catorze.

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Quando eu saio do banho eu me seco e visto um roupão que estava pendurado na porta

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Quando eu saio do banho eu me seco e visto um roupão que estava pendurado na porta. E então, pela primeira vez hoje, me olho no espelho.

Eu não tive essa coragem quando eu entrei no banheiro, passei direto pelo meu reflexo e não dei nenhuma espiada. Queria pelo menos tomar um banho antes. Eu me sentia destruída, por dentro e por fora, e agora finalmente me sinto limpa. Eu também estava com medo de ser alguém diferente, havia a pequena possibilidade de eu ter trocado de corpo com outra pessoa, ou sei lá. E se fosse mesmo isso eu teria sido burra por ter ignorado um espelho até agora. Mas não é o caso.

Eu continuo sendo eu. Meu cabelo molhado ainda é o mesmo, e meu rosto também continua sendo meu rosto. Ainda sou a Dahlia, mas não me sinto mais a Dahlia de antes. E isso me incomoda ao mesmo tempo que me intriga de uma maneira sufocante. Parece que sempre estive presa por correntes, e agora, pela primeira vez, quero me soltar.

Escovo os dentes, também, pela primeira vez hoje, mas a sensação é que a primeira vez na vida. E antes de sair, me olho no espelho uma última vez. Isso é tão estranho. Ainda tenho o meu corpo e meu nome, mas tudo na minha vida está diferente.

Quando saio do banheiro vejo que estou sozinha e me sento na cama. Volto a observar o quarto com mais calma, já que de manhã foi tudo na base do desespero. Agora estando mais tranquila eu posso notar os detalhes. Reparo, que mesmo sendo chique e não fazer muito meu estilo, há muitas coisas no quarto que combinam comigo, e que com certeza seriam coisas que eu escolheria para decorar um cômodo.

Olho para o grande caderno e só me levanto para pega-lo, então volto pra cama em seguida. Ainda está na capa meu nome com o de Patrick estampado com fotos que eu não lembro de ter tirado.

Receio em abrir, com medo do que posso encontrar dentro dele. Ele pode ser um álbum de fotos, pode ser qualquer coisa sobre o meu casamento. E eu realmente não sei se quero saber, só vai tornar tudo mais real. As coisas que Patrick disse pra mim já foram reais o suficiente.

— Você sabe o que é?

Como sempre lendo meus pensamentos, Patrick aparece na porta e se encosta na parede, como fizera de manhã. Coloco o caderno na cama e abro um sorriso pequeno seguido de uma balançada de cabeça, negando.

— Você queria um caderno onde você pudesse colocar tudo sobre nosso casamento, inclusive todas as ideias e organizações. A maioria das vezes você o preenche junto com o Anthony.

Ele diz e olha para baixo, mexendo em seus dedos. Ele tá usando um pijama, e eu acabo achando isso uma gracinha. Uma calça de tecido fino e uma blusa folgada, e até assim ele fica encantador.

— Você não se lembra mesmo?

Nego mais uma vez e levanto os ombros sem ter o que dizer a ele. Ele parece estar tão cansado quanto eu.

— Você conhece Anthony, não conhece? Pelo jeito que ele disse que você estava na ligação...

— Anthony era como um pai — Patrick se aproxima e se senta ao meu lado, e eu me viro ficando de frente pra ele — Eu e Liz perdemos nossos pais a uns anos atrás, morreram num acidente. Ao contrário dessa vida, meu pai se chamava Sebastian e minha mãe Caroline. Eles não tem nada a ver com Alfonso e Melanie. Quer dizer, eu adorei conhecê-los hoje, mas eu ainda prefiro meus pais de verdade.

A Fonte de Lavonier ✓Where stories live. Discover now