Parte 2 - Ano-Novo

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O restante da semana não havia saído muito dos planos. Sebastian dormira quase todos os dias até após o meio-dia, mas não como quando estava com o horário invertido porque ele e Jake não tinham nada para fazer e decidiam trocar o dia pela noite. Costumava se deitar às dez para um filme com o irmão em seu quarto e acordava no dia seguinte após o almoço, sem saber o que tinha acontecido. Seu estômago estava ruim, o que atribuiu às refeições muito variadas de diferentes culturas no último ano, e vinha comendo menos do que o usual.

Era dia primeiro quando se despediu de Shaun com um abraço forte e a promessa de que voltaria para casa em seguida da gravação do álbum. Ficaria por mais bastante tempo antes de entrar em turnê e também pediria para fazer mais shows em Nova York. Shaun tentaria convencer os pais a passarem novamente o Dia de São Valentim e aniversário de Seb em Los Angeles, já que em fevereiro ainda não deveria estar em turnê. E o bando de planos em família que o irmão despejou sobre ele o fez sentir ainda mais falta de casa, porque uma semana de cama constante não havia servido para nada.

Estava no aeroporto quando lembrou que ainda não havia ligado para Aaron. Com a mala de bordo dando apoio para as pernas, à espera do embarque, torceu para que o amigo atendesse. A caída direta na caixa postal o fez rir pelo nariz. Conseguia enxergá-lo digerindo todo o álcool da virada, com a cara enfiada num travesseiro babado, em um dos quartinhos apertados do apartamento que costumava dividir com ele e Julian – e do qual fora convidado a se retirar com muito carinho, quando o portão de saída do prédio muito simples, sem porteiro ou segurança, havia sido rodeado por fãs de toda a parte.

Então ligou para Melanie. Melanie Ritter. Escutou o que deveria ser uma dezena de toques antes de um áudio ruidoso adentrar seus ouvidos.

— Feliz ano novo! — ela gritava quando finalmente atendeu.

Sebastian arriscou um riso baixo e se afundou no banco, fazendo as rodinhas de sua mala deslizarem mais para frente, a fim de sustentar suas pernas em uma posição despojada. A dor no corpo e o cansaço que sentia deviam ter aguardado o final da turnê para virem de uma só vez.

— Feliz ano novo, Mel. Desculpa não ter ligado no Natal.

— Tudo bem. Você ficou preso em um aeroporto, né? Eu tava acompanhando.

Mais um riso. Era como se o mundo todo soubesse o que estava acontecendo com ele. E provavelmente era assim com todas as outras pessoas que tinham amigos em redes sociais, com a diferença de que havia deletado seu perfil pessoal no Facebook muito tempo atrás, o que fazia com que sua página de artista fosse o único modo de seus próprios amigos descobrirem sobre ele. Junto com outras milhares de pessoas. E essa era a questão que o deixava confuso na maior parte do tempo.

— Fiquei, mas não é a minha desculpa. Eu só sinto muito, não sei o que tá acontecendo comigo.

— Você tá cansado — ela sugeriu, e ele quis sorrir, mas ficou olhando para o teto enquanto concordava sem se manifestar. — Dá pra ouvir pela sua voz. — Então um gemido baixo, alguns sussurros, um som alto como um tapa, e ela continuou enquanto Sebastian estreitava os olhos: — Onde você tá?

Ele demorou um segundo antes de responder. Algo no que havia escutado soara familiar demais. Fechou os olhos e agora, sim, soprou um riso pelo nariz.

— Oi, Jake — arriscou baixo. Houve um longo silêncio do outro lado da linha, o que o fez sorrir um pouco mais. Escutou um gaguejar leve, depois a resposta.

— Oi. Feliz ano novo.

— Feliz ano novo. Mel, você pode tirar do viva-voz, por favor?

— Ah, qual é! — o homem resmungou do lado de lá.

Sake - Especial de fim de anoWo Geschichten leben. Entdecke jetzt