Carta ao conhecido e anônimo Tempo

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Caro Tempo,
Sei que não sou alguém de quem esperava uma carta, mas o que posso fazer se esta vontade de escrever apareceu de repente e não pude me conter? Não vou dar nem os cumprimentos iniciais que daria a uma outra pessoa porque não é necessário e nem de relevância para um transcendente do universo, algo atemporal em sua essência e temporal em sua manifestação. Tenho me perguntado a seu respeito: o que é, como funciona, o que seria de nós sem você e o que você seria de si sem nós. Tenho a resposta para a 1ª e a 3ª pergunta, ou pelo menos julgo ter... E é justamente o propósito da carta fazer as outras duas que me surgiram no decorrer da reflexão. O que seria se não uma percepção dos seres racionais cuja inteligência os faz notar a natureza em sua transição natural até que por fim morremos todos, e a partir de então, apenas podemos nos dar ao direito de especular o caráter transitório após a morte. Alguns tem fé e coragem para dizerem como é lá, mas até a seres tão lógicos como nós nos atormentaríamos em tentar ultrapassar esse limite. Mas enfim... Este é tema para outra carta e outro destinatário mais adequado. O que me cabe dizer aqui já ficou claro nas primeiras linhas da minha mensagem, que é justamente trazer os questionamentos que tive ao tentar entender como funciona essa característica da nossa intuição no que diz respeito a você. Afinal, seria interessante pensar na complexidade do tema para tentarmos nos entender melhor, já que estamos imersos nessa dimensão e que pautamos nossas vidas e tudo aquilo que somos, se é que somos alguma coisa relevante de se tomar nota, tendo assim características inatas diretamente relacionadas à essa condição. Vai me dizer que você nunca percebeu como nós, humanos, temos a capacidade de nos desenvolvermos ou destruirmos com a sua mera passagem? Há amigos que com o envelhecimento da relação perdem o afeto sem razão aparente, enquanto outros humanos deixam suas angústias e ódio da mesma forma. Apenas a título de exemplo, já que sabemos que no geral temos os dois em nós e que dependendo da situação ou construímos ou desconstruímos algo. Aqui está o ponto que me levou a fazer a segunda pergunta a seu respeito(como funciona?) já que mesmo sabendo que é uma das dimensões nas quais estamos submetidos, parece ter um efeito proveniente de seu funcionamento que faz com os que podem captar a mudança de tempo sofram diretamente do fardo desta ocorrência. E o evento não deixa de ficar ainda mais interessante já que a ideia vinda da física de que sem isso a mesma ideia de matéria não existiria me faz delirar em hipóteses, mas não sobre a teoria em si, e sim da sua pergunta contraria: o que seriamos de nós sem sua existência? Posso pensar por exemplo que seriamos como animais totalmente desnorteados e que não se dão conta do que acontece em volta, como pensam alguns cientistas a respeito do mundo silvestre: que os habitantes dele não conseguem fazer tal distinção. Poderia ainda ir mais além e supor de que caso realmente exista a matéria, da forma como a definimos, sem você como uma variável, esta seria totalmente aleatória em seu comportamento já que os padrões seriam distorcidos em vários âmbitos. Mas nada disso posso afirmar e assinar embaixo, pois se trata de mera especulação. Já que não viveria o suficiente para descobrir com precisão, resolvi escrever ao responsável disso e ver se consigo alguma resposta ou encaminhamento.
Fico lisonjeado da oportunidade de me corresponder e ansioso por um retorno,Jovem Entusiasta

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