Os Monges e o Mosteiro

356 67 41
                                    

Há acontecimentos por todo lugar, diferentes pessoas com suas próprias dores que podem ter relação ou não ao que conhecemos

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Há acontecimentos por todo lugar, diferentes pessoas com suas próprias dores que podem ter relação ou não ao que conhecemos. De forma paralela, o mosteiro de São Jerônimo agora parecia tão distante do antigo frade repousando no extremo norte do reino como se quase não tivesse existido, como uma velha pintura que apesar de fazer parte de sua coleção, pegava cada vez mais pó e traças com o passar do tempo. A estrutura de pedra e suas torres continuavam inabaláveis, intocadas pelos anos e insciente de tudo o que ocorria ao seu redor. Todavia, quanto aos seus residentes, muito havia mudado desde que Friedrich de Farley havia estado ali.

A cabeça pesava-lhe e latejava tanto que Bernard se perguntava se a poça de sangue maculando o gramado não se tratava de seu cérebro já feito em pedaços pela moléstia. Com as costas arqueadas, um filete de sangue ainda unia por uns instantes sua boca da matéria recém-regurgitada, com calafrios assombrosos percorrendo todo seu corpo, o suor lhe percorria a pele por conta da febre. Cerrou os olhos por alguns instantes, sentindo a morte sussurrar-lhe brevemente na boca do ouvido, avisando que logo também o buscaria.

– Tens certeza que deseja continuar, irmão Bernard? – Aedan indagou preocupado, segurando com firmeza seu braço direito – mas com cuidado o bastante para não pressionar os bubões negros que tanto o feria. Irmão Adrian sustentava o outro braço, os dois sendo quem fazia a maior parte do esforço para mantê-lo em pé, dado toda dor e fraqueza que o abatia.

Bernard ergueu a cabeça, o rosto pálido e de olheiras profundas, os olhos mal mantendo-se abertos, o cabelo castanho normalmente liso estava molhado pelo suor e oleosidade, com a forma de auréola desfeita dado que parara de raspá-lo desde que adoecera. Assentiu com a cabeça, tossindo em seguida mais algumas gotas de vermelho. Os pulmões queimavam por dentro feito uma chaminé. Os dois frades que o ajudava se entreolharam com receio, questionando um ao outro em silêncio se o enfermo realmente conseguiria prosseguir, acabando por continuarem a auxiliá-lo na caminhada mesmo assim. Não havia mais o que ser feito de toda forma.

Aedan e Adrian não estariam trabalhando juntos se não fosse pelo amigo em comum, por mais que a Ordem incentivasse que todos os frades se enxergassem como irmãos isso só se fazia nas aparências. Entre eles se formavam os grupos e as próprias intrigas, mesmo que de forma abafada e silenciosa. Ali os dois freis compartilhavam somente os nomes semelhantes, pois de resto se repeliam pelas diferenças.

Ouvia-se dizer que Adrian era filho de grandes fidalgos, educado com os melhores professores e mestres, tendo se acostumado com o ambiente nobre e todas suas etiquetas, somado a uma fé religiosa além do comum. Quiçá essa fosse a melhor explicação para seu comportamento mesquinho, julgando os outros por qualquer motivo pífio que encontrasse. Para ele quase todos não passavam de pecadores degenerados, ignorantes quanto à verdade e desdenhosos com a ira divina. Estava certo que um dia pagariam por toda perversão daquele mundo, acreditando na condenação eterna para toda criatura que não fosse ele mesmo. Todavia, apesar da personalidade difícil, era inegável o título como um dos mais devotos e dedicados dos frades da abadia, tendo boatos que um dia poderia se tornar abade, onde vez ou outra o próprio já havia admitido almejar o cargo algum dia.

Ode aos desafortunadosWhere stories live. Discover now