Parte 1 - Natal

76 6 7
                                    


Fazia setenta e nove graus em São Paulo quando Sebastian desceu da van no aeroporto internacional – que nem mesmo em São Paulo ficava, havia escutado. Era como se todo o calor da turnê da América do Sul naquele mês de dezembro só começasse a incomodá-lo agora, quando a missão estava cumprida e só o que queria era voltar para casa. Era véspera de Natal e todos os planos estavam feitos. Chegaria ainda à noite e faria o almoço do dia vinte e cinco com a família em Nova York. Ficaria por uma semana e depois voltaria para Los Angeles. Teria mais uma longa semana de férias e entraria em estúdio para gravar seu segundo álbum, depois de ter corrido por todos os países que haviam tido interesse em seus shows ao longo do último ano.

Estava a caminho do check-in quando escutou gritos. Cessou os passos e olhou ao redor para procurá-los; todos aqueles adolescentes que vinha encontrando pelos últimos dias. Não tinha comparação com os outros continentes, nem mesmo com os países ao redor. Os fãs brasileiros eram barulhentos de modo que poderia tê-lo incomodado se não estivesse tão encantado com o calor com que havia sido recebido – e agora não estava se referindo apenas ao verão do hemisfério sul.

Não costumava andar com seguranças por aí, então foram os produtores da gravadora brasileira que começaram a fazer um cordão ao seu redor, antes mesmo que ele tivesse entendido o que estava acontecendo. Sem que pudesse dizer que estava tudo bem, sentiu-se cercado por braços e vozes masculinas e femininas de sua equipe, que diziam coisas em um português alto e claro, até mesmo para ele que não falava a língua local. Era um "se acalmem" muito enfático, ou não deixariam que se aproximassem dele.

Viu um primeiro encarte de CD ser esticado em sua direção e não soube por que não havia se preparado para isso. Por todos os lugares que passava havia fãs pedindo fotos e autógrafos. Precisou tirar a mochila das costas, alheio à gritaria que ocorria ao seu redor, e, quando conseguiu pegar a caneta permanente no bolso de fora, o livreto que havia visto estava acompanhado por outra meia dúzia. Tentou autografar um primeiro, mas desistiu quando quase não conseguiu devolvê-lo para a mão correta, enquanto outras tantas tentavam agarrar a sua enquanto se aproximava da barreira da produção. Só então notou que havia um braço em seu peito, o empurrando de volta para dentro do círculo, cujo dono lhe falava também em um inglês cristalino: "Fica aí".

Sebastian teria colocado as mãos na cintura em qualquer outro momento e batido o pé no chão. "E quem é você mesmo pra mandar em mim?", teria perguntado com a pouca paciência que tinha para com os seguranças que se metiam entre ele e seus fãs. Mas estava cansado demais para discutir, ainda mais no meio de tanta gente com suas câmeras de celular apontadas em sua cara. Não era do tipo que brigava com a produção, muito menos do tipo que tinha vontade de fazer isso em público.

Afastou-se do homem e lhe deu as costas quando o viu fazer o mesmo. Então escutou uma voz no meio das outras. Parecia vir numa frequência diferente, um timbre que fazia caminho por entre os gritos e conseguia se sobressair no meio da gritaria, em um tom muito abaixo dela.

— Sebastian — o chamado encontrou seus ouvidos pela segunda vez. E quando se virou para o lado esquerdo, teve certeza de quem o havia pronunciado. Uma garota pequena, que vestia sua camiseta e tinha um encarte na mão, estava muito calma em meio à multidão.

Sentiu-se seguro para se aproximar. Inclinou-se ainda afastado da barreira de braços e perguntou em uma fala lenta; os olhos dela presos em seus lábios, como se isso fosse ajudá-la a entender o que estava dizendo.

— Você fala inglês?

Ela assentiu e o olhou nos olhos, depois voltou para sua boca quando voltou a falar.

— Diz pra eles que falo com todo mundo se pararem de gritar.

Havia outras pessoas se inclinando por cima dela para escutar o que dizia. Um pequeno grupo silencioso em meio ao caos. Mas imaginou que havia dado muito errado quando esse mesmo grupo se virou de costas para ele e começou a gritar para a multidão. Dado por vencido, suspirou e esperou o momento em que finalmente o tirariam de lá do meio e o levariam para a sala VIP de alguma companhia aérea.

Sake - Especial de fim de anoTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon