Passion fruit

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NOW

- Eu nunca precisei de um celular antes, por que você me fez comprar um agora? - Donna tentava se entender com o novo iPhone que Sam a ajudara a comprar, o que fez a Apple, na Quinta Avenida, ser o primeiro ponto de parada do casal depois de se instalarem no hotel.

- Porque a sua filha está a meio mundo de distância, você está longe dos seus negócios e, pelo amor de Deus, Donna, ninguém mais usa e-mail como forma de comunicação.

- Hm, sei... - Ela ponderava que locais clicar e o que cada coisa faria. Tentava entender o porquê de tantas opções se ela só precisava fazer ligações.

- Tudo bem, vamos te deixar de bom humor. - Sam pegou o celular e abriu a câmera com alguns cliques. Viu Donna abrir um sorriso pela tela e bateu algumas fotos da linda mulher. - Lembra de quando fiz isso no barco? - Sam a fotografara junto do céu e do mar, com o vento lhe bagunçando o cabelo e a luz do sol lhe iluminando ainda mais.

- Claro, como eu poderia esquecer? - Donna subiu e desceu os ombros. Sam suspirou como se lembrasse de algo bom.

- Eu ainda tenho aquelas fotos reveladas. - Como um segredo, sussurrou travesso.

- Sério? Morando com Lorraine e guardando minhas fotos... faz todo sentido. - Um ar ciumento tomou conta da loura, mesmo que fizesse a maior força para esconder, e ela acabou dando as costas para ele. Sam gargalhou em seu ouvido quando a alcançou com um abraço por trás.

- Eu as guardei junto com as minhas lembranças da Grécia, quando nos divorciamos e eu mudei para o meu próprio apartamento, pendurei na parede da sala. - Donna escondeu o rosto nas mãos e, desvencilhando-se dos braços dele, retomou o caminho pela Quinta Avenida. Sam não tirava os olhos dela ao acompanhá-la.

- Aquilo que você disse na ilha. É realmente verdade ou você só estava tentando causar uma impressão? - Declarou ela depois de alguns minutos em silêncio.

- Qual parte? - Donna parou de andar para responder e engoliu em seco. Uma expressão séria assustou-o.

- Você me procurou de novo naquele verão?

- Claro que sim! Eu estava tão apaixonado por você, Donna. E eu sabia que você também por mim. - A profundeza dos olhos azuis se conectaram. Donna pôde realmente ver o quanto aquilo doía nele.

- Como você poderia não saber? Eu te aconselhei a mudar para uma ilha grega apenas para que pudéssemos ficar juntos. - Culpou-se em voz alta revirando os olhos e cruzando os braços.

- E eu estava tão vidrado na maneira com que você vivia a vida que simplesmente joguei tudo para o alto.

- Mas você não ligou, não mandou nenhuma carta. - Ela deu de ombros.

- Eu não tinha ideia de quão sério era com o cara do barco. Digo, Bill. - Sam passou uma das mãos pelo rosto deixando a urgência que sentia de conversar com ela para esclarecer tudo, transparecer.

- Eu amava você, Sam. Eu só estava irritada e de coração partido.

- Me desculpe. - Ele disse pousando as mãos nos braços dela, puxando-a para perto. - Mil vezes me desculpe. Mesmo. - Donna piscou lentamente. Já era suficiente para um único dia.

- Sabe... - E Sam compreendia.

- O quê?

- Depois que você foi embora e Bill foi embora, Rosie e Tanya me levaram para a ilha do lado de Kalokairi. Aquela onde fizemos compras e tomamos sorvete juntos. Lembro que fiquei devastada o dia todo, afogando minhas lágrimas em cerveja. - Ela sorriu mudando o tom da conversa.

- Bom, ao menos foi a ilha em que eu descobri que você era o amor da minha vida.

- Não, não foi. - Donna riu sem graça. Ela jamais se acostumaria em ter Sam ali, em carne viva, sem ser uma ilusão traiçoeira? E ainda dizendo coisas lindas que a faziam querer viver muitos e muitos anos porque finalmente sentia seu "eu" transbordar.

- Claro que sim! Você não se lembra?

- Eu deveria?

THEN

- Ai, desculpa! - Devido ao calor escaldante que o verão proporcionava à Grécia, o sorvete que Donna tomava derreteu facilmente e, um segundo de descuido resultou em um pingo no desenho que Sam rabiscava num guardanapo. Ela tentou socorrer, mas Sam sorriu.

- Tudo bem. Na verdade pingou bem no seu cabelo.

- Você está me desenhando? - Ela tombou a cabeça na tentativa de entender o rascunho.

- Bom, é a coisa mais bonita que os meus olhos conseguem ver de qualquer forma. - Ele disse isso pingando algumas gotículas de água no desenho e espalhando a cor do sorvete pelo cabelo.

- É sim, aham. - O quão irônica ela soou fez com que Sam risse.

- Anyway, quem pede maracujá como sabor de sorvete?

- Eu.

- A vida não é amarga o suficiente? - Perguntou ao juntar as sobrancelhas.

- A minha vida não é nada amarga, querido. - Rebateu ela lambendo um pouco de sorvete. - A não ser pela minha mãe.

- Ela quem te ensinou a ser independente assim? - Sam não mais desenhava, sua atenção estava 100% fixa na mulher a sua frente.

- Na verdade, a falta de afeto dela sim.

- Ouch.

- Como eu já falei, não é uma história triste. Estou bem. - Donna evitava olhar em seus olhos naquele momento, o que fez com que Sam imaginasse que ela se sentia mais triste com aquilo do que aparentava. Entre muitas anotações mentais que fazia sobre Donna, adicionou mais uma: evitar o assunto mãe.

- Isso que fez com que você viesse parar aqui? - Talvez nunca na vida Sam tivesse conhecido alguém por quem nutrisse tanto interesse. Donna Sheridan era misteriosa, divertida, mas, ao mesmo tempo, um livro tão aberto que dava gosto de folhear e ler e reler. Possivelmente sua história favorita.

- Well, ela me enxotou para a Inglaterra para estudar quando comecei a exigir atenção dela como mãe. Eu arrumei um emprego lá. Alguns, na verdade. E fui juntando dinheiro com todos os bicos que fazia. Quando eu me toquei que tinha a quantia suficiente para me virar sozinha, decidi conhecer Paris antes de sair da Europa para um lugar mais longe. Lá, conheci muitas pessoas que me convenceram a conhecer um paraíso chamado Kalokairi. Foi amor à primeira vista. - Suas palavras soavam como poesia e o jeito que a brisa litorânea levantava os fios loiros era impressionante. Sam a olhava e não conseguia pensar em nada além de elogios, e sobre beijá-la e sobre fazê-la rir...

- Simples assim. Você viajou para onde queria. Sozinha. - Definitivamente estava maravilhado. E apaixonado.

- Eu amo pessoas, Sam, mas a vida acontece enquanto você faz outros planos.

NOW

- E quando você me disse aquilo, foi como se eu finalmente tivesse acordado de um sonho horrível porque antes daquele momento minha vida estava toda premeditada. Eu gostava de arquitetura, mas fazia direito. Estava noivo de uma amiga da família, porque eles eram ricos, ela era bonita, agradável, mas... aqueles eram todos... planos. Nada daquilo era minha vida. - Certa incredulidade saía nas expressões de Sam e Donna queria tomá-lo nos braços. Nada daquilo importava mais.

- E aí você percebeu que eu era o amor da sua vida? - O sorriso em seu rosto era irresistível.

- Não! Eu soube que você era o amor da minha vida quando você pediu sorvete de maracujá.

- O quê? - Donna sorriu pela simplicidade dele.

- Eu não sei porquê, não pergunte. Eu simplesmente... soube. Quando você andou de volta para a mesa que estávamos sentados, tomando aquele sabor horrível de sorvete, eu soube que você era a mulher mais incrível que eu já tinha conhecido.

Now and thenWhere stories live. Discover now