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Alguns dias se passaram e Ashton e Zoe se encontravam diariamente pra andar e sentir o ar gelado de Londres no outono, mas não naquele dia. 

Ela chegou em casa e viu uma mulher estranha andando pela casa apenas com as roupas íntimas.

— Cadê minha mãe? — ela perguntou com raiva assim que seu pai apareceu na sala.

— No seu quarto — ele disse e ela correu até o quarto onde a mãe chorava.

— Não é possível, mãe. Ele tá te traindo na sua cara e você tá deixando?

— Eu amo o seu...

— Isso é doentio — a menina gritou — Você é melhor do que isso e não merece toda essa merda, mãe. Eu... — ela queria gritar, porque aquilo não tinha explicação. Quem seria mais doente? Seu pai ou sua mãe?

— Eu não consigo deixar o seu pai.

— Eu sempre te defendi. Já apanhei pra não ver aquele homem te tocando, mas eu acho que você gosta do jeito que ele te trata.

— Não gosto, mas eu já tô conformada.

— Você tá conformada em não ser feliz? Como você consegue? — ela se descabelou e passou a mão pelo rosto — Se você não tirar aquela mulher da nossa casa, eu vou embora e só volto quando ela estiver fora.

— Filha, não...

— Você não vai defender aquela mulher na minha frente, vai?

— Mas seu pai...

— Manda ele embora também. Você não pode continuar engolindo essas merdas — Zoe se sentia horrível por dizer aquelas coisas à mãe, mas tudo parecia revirado — Tenha amor próprio. AMOR PRÓPRIO — soletrou — Você não pode amar meu pai se você não consegue se amar. Você é linda, tem uma porção de homens bem melhores que meu pai que podiam te fazer feliz, porque você nunca experimentou a felicidade.

— Quando você nasceu, eu senti — a mãe sorriu, mas Zoe não se sentiu melhor.

— Eu sou fruto de um estupro — Zoe chorou — Você ama seu agressor. Você devia ir ao psiquiatra. Isso é Síndrome de Estocolmo, não pode ser.

— E se for? — Virginia se levantou com ódio da filha — Você não pode arrancar o amor que eu sinto pelo seu pai.

— Ele não é mais meu pai — Zoe disse antes de sentir o estalo e o rosto ardendo. Tinha levado um tapa e não podia revidar.

Ela simplesmente saiu. Mais perigosa do que uma bala. Mais furiosa do que um leão faminto. Zoe vivia num ambiente que nenhum ser humano em sã consciência deveria viver.

Pegou o skate velho e foi rapidamente para o apartamento de Ashton. O único lugar que ela se sentia segura.

Assim que abriu a porta e viu o sorriso aconchegante do garoto, suspirou.

— Vá em frente — ele não precisou dizer mais nada, apenas abriu os braços. Ashton gostava de quando ela chorava perto dele.

Se jogando nos braços dele, Zoe se sentiu em casa. Ashton era o lar que ela nunca teve. Ele era o olho do furacão. Tudo era calmo com ele. Tudo era claro.

Ele tinha paciência com ela e por mais que ela se sentisse fraca, ela sabia que podia chorar com ele. Ela confiava muito nele e ele sabia disso. Ashton nunca seria capaz de magoá-la. Faria QUALQUER coisa pra vê-la feliz.

— Você pode ficar aqui, se quiser — ele disse quando ela terminou de explicar a situação.

— Eu adoro ficar com você, Ash, mas eu queria ter minha casa. Eu só queria ter uma vida normal, uma família normal. Tem horas que eu sinto que minha família vai acabar em uma tragédia.

— Okay, se acalma. Vai ser só uma noite. Eu tinha um quarto de hóspedes e eu preferi fazer um estúdio, mas eu posso dormir no sofá.

— Já que eu vou dormir aqui, dorme comigo? — ela perguntou com certa inocência.

— Durmo — ele falou mais baixo e sorriu.

Na hora de dormir, eles se admiraram por algum tempo. A luz era pouca, só a do abajur, mas eles enxergavam tanta luz um no outro.

— Eu sinto que é cedo e eu me acho muito estranho dizer isso, mas eu... gosto tanto de você — Ashton escondeu um parte da verdade.

— Você ia dizer que me ama, né? — Zoe não tinha vergonha mesmo.

— Achei que era cedo demais, mas, sim, eu te amo sem nem ter te beijado, Zoe — ele riu se sentindo um pouco patético. Ashton era um garoto das noites. Tinha tudo e todas que queria. Pra ele, era uma sensação completamente nova se entregar de forma tão rápida e inconsequente como estava acontecendo, mas era algo que ele não podia mudar.

— Eu também te amo, Ashton — ela sorriu e se aproximou pra beijá-lo.

Não vou descrever o beijo, porque foi um beijo. Não tinha nada demais. Era apenas um beijo, mas os sentimentos ali eram muitos. Zoe estava fazendo tudo ao contrário. Ela nunca achou que fosse se render tão facilmente à um ser da mesma espécie que seu pai.

Ashton era um pouco idiota. Ele nunca pensou em amar alguém e, como já foi dito, ele não é o tipo que troca uma noite de balada por uma noite de carícias, mas era exatamente o que ele estava fazendo. Em uma sexta, à noite, ele desmarcou todos os compromissos que tinha com os amigos pra ouvir as lamentações de Zoe.

Pareciam um casal maduro, de muitos anos. Terminaram o beijo e não precisaram fazer mais nada. Os corpos já se abraçavam pra dormir e não ficaram nervosos ou com medo de roncar perto do outro ou qualquer coisa banal. Apenas encostaram os lábios rapidamente mais uma vez e dormiram. Já se pertenciam há muito tempo.

Nunca acreditei em amor cego como o daqueles dois. Aquilo, ao meu ver, é impossível, mas aquela história de nascer em função do outro era o que parecia acontecer ali. Quando Ashton nasceu, ainda faltavam alguns anos pra ela vir ao mundo, mas ele já era dela.

Eram namorados? Não. Eram ficantes? Não.

Eram amantes.

Os dias foram se passando e eles fizeram questão de não rotular aquilo, até porque ninguém seria capaz de fazer isso. Ashton e Zoe nunca chegaram a brigar. Discutiam, às vezes, por não concordarem em tudo, mas uma briga real, não. Talvez com o tempo, o relacionamento perfeito se desmanchasse em uma dessas brigas geridas por orgulho, mas, na real, eles não tiveram tempo.

🌹Daddy Issues🌹 | AFIWhere stories live. Discover now