relação de Changbin com seu irmão caçula era algo que, apesar de não entender, ela respeitava. Era a única da casa que tinha conhecimento da orientação sexual de Félix, mas a única richa que cultivava com o mesmo era que as maquiagens dele eram melhores que as dela. Um pouco de inveja não faz mal, né?

Bate duas vezes na porta pintada de azul com "Yongbok" em letras puídas, entrando em seguida.

Saerom olha para o rosto do irmão, tendo um aperto no peito quando vê a pele morena e sardenta manchada de lágrimas. Deixa as coisas sobre uma mesa ali perto.

Félix não precisa de mais que poucos segundos para entender de onde veio tudo isso e o que significa. Seus olhos encontram a irmã de braços abertos, chamando-o para um abraço em silêncio.

No aperto do peito da irmã, o garoto finge sentir algum conforto, embora as lágrimas que voltaram a pintar sua visão, denunciassem que seu coração doía e sua mente estava uma bagunça.

Rules || Changlix Where stories live. Discover now