Capítulo OITO

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A casa de Nicko era enorme. Ficava num bairro afastado de Colibre. Onde as pessoas mais ricas moravam. Foram recebidos por um mordomo velho.

--Sr. Arc, não esperava que voltasse tão cedo.

--Mudanças de planos, Kenned.—Nicko disse, entregando as sacolas para ele.—Essa é Petra Door.

--Prazer em conhecê-la, srta. Door.

Petra sorriu tímida. Olhando o interior da casa. As paredes eram ocupadas por alguns quadros, e no teto haviam lustres de cristais. A casa era fresca e arejada. Todo chão era de madeira antiga e em perfeito estado. Nicko a guiou pelos corredores, e foram subindo as escadas.

--Nossa, essa casa é inacreditável. Bem bonita.

--Meu tio tem bom gosto.

--Ele deve ser bem rico.

--Todas as riquezas acumuladas por nós tem apenas um dono, srta. Door.—ele falou, seguindo um extenso corredor pouco iluminado, indo para o último quarto. Abriu a porta e gesticulou para que ela entrasse.

Petra entrou no quarto, e observou tudo. Haviam vários livros, ocupando quase duas paredes. Também havia um sofá de couro, sobre um tapete de camurça escuro. Um abajur ao lado. Em outra parede, um aparelho de som gigante, com centenas de discos.

--Essa sala é bem...

--É o meu quarto.—ele a corrigiu. Petra virou-se, e se chocou com ele.

--Seu quarto?—gaguejou, dando mais uma olhada ao redor.—Mas não tem cama.

Nicko deu um meio sorriso.

--O que quer ouvir?—ele mudou de assunto, indo até uma estante com dezenas de cds,e vinis.

--Ahn, não sou boa nisso.

--Então, eu escolho.—ele mexeu em alguns cds, até pegar um e pôr no aparelho. Uma música um pouco lenta começou a preencher o local.—Oasis.

--Parece bom.

Ele a olhou de forma divertida. E se aproximou dela. Petra prendeu a respiração, quando ele tocou seu rosto, e pegou sua mão.

--Quer dançar comigo?

--O que?!—sua voz mal saiu. Ele levou suas mãos até seu pescoço. E a puxou mais pra si.—O que está fazendo?

--Dançando com você.

--Nunca dancei.

--Pra tudo tem sua primeira vez.—Ele concluiu. Ela assentiu, repousando no peito dele.—Toda garota merece uma dança quando completa dezoito anos. E aquela sua festa não foi exatamente sua.

--Não tenho muitos amigos.

--Hoje é seu dia Petra. Só seu.—ela sorriu, gostando daquilo. Ele começou a cantar em seu ouvido acompanhando a música. Petra fechou os olhos, se deixando levar.

Quando a música acabou, começando a próxima ela abriu os olhos e se afastou.

--Obrigada.—murmurou. Eles se fitaram por um longo tempo. A respiração de Petra estava mais rápida. Sua boca seca. Seu coração acelerado.

De repente um barulho estridente soou, despertando-os. Nicko xingou, e foi na direção do objeto que dava origem aquela barulheira. Era um celular. Ela o ouviu falar apressadamente numa língua que ela não compreendeu, e com a mesma rapidez ele desligou o aparelho, guardando-o no bolso.

--Sinto muito, Petra, mas vou ter que sair.

--Tudo bem, eu vou pra casa.

--Não, não.—ele negou—Me espere. Não vou demorar muito. Kenned lhe trará tudo que quiser até lá.

--Vou ficar bem.

--Não queria ir, Petra. Mas é algo que não posso ignorar. Mas não acabamos, quando eu voltar, ainda será seu dia.

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Estava lendo um livro, quando a porta do quarto foi aberta, e ele apareceu. Petra o fitou, assustada, e se levantou do sofá.

--Oi,Petra.—ele a cumprimentou.

--Oi.

--Nicolai disse que estava aqui, resolvi lhe cumprimentar.—ele explicou—Sou Gremory Findoor.-- ele se apresentou oficialmente e caminhou até ela. Petra olhou em volta na defensiva.—Não precisa ter medo de mim, Petra.

--Você me assustou bastante ontem.

--Sim, me comportei como um calhorda. —ele concordou, sorrindo. Petra tentou ocultar o sorriso, mas foi impossível.—O que faz aqui sozinha?

--Ah, Nicko teve que sair. Eu estava lendo.—ela balançou o livro que segurava.

--Esse livro é bom, mas tenho um melhor.—ele disse, indo até a estante pegando um livro grande e com capa de couro.

--"Portas do paraíso"—ela leu o título—Qual a história?

--Fala sobre um anjo, que é jogado na Terra por Deus sem motivo aparente. E esse anjo procura por algo que o leve de volta ao paraíso.—ele narra.

--Parece ser uma bela história, mesmo que soe um pouco trágica.

--Nem toda história tem um final feliz.—ele contrapôs, com um ar pesado.

--Verdade, mas acredito que são as pessoas que escolhem que final vão ter. Com suas ações e palavras.—ela disse, olhando para o livro compenetrada sem perceber a expressão curiosa de Gremory.

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Nicko caminhou pelo pasto seco e deserto até chegar numa encruzilhada. Pegou uma faca e cortou seu braço. O sangue começou a escorrer e algumas gotas tocaram o chão. O vento começou a soprar forte. E ao erguer os olhos, duas figuras estavam á sua frente.

--Beliel—falou, fazendo uma reverência para um homem alto e magro. Beliel usava um smoking cinza, era muito elegante. Tinha cabelo curto e uma barba rala.—Alastor—disse a contragosto para o segundo homem. Alastor era mais baixo, usava uma camisa preta, e uma calça jeans. Com um blaze por cima. Fumava um charuto.

--Espero ter boas novas, Nicolai.—Beliel disse.

--Não sei por que tenho que me retalhar para chamá-los. Vocês tem meu telefone, não podem simplesmente me poupar disso?—Nicko reclamou, enrolando seu braço com um pedaço de pano.

--Não teria graça vir aqui sem vê-lo sangrar um pouco.—Alastor falou, piscando.—É como dizem por aí: uma boa reputação é fácil, mas preservá-la é uma virtude.—ele riu consigo mesmo. Nicko revirou os olhos.

--Vamos ao que interessa.—Beliel silvou, mal humorado.

--Já estou com a garota.—Nicko anunciou.—Mas o eclipse só ocorrerá daqui há dois meses.

--Isso não é problema—Alastor concluiu.—Nos traga a garota e a guardaremos.

--Não.

--Perdão?—Alastor o olhou incrédulo.

--Ela é minha garantia. Além disso, ela tem amigos, família, uma vida.

--Não por muito tempo.—Beliel o lembrou.

--Deixe-a viver sua vida pelos próximos dois meses.—ele prosseguiu—Até lá, ela estará sob minha proteção.

--Preparando o porco pro abate, Nicolai?—Alastor salientou. Nicko o fuzilou.

--Eu diria que estou poupando-a de passar por algo além do que seja necessário.

Alastor apagou o cigarro e num segundo estava cara a cara com Nicko.

--Quando isso acabar, quero ser aquele que derramará seu sangue e cuspirá no seu cadáver.

--Vou aguardar por esse dia, Alastor.—ele disse sem se abalar—Nesse dia, você verá a morte.

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