Maximus

42 5 0
                                    

Solaire passava por uma crise econômica crítica. Havia poucos ricos e muitos pobres, a desigualdade era um problema marcante, apesar da prosperidade do reino, que se mantinha cobrando impostos abusivos de sua população. Aqueles que tinham pouco eram acostumados a poucas refeições e quase nunca se queixavam sobre o que comiam. Na verdade, ficavam felizes quando tinham mais que pão e frutas velhas. A carne em si era algo nobre: somente quem tinha dinheiro para bancar a morte de um animal tinha tal luxo.

Tradicionalmente, o rei impunha o chamado "Jejum da Vida", que basicamente consistia na proibição do consumo de carne por todo o reino, inclusive entre intelectuais, nobres e qualquer outro que não fosse a si mesmo. Pregava que o jejum mantinha o povo mais perto de Deus e livrava-os do pecado. No fundo, ele se sentia muito bem por ser o único que consumia aquele alimento. A exclusividade, mesmo em pequenos gestos, reforçava sua posição real, quase como fosse uma divindade com poderes sobre a vida e a morte. Dentro desta teatralidade ao lidar com o povo, se posicionava como servo fiel e temoroso a Deus. Sua palavra jamais devia ser contrariada e sua masculinidade jamais contestada.

Não era somente o prazer de comer algo restrito. Maximus mantinha certa vigilância quanto qualquer ação que não fosse previamente autorizado por ele. Mesmo que não participasse, ou que o gesto nada tivesse a haver com sua pessoa, ainda palpitava na vida dos outros simplesmente porque não queria perder o controle. Também tinha essa atitude quanto às relações carnais. O ato deveria ser praticado somente entre um homem e uma mulher, jamais entre duas pessoas do mesmo sexo ou em posições diferentes daquela em que o homem fica por cima da mulher. Certa vez torturou em praça pública dois de seus guardas que foram pegos fornicando pelo ânus. O método de purificação mais indicado era a pêra, um mecanismo de metal no formato da fruta. Por meio de um parafuso de ponta afiada, que segurava as três partes exteriores do objeto, e que o torturador girava progressivamente com a intenção de expandir ao máximo a boca da ferramenta para forçar e perfurar o reto do pecador. A prática garantia uma morte dolorosa. Porém, em ocasiões em que a morte não ocorria, o pecador era considerado perdoado, mas deveria lidar com as dores que acompanhavam a benção. De qualquer maneira, por nada naquele mundo Maximus aceitaria uma relação entre dois homens como algo normal.

Por vezes, engravidava suas concubinas. Algumas se encontravam com monges para tentar abortar a gestação, outras aceitavam a maternidade, mas deviam arcar com a responsabilidade de criar o filho, sozinhas, longe do castelo. Para o rei, eles eram frutos do pecado, mas a hipocrisia fazia-o sentir mais forte, um ser melhor que seus iguais, por copular com quem quisesse, principalmente se fosse jovem e bonita. No fim de seus atos libidinosos, costumava agradecer a amante por tê-lo limpado do mal que carregava, dizia o jargão real de sempre e o dia seguia normalmente.

Algunsjustificavam a atitude do homem santo com a falta que lhe fazia Magali, arainha. Diziam que a pobre coitada sofreu morte súbita ao ficar sem os filhospor perto. Era nítido para todo o reino o quanto a jovem mãe era amorosa eapegada, até que a necessidade de educar Eirian para ser um príncipe digno deherdar o reino o levou para longe de modo que pudesse seguir os estudos. Diziamtambém que ela voltou para o reino de seus pais, abdicando o trono e voltando aser uma mera princesa. A verdade é que ninguém sabe ao certo, nem mesmo Eirian,o que aconteceu ou qual o paradeiro da mãe. Ele questionou o rei, cujo oaborrecimento avançava sobre o príncipe através de olhar cerrado. Aceitou aderrota, pelo menos até um segundo momento, quando decidisse tomar coragem paraenfrentar o pai novamente.

Malakoi Desviado - *DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now