Choro do Jardim

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História Repostada, inicialmente postada no SocialSpirit pela conta de Tosunnie.

Como deveria ser deprimente a vida do jardineiro daquela casa, que passou anos se dedicando a deixar o seu jardim esplêndido a quem visse. Escolhendo produtos a dedo, com medo que machucasse suas preciosas plantas e que fossem bons o suficiente para que não deixassem as flores morrerem. Escolhendo o local certo pra por sua placa de "Não pise na grama", com o objetivo de afastar qualquer um que tentasse brutalmente pisotear as folhas.

O jardim tão bem cuidado, sendo destruído por adolescentes tão banais. E que destruíam sem nem perceber, pisando com seus tênis em qualquer lugar sem olhar antes, sentando em flores que, por mais que fossem pequenas, não eram insignificantes. Jovens que acabavam com aquela beleza fazendo algo tão desnecessário como: orar, chorar pelo fim da vida, comemorar que agora alguma alma estava em um "lugar melhor".

Yoongi não se sentia mal por estar pensando nas flores durante um velório. Na realidade, ele achava até mais interessante.

Era difícil conseguir se concentrar naquele momento. Seus pensamentos o levavam para longe, ele pensava que a brisa gelada que batia em seus fios avermelhados podia está sendo mais bem aproveitada em sua cama, ou que ele poderia aprender a cultivar flores. Como estava ao lado do padre, ouvia o discurso ensaiado do homem mais alto do que o normal. E como estava à frente de todos, se bocejasse ou ficasse fazendo caretas de sono entregaria que o estava aborrecido de está ali. Tantas pessoas rezavam e o som do choro estava tão alto, parecia que sua cabeça iria explodir. Observar a majestosidade daquele jardim parecia sua única opção.

Para Yoongi tudo não passava de uma enorme hipocrisia. Eles choravam pela morte de uma menina tão inútil, e destruíam vidas com muito mais importância. Sim, era difícil comparar uma moça saudável de 17 anos com rosas. Mas ao olhar de Yoongi, rosas eram mais bonitas. E o odor delas era mais agradável do que o cheiro de cigarro que Jieun exalava.

Ele se perguntava se o solo ficaria infértil pela quantidade de cera quente que caia das velas no chão. Aquele pequeno detalhe o lembrava muito sobre o assassinato de Jieun, mas não o perturbava. Yoongi havia visto coisa muito pior do que a pele da moça sendo queimada.

E era por esse motivo que ele estava obrigado a ficar sentado naquela cadeira com o olhar de todos sobre si. Ouvindo rezas medíocres daquelas pessoas que Yoongi particularmente não sentia nada além de nojo. Estava fazendo tudo isso porque presenciou Jieun morrer, de uma forma fria e brutal, tudo isso porque ela se recusou uma transa com homens sujo de um bar pobre que os dois frequentavam. O estupro, os abusos, os machucados, tudo foi tão patético. A morte de Jieun era algo que indignava Yoongi. Como ela podia ter deixado tudo sair do controle, ele se perguntava.

A escola - a mesma que proporcionou aquele evento - achou que aquele seria um trauma gigante. Afinal, o rapaz fora amarrado, impossibilitado de poder ajudar sua amiga. E por mais que fosse vergonhoso lembrar-se daquela situação, Yoongi se sentia minimamente agradecido por pelo menos terem contado a verdade. Depois de ouvir frases como "Jieun não teve culpa" e "Ela foi completamente injustiçada", não ficaria surpreso caso divulgassem que ele também havia sido abusado, ou, que o taxassem como herói falando que ele tinha tentado salvá-la.

Se Yoongi pudesse se mexer naquele dia, com certeza não faria nada além de correr pra bem longe.

Yoongi não era nenhum monstro, ele não odiava Jieun ou desejava todo àquele mal a ela. Era apenas sincero consigo mesmo, os dois não passavam de colegas. E mesmo que costumassem a andar juntos durante as noites de sábado, o rapaz não conseguia gostar da garota. Ela representava tudo que ele desprezava. Não foi fácil presenciar sua morte, mas estava sendo fácil superá-la.

O garoto não saberia dizer quando finalmente tudo acabou. Poderia ter passado dez minutos, ou duas horas, era a mesma coisa para ele. O relógio parecia se arrastar junto com aqueles louvores. Na verdade Yoongi já não fazia nada além de olhar para o nada, nem tinha mesmo a certeza se estava acordado. Até ouvir um "amém" que parecia ser o último.

Um silêncio perturbador, que para ele era mais como um alívio, se fez presente. Foi poucos segundos até que começassem a se levantar, finalmente abandonando o jardim. Yoongi se sentiu mais feliz, e imitando os outros, saiu daquela cadeira com um único pensamento de ir embora. Ele não iria acompanhar os colegas de classe no enterro, isso era óbvio. Já estava preparado pra voltar para a casa, quando sentiu alguém o segurando pelo ombro. Virou, nem um pouco disposto, observando o homem que o tocava com uma cara de desgosto.

-Você não vai falar com seus amigos? Eles querem te consolar - o homem, que era o pai de Jieun sorria. Um sorriso irritante, tão cínico quanto o da falecida filha.

-Eles só vão me deixar mais triste do que eu já estou.

-Faça um esforço por eles. Afinal, são seus amigos.

O ruivo fechou os olhos com muita força, e virou de costas, afim de não olhar mais na cara do mais velho. Não teria coragem de desobedecê-lo, não enquanto ainda ficassem de baixo do mesmo teto. Então mesmo que fosse contra, caminhou lentamente até o grupo de jovens, que quando perceberam a presença do rapaz, ao mesmo tempo o abraçaram forte.

"Me soltem seus animais"

-Obrigado por terem vindo - o rapaz dizia desanimado. Odiava ter que falar, mesmo que fosse pouco, com aquelas pessoas.

-Nós te amamos Min, claro que viríamos. - A menina se aproximou o abraçando novamente.

Yoongi sentia seu perfume por conta da proximidade, era o perfume de Jieun. Aquela menina havia roubado dela.

Aquelas palavras chegavam a causar um certo enjoo no ruivo. Ele nem mesmo sabia os nomes deles - e também não era algo que se preocupava em saber. Não se lembrava da ultima vez que havia trocado palavras com qualquer um ali, eles eram mais do que desconhecidos. E ainda tinham coragem de dizer que o amavam. Jieun era como eles, esse era mais um motivo que

Yoongi tinha para não ficar triste pela morte dela.

-É realmente uma benção você ter ficado vivo - dessa vez era um garoto que falava, ele se aproximou, possivelmente com a intenção de repetir o ato da menina. Porém Yoongi deu um passo pra trás, deixando bem claro a todos que não queria receber nenhum abraço.

"Eles deveriam ter enxergado que ao contrário de Jieun, eu seria alguém na vida"

-Você vai com a gente no enterro? - o garoto voltou a falar. De todos que estavam ali, ele se longe parecia o único que realmente se importava.

-Não. - disse rápido, era a primeira resposta que ele havia dado desde que se juntou a eles.

-Por quê?

"Por que eu iria querer ir ao enterro daquela prostituta?"

-Eu não vou conseguir vê seu corpo sendo enterrado. É demais pra mim.

O ruivo abaixou a cabeça, pondo a mão sobre seu rosto. Sua pele que era branquinha, por conta do frio já estava vermelha, não era difícil fingir que começaria a chorar.

Todos que o assistiam, fizeram silêncio. Era doloroso observar alguém sofrer daquela forma, que para eles era verdadeira. Não ousaram falar mais nada, esperaram Yoongi se virar pra ir embora pra fazerem o mesmo. O menino precisava ficar sozinho e todos entendiam isso.

-Ladrões e falsos, que belos amigos você possuía Jieun - Yoongi falou baixinho, apenas pra que ele mesmo ouvisse quando atravessou a porta da casa.

Caminhava calmamente, indo em direção ao quarto da falecida, sem cumprimentar as pessoas em volta. Todos o olhavam, mas naquelas circunstâncias não era algo que o assustasse. Quando finalmente chegou ao quarto, suspirou, relaxando pela primeira vez naquela manhã.

Fechou as portas e se deitou na cama. Puxando uma garrafa de vinho escondida em baixo da mesma. Agora era a hora de se lamentar -de sua forma -pela morte de sua companheira de drinques.

Two-Faced Punishment  • namgiTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon