“Pressão é a força exercida sobre a matéria”, leu ele. E xingou. Claro, já estava cansado de estudar. Preferia que o mundo explodisse e todas as pessoas nele queimassem do que ter de continuar a estudar ou ter que estudar ainda mais logo depois de terminar de estudar tudo que tinha que estudar.
Talvez ele só precisasse de um ar. Pensando nisso, levantou-se da cadeira desconfortável, apagou o abajur de luz fraca, alongou-se, estalou a coluna e saiu do quarto.
A luz cegava. Que luz forte o corredor tinha... Seus olhos queimaram como azeitonas fritadas a óleo. Logo colocou o antebraço na frente, escondendo-se de tanta claridade e luminosidade. E pôs-se a fugir dali.
— Filho! — sua mãe gritou da cozinha. — Venha comer!
Coincidências assim não são nada como erros de planejamento divinos, apenas coincidências, como o próprio nome diz.
Viu-se à mesa. O prato feito e nenhuma fome. Comeu algum pouco e revirou a comida, distraído, sem vontade de comer.
“Para quê viver e ser feliz?”, pensava, deprimido. “Por que apenas não se importar, ser de qualquer jeito e justamente não se importar com nada, para de fato ser feliz?”
Levantou-se e seguiu para as escadas.
Seus pais, ainda à mesa, dizendo alguma coisa, sem voz, repararam que quanto mais o menino subia, mais ele diminuía. E não era nenhuma lei da física ótica. O garoto realmente parecia diminuir, em tamanho, em força, em audição, atenção, em até mesmo imaginação. Mais tarde ele gritaria alguma coisa, mas ninguém escutaria, o que provaria que também haveria diminuído em voz e vontade. Até não ser mais ninguém. Apenas mais alguém.
Ali.
