Capítulo 3.

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— Você tem certeza de que estamos no lugar certo? — Lola perguntou, assustada. Estava escuro por toda a universidade e não havia uma única alma caminhando por ali. Eu imaginava que o motivo de não haver festa era porque todos estariam na de Rafael.

— É claro que tenho — Gerard disse, impaciente. Nós o seguíamos até o bloco em que ele estudava. Eu nunca havia passado por aquela parte, sendo que eu estudava em um prédio mais afastado. O fato de o lugar ser centenário trazia um ar macabro à situação. Ver todas as construções antigas e a ideia de que várias pessoas já haviam passado por ali me trazia calafrios.

— E se o porão não for lá? — Lola ecoou. Era a primeira vez que eu a via usando seu celular para iluminar seu caminho, em vez de mandar mensagens para sei lá quem.

— É claro que é lá. Esse lugar é antigo. É o melhor dos lugares para terem construído um porão e, bem, se querem a verdade, nós estamos em cima do mesmo. — Gerard disse, fazendo-me arregalar os olhos.

— Como assim? — eu pedi, murmurando.

— O lugar é enorme. Vocês vão adorar — foi tudo o que ele respondeu. Eu estava com meu coração acelerado, segurando firmemente no braço de Gerard. Eu não gostava de andar no escuro, sem saber se alguém poderia estar nos observando.

Gerard nos guiou até o prédio antigo, fazendo-nos andar pelo corredor térreo até o final. Passávamos pelas portas das salas, trancadas, a única iluminação vindo dos postes que ficavam nos pátios da universidade. A última porta — a que procurávamos — estava trancada com um cadeado. O mesmo não possuía espaço para encaixar uma chave; era feito com pequenos números giratórios. Somente quem tivesse a senha poderia destravá-los e, assim, conseguiria entrar na porta. Gerard o pegou, mexeu nos números e, em alguns segundos, liberou nossa passagem.

— Mas, espera aí. Se nós três vamos entrar, quem vai travar o cadeado de novo? — Lola pediu.

No mesmo instante, um homem saiu da penumbra, de trás de algumas plantas que havia por ali. Sem dizer palavra alguma, nós tínhamos entendido. Entramos no pequeno cômodo e fechamos a porta. Por ela ter uma parte feita de vidro opaco, pudemos ver — e ouvir — o homem trancando a porta novamente. Em um breve segundo, ele não estava mais ali.

— Certo, e agora? — eu perguntei.

Lola iluminava o lugar. Eu percebia que era uma espécie de despensa, com produtos de limpeza e equipamentos postos em estantes, junto com uma pequena escrivaninha ao centro. Havia, ainda, uma porta ali, que dava para outro lugar. Gerard foi até ela, abrindo-a e dando de cara com um espaço quadrado, sem nada dentro — apenas um alçapão no chão. Era a passagem para o porão.

Gerard abriu a passagem, uma escada se revelando em nossa frente. Não precisávamos mais de iluminação; a luz que vinha do que quer que acontecia ali embaixo revelava nosso caminho. Eu fui a primeira a entrar no cubículo e me apoiar, cuidadosamente, no primeiro degrau da escada apoiada ali. Desci, lentamente, até tocar o chão. Quando o fiz, a música alta preenchia meus ouvidos.

Esperei por Lola e a ajudei, quando estava quase ao final dos degraus. Gerard foi o último, fechando a porta, tanto do cubículo quanto do alçapão atrás de si. Nós o esperamos descer para que nos guiasse para os lugares do porão. Por saber previamente que eu ficaria em uma mesa de jogos de azar, eu havia me preparado especialmente: uma calça skinny preta, bastante colada, uma sapatilha nos pés e uma blusa vermelha, decotada. Se, durante todo o jogo, meus peitos atraíssem o mínimo que fosse de atenção, eu conseguiria analisar o perfil dos jogadores e me preparar para quando eu fosse jogar com eles.

— Estão prontas para a diversão? — Gerard anunciou. Lola o socou no ombro.

— Anda logo com isso — ordenou. Eu segurei um riso e Gerard deu o primeiro passo, passando por uma espécie de cortina de miçangas grossas. Foi como entrar em um mundo totalmente novo, obscuro e promíscuo. Rostos que víamos todos os dias, pela universidade, estavam ali com outras personalidades. Naquele porão, eu podia ser quem eu quisesse, sem medo.

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