Preto no Branco

1 0 0
                                    


Os meus pais têm horror ao gueto ou qualquer coisa relacionada com aquele lugar que eles tanto lutaram para sair. As memórias dos tempos de más companhias e fome fazem o meu pai se afastar da parte norte da cidade e tudo que ela contém, reafirmando assim a sua decisão de morarmos na zona "branca" da cidade. Depois de ter conseguido, com muito esforço, ir para a faculdade de Economia e arduamente ter iniciado a sua empresa de música com um dos seus colegas da universidade, o meu pai se tornou um dos homens mais ricos do país. A minha mãe, sua paixão de infância, que tinha um bom ouvido musical tornou-se uma das suas produtoras e ocasional compositora. Agora que era um homem respeitado por onde quer que andasse, o status de negro do gueto tinha sido deitado por terra e o Sr. Andrade ainda hoje o mantêm enterrado.

Desde que nasci, o estilo de vida abastado, porém cauteloso, era tudo o que conhecia. Os meus pais não me cobravam o quão sortuda era, pelo contrário, davam graças a Deus por não ter passado pelo mesmo que eles. Nunca me atrevi a perguntar a razão de tanto desprezo daquele lugar mas essa fobia criou uma divisão na nossa família. Raramente vejo os meus avós e cresci sem conhecer os meus primos. No Natal e outras festas, os meus pais vão buscá-los e deixam-me em casa porque não me era permitido sequer ver aquele lugar pela janela do carro. Para ser sincera, nunca questionei a proteção dos meus pais em relação a este assunto, eles queriam que eu estive sempre em segurança, certamente era para o meu próprio bem.

Vivíamos na zona mais rica da cidade e a maior parte das pessoas eram brancas. Infeliz ou felizmente na nossa sociedade o dinheiro fala mais alto e como a única herdeira do maior empresário da indústria musical no país, isso bastava para ser aceite onde quer que fosse independentemente da cor da minha pele.

- Esme?

- Diz, Cíntia. - respondi-lhe sem tirar os olhos do quadro ao copiar a matéria para o caderno.

- Temos que falar sobre o teu aniversário! - pelo entusiasmo na sua voz mais parecia o seu aniversário do que meu. - Temos que fazer uma festa bombástica!

- Eu não sei, acho que vou viajar ou assim. - continuei com o mesmo desinteresse.

- Não te atrevas a dizer isso! - meteu-se a Juliana ao meu lado direito. - Fizemos isso no ano passado.

- E no anterior e no anterior a esse e no...- continuou a Cíntia.

- Está bem, está bem falamos depois disso. - olhei-as com uma certa autoridade para pararem com o assunto. - Agora prestem atenção na aula.

A Juliana e a Cíntia aproveitavam esta aula para por a conversa em dia. Éramos amigas há cerca de dois anos, embora já fosse amiga da Cíntia desde praticamente do berço. Os seus pais eram meus padrinhos, sendo o seu pai o sócio do meu. Às vezes pode ser uma bênção ou maldição ser emparelhada tão nova com alguém como a Cíntia. O seu espírito de criança enchia uma sala cheia de pessoas por si só, mas também revela a doçura e ingenuidade que só um coração puro contém. O seu cabelo ruivo ondulado ligeiramente abaixo da linha dos ombros, os olhos verdes e a cara gentilmente decorada de sardas ajudavam na idealização de anjo que certamente passou pela mente de artistas da antiguidade e ainda hoje passa nas dos rapazes que têm o prazer de vê-la passar. Não posso negar que seja difícil competir com uma beleza assim, desde que eramos crianças fomos classificadas entre a bonita e a inteligente. Acho que conseguem identificar quem é quem. 

 Mesmo sendo o mais novo elemento do grupo, a Juliana já era uma velha conhecida devido aos inúmeros amigos em comum que partilhamos. A sua postura de pessoa fechada contrasta com a sua habilidade de fazer amigos e namorados, algo que tinha em comum com a Cíntia, embora não fosse tão frequente. A sua paixão pelo desporto ajudava nesta parte, era capaz de praticar qualquer desporto que lhe apresentassem, logo tinha um físico invejável. Mesmo assim, conseguia manter a sua feminilidade com o seu cabelo loiro tocando a nuca e os olhos castanhos charmosos mas ao mesmo tempo misteriosos.

As duas tagarelavam nos meus ouvidos, enquanto eu estava deslumbrada a viver todos os eventos da história mundial, tornando inútil qualquer conversação comigo nesta altura. As aulas de história sempre foram as minhas favoritas, embora a professora fosse um pesadelo. Fascina-me todo aquele processo que nos levou até aqui, todos os erros e sucessos dos nossos antepassados que mudam o mundo na sua época. Parecia que nada podia desconcentrar-me, exceto quando ele entrou pela porta.  

Naabot mo na ang dulo ng mga na-publish na parte.

⏰ Huling update: Dec 19, 2018 ⏰

Idagdag ang kuwentong ito sa iyong Library para ma-notify tungkol sa mga bagong parte!

Quem Te Deu a MimTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon