Capítulo 3: O que a floresta esconde

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Em meio à tantos pensamentos e perguntas, meu coração pulsava forte. Perante o frio daquela noite calada e vazia, sentei-me encostado na velha porta de meu quarto e minha cabeça virou um bolo de fios embaraçados. Não queria mais ir à escola e muito menos continuar naquela droga de casa. "Seria tão simples se eu tivesse uma família completa, ou alguém que ao menos me amasse..." meus pensamentos me matavam aos poucos.

— Você tem a mim, bobinho — Um vulto direcionou-se rapidamente para minha cama. — Sabe, andei tendo umas ideias e acho que elas iriam nos ajudar a passar mais tempo juntos. Você anda muito só e isso seria bem mais divertido se você estiver sozinho, triste e com a minha companhia, não acha?

— Ah... é você... deveria bater na janela. Quase desmaio de um susto — retruquei espantado, ao ver quem estava falando. Era a bela e sorridente, Lauren.

— Como ia dizendo... tem um lugar que quero que a gente vá. Vamos sair um pouco da rotina, docinho! — exclamou ela, olhando para mim com aquele maldito sorriso no rosto.

— Qualquer lugar seria ótimo... — respondi olhando para o chão, entediado.

— É só me acompanhar e sentir a aventura — saiu ela em direção à janela, antes mesmo de terminar sua frase.

— Calma, que lugar é esse? Preciso levar algo? — perguntei, levantando depressa.

— Não, docinho. Não precisa se preocupar — falava ela ao planejar pular pela janela.

Vendo-a saltar sem mais nem menos, logo corri e a segui. Claro que fui cuidadoso e não pulei feito um louco, como ela, mas a cada movimento dado, meus olhos pesavam, e quanto mais eu me segurava para não cair da janela do primeiro andar, mais minha cabeça doía de forma inexplicável. Nunca havia fugido de casa antes... para onde Lauren iria me levar naquela noite fria e escura?

Assim que pus os pés no chão, pude sentir, mesmo calçado, o frio congelar os meus pés. Lauren olhou para mim e deu um sorriso, que me fez sentir confortado. Ela me deixa bem de alguma maneira, e sem pensar no que estava fazendo, a segui, sem questionar.

Passamos do portão, e com o corpo travado ao olhar as árvores cobertas pelo escuro, dei de cara com aquele quintal totalmente vazio e sem vida.

— É bem mais assustador que da janela... — disse com medo, ao pisar na estrada de pedregulhos.

— Não se preocupe, chegaremos logo — me guiava ela, sem olhar para trás.

Quando me dei conta, estávamos entrando na floresta — A maior e mais afastada do caminho de pedras que levava à minha casa. — Estava muito frio e tudo que se via e ouvia eram olhos de corujas a brilharem na escuridão e lobos uivando. Lauren parecia estar bem decidida em relação ao lugar que estávamos indo. Ela andava na frente como uma guia experiente, sempre confiante na trilha formada pelas folhas que caíam no chão.

— Já estamos chegando? Confesso que estou um pouco cansado — Com os olhos arregalados para o escuro, falei parecendo um completo frouxo.

— Aposto que você nunca teve uma experiência dessas hein, mocinho? — supôs ela, olhando para trás enquanto caminhava.

— É... está sendo bem sinistro pra mim — respondi abraçando a mim mesmo com frio. — Olha, isso é meio esquisito, sabe? Se você só existe na minha cabeça, como está me levando à algum lugar?

— É aí que está o erro, Toninho. Eu não existo na sua cabeça... existo na sua presença — Em voz baixa respondeu.

— Como assim? Não pode ser direta? Eu não... — falei, antes sendo interrompido pelo medo. Ela já não estava ali. Tudo que ainda estava em minha frente eram as árvores sombrias daquele lugar. — Lauren! que tipo de brincadeira é essa?! Onde você está? — gritei apavorado, sem resposta.

Dyspertism: A praga dos sentimentosWhere stories live. Discover now