A Audiência

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Newt sentiu algo pesar na manga de seu casaco e riu fraquinho ao ver o tronquilho pendurado no botão da roupa, as perninhas sacudindo no ar.

Era um alívio ter Pickett consigo na maioria das vezes. Quando se sentia desconfortável, inquieto (algo que acontecia com frequência quando tinha que ir ao Ministério), o bruxo podia se distrair observando a criatura, que parecia ver uma aventura em cada canto. Scamander ergueu mais o braço, vendo o tronquilho tentar puxar mais e mais o botão, de certo querendo imitar os pelúcios e começar uma coleção de pequenos tesouros.

Eventualmente, o botão se soltou e o homem teve que apanhar o animal antes que este caísse no chão. Pickett, no entanto, não estava interessado em ficar no conforto e segurança de suas mãos. Ele logo escapou por entre os seus dedos e pulou no chão, correndo atrás do botão que agora rolava pelo tapete vermelho que se estendia por todo o corredor. Em um pulo, Newt se levantou se correu atrás da criatura, se jogando no chão a fim de apanhá-lo, mas sempre o perdendo a cada curva brusca que este fazia.

"Ah!" o bruxo exclamou, finalmente fechando os dedos ao redor do bichinho, quando este desacelerou. Só depois de alcançar Pickett foi que ele percebeu a razão deste ter parado de correr: um par de sapatos azuis.

"Olá, Newt."

Scamander sentiu o rosto esquentar e se levantou, quase tropeçando nos próprios pés, antes de encontrar o rosto conhecido de Leta Lestrange. A mulher pressionou os lábios em um bico, prendendo o lábio inferior entre os dentes, uma mania que tinha desde os tempos de Hogwarts, uma tentativa de conter o riso.

"Leta..."

"Eles estão quase prontos," a mulher falou, olhando rapidamente para a porta a frente deles. "Mais viagens para pesquisas?"

"S-Sim," ele murmurou, olhando para os próprios pés enquanto sentia os dedos de Pickett arranharem a sua pele.

"Theseus diz que dessa vez eles estão mais abertos a negociação," ela murmurou, como se estivesse lhe contando algum segredo. "Aliás, quando você vai jantar conosco?"

"Ainda não tive tempo, desculpe," ele murmurou.

"Todas as vezes que o convidamos?"

"Estava trabalhando no livro. E cuidando dos animais." O homem coçou o pescoço, tentando se distrair. "E o que você está fazendo por aqui?"

"Theseus achou que seria bom eu me tornar parte da família do Ministério."

"Ele realmente falou 'família do Ministério'?" Leta riu baixinho e começou a andar ao longo do corredor, levando-o na direção da sala de sua audiência. "Pior que parece algo que ele diria. Vamos lá, Pick."

Newt ergueu a mão até o bolso do casaco, onde o tronquilho se esticou para entrar sem hesitar. Apesar de todas as coisas que haviam acontecido nos últimos meses, Pickett continuava acanhado na presença de outras pessoas.

"Por que criaturas estranhas gostam tanto de você?" a mulher perguntou, inclinando a cabeça para o lado enquanto observava o tronquilho a espiar pela abertura do bolso.

"Bom, não existem criaturas estranhas-"

"Somente pessoas cegas." Ela sorriu e, dessa vez, Newt retribuiu o gesto. "Quanto tempo você pegou de detenção por falar isso para o Prendergast?"

"Acho que, daquela vez, foi um mês."

"E eu joguei uma bomba de bosta debaixo da mesa dele," ela continuou, rindo. "Para poder te fazer companhia, lembra disso?"

"Newt!"

Os dois pararam de andar, vendo um homem se aproximar pelo corredor. Se alguém fosse prestar atenção, talvez diria que havia semelhanças entre ele e Newt, tais como os cabelos cobreados, os olhos claros e as sardas, mas Theseus sempre parecera diferente, talvez pela facilidade que tinha em interagir com outras pessoas, a habilidade de manter um olhar e aceitar apertos de mão e abraços. Newt não sabia como lidar com essas coisas, suas conversas sempre desviavam para criaturas, seu olhar automaticamente desviava dos olhos dos outros e seu corpo estremecia cada vez que alguém o tocava.

Les Crimes de GrindelwaldDonde viven las historias. Descúbrelo ahora