63 Dias - É Tudo o que teremos... - L. C. Carneiro

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Capítulo I: Enigmas

Era fim da terceira década do Século XXI. A agitação tomava conta do planeta de vez em quando. Na maioria das vezes, apenas especulações sobre ameaças terroristas, fenômenos naturais ou espaciais que, segundo a mídia, poderia pôr fim à raça humana a qualquer momento. Parecia que a espécie humana ansiava pelo próprio fim após o “Dream Meat” ocorrido quase uma década antes. O enigmático fenômeno que mudara os hábitos alimentares de toda a espécie humana parecia um presságio para algo grande que deveria ocorrer em breve. No entanto, quase 10 anos se passaram e sequer explicações se tinham conseguido para aquele repentino evento. Havia estranho ar de decepção quando as supostas catástrofes apocalípticas não se realizavam. Parecia que mórbida ansiedade pairava sobre a humanidade, fazendo-a desejar sua própria aniquilação.
O mundo, desde a explosão industrial cujo início se dera ainda no século XVIII e a cultura consumista que se instalou desde então, vivia da exploração dos fortes sobre os fracos em todos os setores da vida. Tudo parecia se resumir a lucro. Nunca a usura estivera tão em alta quanto nos últimos 50 anos. A especulação, a serviço de megaempresas e países ricos, fazia seu papel de destruir vidas e povos. Moralmente, o mundo estava mortalmente enfermo e fora de controle.
Ainda no início do Século XXI, algumas nações ainda levavam vantagem financeira sobre o engodo em que se tornara a hipótese do Aquecimento Global Antropogênico tão divulgada nas duas últimas décadas do século XX e primeira década do novo milênio. Após os primeiros anos da década seguinte, ficou patente que tais especulações não passavam de rumores convenientemente plantados na mídia e divulgados insistentemente a fim de promover certos produtos e serviços totalmente inúteis caso não se acreditasse naquela ideia, tanto quanto fora a substituição dos gases CFCs que na década de 1990 eram tidos como os vilões da camada de ozônio por outros supostamente limpos e dezenas de vezes mais caros, obviamente.
Na realidade, as indústrias precisavam faturar, e a única maneira de fazer emplacar novos produtos era incutindo o medo em escala global. Ferramentas eles tinham para isso, como a TV e, a internet já a partir dos primeiros anos do novo milênio.
O lado bom desse terrorismo virtual foi que o mundo investiu em tecnologias de geração de energia limpa e passou a dar mais valor à preservação do meio ambiente, o que representou um ganho real na qualidade de vida de algumas nações emergentes. Por outro lado, grandes empresas arrecadaram fortunas absurdas vendendo a preço de ouro seus novos produtos “verdes” nesses novos mercados consumidores em prol da “salvação” do planeta e da raça humana.
Apesar das especulações maldosas, era evidente que a natureza estava em acentuada transformação. Nada tão extraordinário quando se entende que ela trabalha em ciclos, alguns deles milenares que sequer se tornaram ainda percebidos pelos pobres e efêmeros mortais.
Por via das dúvidas, alguns países ricos haviam investido em pesquisas na área de tecnologia exatamente com o propósito de combater alguma ameaça biológica terrena ou extraterrena que pudesse afetar o modo de vida no planeta.
Nas últimas décadas, algumas espécies de vírus e bactérias super-resistentes haviam dado as caras, mostrando a fragilidade da espécie humana. Não se sabia se tais micro-organismos eram mutações ou se as drogas criadas pelo próprio Homem os tornaram mais eficientes quando em contato com o organismo humano após intenso bombardeio de antibióticos que enfraqueceram gradativamente seu sistema imunológico.
Talvez uma soma de fatores tenha levado os governos a temer um evento de extinção em massa a qualquer momento.
As nações ricas decidiram então unir esforços, compartilhando informações entre seus melhores laboratórios diante de possíveis ameaças de ordem biológica.
Mas eles não estavam preparados para o que viria em meados daquele ano.

***

As máquinas ligaram-se automaticamente. Um sinal sonoro emitia o alerta aos cientistas de que era hora de acordar.
Comandante Karl foi o primeiro a assumir seu posto atento a qualquer alteração nas informações disponíveis nos muitos monitores da central de comando.
Aos poucos os outros membros da expedição começaram a se reunir para se inteirar das novidades. Todos se queixavam de lapsos de memória.
Os quatro homens e a única mulher e líder da equipe pareciam muito bem fisicamente, embora em suas mentes pairassem uma estranha sensação de incerteza. As notícias não eram boas. Era na verdade, uma luta contra o tempo. Mais que nunca, a humanidade parecia à beira do caos.
   
***

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⏰ Last updated: Aug 27, 2014 ⏰

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